Jornalista que lança movimento contra o estupro é vítima de ataques digitais

31/03/2014 07:28 / Atualizado em 06/05/2020 15:57

Depois de ler uma pesquisa mostrando que uma parte expressiva da população brasileira culpa as próprias mulheres pelo estupro, a jornalista Nana Queiroz lançou, pela internet, a campanha “Eu Não Mereço Ser Estuprada”.
Não podia imaginar duas coisas: 1) o sucesso, nas redes, de sua ideia; 2) nem que ela seria vítima de um estupro digital, tantos foram os ataques com ofensas e até ameaças.

 
 

Veja seu depoimento:

“Acordei de uma noite mal dormida e perturbada. Adormeci ao som das notificações de meu Facebook e acordei com elas. Desde que começou o protesto online “Eu Não Mereço Ser Estuprada”, nesta sexta, às 20h, recebi incontáveis ofensas. Homens me escreveram dizendo que me estuprariam se me encontrassem na rua, outros, que eu “preciso mesmo é de um negão de 50 cm” ou “uma bela louça para lavar”. Se ainda duvidava um pouco da verdade por trás da pesquisa do Ipea, segundo a qual 65% dos brasileiros acreditam que mulheres que mostram o corpo merecem ser atacadas, hoje acredito nela totalmente. Senti na pele a fúria revelada pela pesquisa.

Em algum momento hoje, depois que conseguir descansar um pouco, vou à Delegacia da Mulher denunciar as ameaças. Pior: vou delatar um sujeito, Cirilo Pinto, que não só confessou publicamente já ter cometido um estupro, mas afirmou que o faria novamente. Está aí o print screen da página dele, para quem duvidar. Espero que ele seja, ao menos, detido por incitar o estupro.

Centenas de perfis falsos foram criados e nosso evento bombardeado com frases machistas, pesquisas preconceituosas e montagens com fotos do deputado federal Jair Bolsonaro (PP-RJ) com dizeres ofensivos. Uma imagem dele ilustrou até um evento criado para promover um estupro coletivo. Caro deputado, pense: o senhor se tornou o ídolo de pessoas que defendem o estupro. Não será a hora de pôr a mão na consciência ou no coração?