HQ retrata a vida de quatro mulheres que abortaram no Brasil

A reportagem em quadrinhos mostra histórias e dados sobre a realidade do aborto no país

15/12/2016 17:11 / Atualizado em 07/05/2020 04:35

“Todo mundo conhece pelo menos uma mulher que abortou”. Esta é a frase que abre a reportagem em quadrinhos “Quatro Marias“, feita pelas jornalistas Helô D’Angelo e Joyce Gomes como trabalho de conclusão de curso da Faculdade Cásper Líbero, em São Paulo (SP).

A HQ conta a história de mulheres anônimas, de classes sociais, idades e contextos diferentes que decidiram interromper a gravidez. Os relatos e os dados sobre a realidade do aborto no Brasil são retratados por meio de quatro histórias em quadrinhos independentes e que se completam.

A ideia para desenvolver a reportagem surgiu no ano passado depois de uma série de manifestações contra um projeto de lei que restringia ainda mais o acesso das mulheres ao aborto legal, à pílula do dia seguinte e ao cuidado de saúde após um estupro.

 
 

“[O aborto] é um assunto muito importante – mas, por ser tabu, ninguém fala dele ou, quando fala, é com medo e estigmatizando a mulher que abortou”, explica Helô D’Angelo.

Já a escolha do formato, em HQ, se deu por alguns motivos simples. De acordo com a jornalista, o primeiro deles foi para proteger a identidade da fonte e, ao mesmo tempo, mostrar um “rosto”, o que ajuda a aproximar os leitores do tema. A segunda razão é o didatismo das histórias em quadrinhos.

Durante o desenvolvimento do projeto, as autoras concluíram que é possível, facilmente, cruzar na rua com alguma mulher que abortou. “Essas mulheres podem ser parte da sua família, do seu círculo de amizades ou conviver com você no trabalho”, ressalta Joyce Gomes.

 
  - Heloisa

A partir do contato com várias mulheres, elas conheceram as histórias que seriam retratadas na plataforma. No entanto, por ser um tema bastante delicado e com uma carga emocional grande, a cautela e a confiança foram pontos muito importantes no processo do trabalho.

“Acreditamos que informar profundamente o tema, não só em uma questão social, mas de saúde pública, seria nosso ponto principal. Em Quatro Marias, além de trazer essa discussão tão importante, nosso intuito foi desmistificar o procedimento [do aborto] e abrir a mente das pessoas através da mente das nossas próprias personagens”, finaliza Gomes.

Confira a reportagem em quadrinhos neste link.

Veja um trecho da história de Maria Julieta:

 
 

 
 
 
 

 
 

Aborto no Brasil

De acordo com o artigo 124 do Código Penal Brasileiro, o aborto é considerado um crime contra a vida. A pena prevista é de um a três anos caso o procedimento tenha sido provocado pela gestante ou com seu consentimento e de três a dez anos caso seja induzido por terceiros sem o consentimento da gestante.

O aborto só não é penalizado em três situações: em caso de estupro, risco de morte para a mãe ou se o feto for diagnosticado com anencefalia, uma doença causada pela má formação do cérebro do feto na gestação.

Segundo a Pesquisa Nacional do Aborto, desenvolvida pela Anis – Instituto de Bioética, as mulheres que abortam são em geral casadas, já têm filhos e declaram seguir uma fé cristã. Além disso, uma em cada cinco mulheres até os 40 anos já abortou no Brasil.

Além disso, uma reportagem da Agência Pública mostrou que, a cada dois dias, uma mulher morre vítima de aborto inseguro no país. São 1 milhão de abortos clandestinos e 250 mil internações por complicações todos os anos.