Ilustrações retratam relação das mulheres com o próprio corpo
O projeto feminista "Outras meninas" busca apoio em financiamento coletivo para ser transformado em livro
A designer e ilustradora Manu Cunhas, de Florianópolis, em Santa Catarina, lançou um projeto no fim de 2014 para abordar a diversidade e o empoderamento feminino. Intitulada “Outras meninas“, a iniciativa reúne depoimentos anônimos de várias mulheres relatando sobre a relação que elas têm com o próprio corpo.
Os textos foram enviados junto com uma foto nua da participante, que serviu de inspiração para a artista criar ilustrações aquareladas. A ideia, que teve início nas redes sociais e já conta com mais de 50 histórias e desenhos publicados, vai virar em um livro por meio de financiamento coletivo. Quer ajudar? Clique aqui e faça a sua contribuição.
Quando o projeto surgiu, era apenas um estudo prático sobre a aquarela e a anatomia real, mas logo se transformou em um grande grupo de apoio feminista. “Sinto que os desenhos e depoimentos fazem as pessoas exercitarem a empatia ao observarem seres de verdade, passando ou não pelos mesmos dilemas que os seus, independente da aparência”, afirma Manu em entrevista ao Catraca Livre.
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Inicialmente, a ilustradora tinha como intuito entender melhor a relação com seu próprio corpo. “Emagrecer, engordar, malhar, fazer dieta. Tudo isso para chegar em algum lugar muito estranho entre começar a gostar de mim e esperar que gostem também”, escreve ela na descrição do Tumbrl.
Desde o começo, a designer queria lançar um livro com as ilustrações ao lado das histórias. Por isso, após a repercussão positiva na internet, ela decidiu fazer uma campanha de financiamento, que termina no dia 5 de maio. Para viabilizar a obra, a meta é atingir R$ 32 mil em arrecadações.
Saiba como ajudar neste link e confira todos os relatos e desenhos do projeto no site. Veja algumas histórias abaixo:
1.”Quando eu fui pedida em casamento a primeira coisa que passou pela minha cabeça foi ‘mas eu estou gorda demais pra casar!’. Foi antes do obvio sim, eu já tinha certeza que queria viver minha vida ao lado dele, mas com certeza a minha confusão mental transpareceu no meu rosto, porque ele ficou arregalado com uma expressão meio ferida ali ajoelhado no meu pé. Logo eu estava feliz e festejando, mas ainda sentia com aquilo me alfinetando os pensamentos felizes, ‘eu realmente estou gorda demais para casar…”
2. “Sempre fiquei naquele meio do nem gorda, nem magra – e isso é terrível, porque não ‘existe’ roupa feita pra nós. Tenho coxa grossa mas não tenho peito, tenho um rosto agradável mas tenho dobras na barriga… A saia no joelho nos achata, e a saia curta deixa as coxas mais grossas. Enfim, ninguém pensou na gente quando criou o ‘padrão de tamanho de roupas’, muito menos o ‘padrão de beleza'”.
3. “Eu sou bastante abordada pela minha aparência peculiar. Sempre gostei de ser diferente, acho que isso é uma coisa meio boba da nossa juventude. No final você só vai encontrar um monte de gente diferente igual a você.Se vestir, se tatuar, enfim, modificar o corpo, faz ele ser um reflexo do que há por dentro, acho isso muito importante”.
4. “Por muito tempo me vi como uma pessoa muito feia. Acho que para compensar esse estigma, buscava ter um corpo bem malhado, o cabelo liso, a maquiagem bem feita, enfim, tudo isso que é um clichê de beleza. Só que tinha uma coisa que eu não conseguia por minhas forças mudar: o nariz. O meu nariz largo, um sinal claro da minha descendência negra, sempre gerou piadas de toda espécie, parecia ser uma coisa impossível ser considerada bonita tendo esse nariz”.
5. “O corpo que mostro aqui é fruto de um amontoado de pressões colhidas e cultivadas ao longo de pouco mais de duas décadas de vida. Mas a história que conto não é exclusivamente sobre este corpo e muito menos sobre as pressões por ele sofridas, conto também um pouco sobre a pessoa responsável pela minha existência”.
6. “Minha história é muito parecida com alguns filmes americanos do anos 90. Sabe aqueles filmes onde tem um grupo de meninas populares, que simplesmente ditam moda dentro do colégio e se você não é igual a elas, você é excluída do grupo e julgada por todos. Ai no filme tem aquela menina, magrinha demais, cabelo volumoso, usa roupas de bichinhos, estudiosa, que fala pouco e que as ‘populares’ odeiam. Essa era eu”.