Jovem é vítima de agressão após recusar beijar rapaz em bar de MG
A estudante Joana*, de 21 anos, viajou a Poços de Caldas, em Minas Gerais, no último dia 30 de novembro para visitar uma amiga. Na segunda-feira, 1º de dezembro, elas foram a um pub da cidade, onde a jovem afirma ter sido vítima de agressão física após recusar beijar um rapaz. O homem, cuja identidade ainda não foi identificada, teria jogado um copo de vidro em seu rosto e ela levou 17 pontos na região dos olhos.
Joana* preferiu não expor sua identidade e o nome do bar, pois diz ter sofrido ameaças de internautas depois que relatou o caso nas redes sociais. A decisão de contar a história abaixo surgiu como forma de ajudar e conscientizar outras mulheres e não deixar que esse tipo de violência passe impune.
Veja abaixo o depoimento de Joana*:
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Em meio a tantos debates sobre a violências diárias sofridas por mulheres, infelizmente sou mais um dos casos.
No dia 30 de novembro, fui a Poços de Caldas (MG) rever minha amiga e comemorar o final de semestre. No dia seguinte, decidimos ir a um pub, conhecido como o “lugar legal” para frequentar na cidade. Estava vestida com calça preta e uma regata bege.
No bar, um “cara” chegou e me ofereceu uma bebida, que parecia ser vodka com energético. Antes que pudesse aceitar ou não, ele disse no meu ouvido: “Antes de beber, você tem que merecer”. Logo depois, tentou me beijar a força. Saí, mas no meio da confusão, ele havia perdido o copo e, por isso, veio atrás de mim e começou a me enforcar. Assustada, gritei e ele fugiu. Fui para o banheiro me recompor.
Quando saí do banheiro, lá estava o homem de novo. Num acesso de raiva, acabei gritando e indo atrás dele tirar satisfação sobre o ocorrido. Sua resposta não foi discutir comigo, pedir desculpas, nem nada do tipo. Foi jogar no meu rosto o copo da bebida que, nesse momento, ele já havia encontrado.
O copo, que era de vidro, quebrou e se estilhaçou, fazendo diversos cortes no meu rosto, principalmente ao redor do meu olho direito (inclusive, por pouco, não perdi a visão). Naquele momento, em choque, caí no chão ensanguentada e pouco consegui ver o que aconteceu. Lembro apenas do dono do bar pouco “se lixando” para o que havia acontecido, sem prestar qualquer socorro e exigindo apenas que pagássemos a conta e saíssemos de lá.
Quem chamou o SAMU foi a minha amiga. A chegada da ambulância foi uma das últimas coisas que eu lembro no meio daquela confusão, pois acabei desmaiando. Quando me dei por conta, estava na sala da UPA (Unidade de Pronto Atendimento) da cidade.
Lá, aguardei por cerca de duas horas sem que ninguém me atendesse ou ao menos falasse comigo, apesar da unidade estar aparentemente vazia e de eu permanecer sangrando. Depois de duas horas, desesperada, tentei chamar alguém do hospital, mas quem me atendeu foi um homem uniformizado que me mostrou seu taser (arma de choque) e ameaçou usá-lo em mim “caso eu não calasse a boca”.
Impotente, me calei e esperei pelo atendimento, que veio só depois de muito tempo de choro silencioso. E no final, mais uma surpresa: na minha ficha médica constava que eu havia batido com a cabeça, APENAS. Não havia qualquer menção à agressão que eu havia relatado.
Estou agora em casa, com 17 pontos no rosto, sendo acolhida pela família, amigos e namorado. Com o apoio de pessoas próximas, registrei o boletim de ocorrência e estou me recuperando aos poucos.
Resolvi escrever esse texto porque sei que a culpa do que aconteceu não é minha. E tenho esperança que isso chegue até meu agressor e ele saiba que, quando compra uma bebida para alguém, isso não implica em ter poder sobre o corpo dessa pessoa (e isso vale para qualquer um).
#meuamigosecreto não é meu amigo, mas é amigo de alguém.
*O nome foi alterado para proteger a identidade da vítima.
Veja como denunciar a violência contra a mulher
No Brasil há um número específico para receber esse tipo de denúncia, 180, a Central de Atendimento à Mulher. O serviço funciona 24 horas por dia, todos os dias do ano e a ligação é gratuita. Há atendentes capacitados em questões de gênero, políticas públicas para as mulheres, nas orientações sobre o enfrentamento à violência e, principalmente, na forma de receber a denúncia e acolher as mulheres.
O Conselho Nacional de Justiça do Brasil recomenda ainda que as mulheres que sofram algum tipo de violência procurem uma delegacia, de preferência as Delegacias Especializadas de Atendimento à Mulher (DEAM), também chamadas de Delegacias da Mulher. Há também os serviços que funcionam em hospitais e universidades e que oferecem atendimento médico, assistência psicossocial e orientação jurídica.
A mulher que sofreu violência pode ainda procurar ajuda nas Defensorias Públicas e Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher, nos Conselhos Estaduais dos Direitos das Mulheres e nos centros de referência de atendimento a mulheres.
Se for registrar a ocorrência na delegacia, é importante contar tudo em detalhes e levar testemunhas, se houver, ou indicar o nome e endereço delas. Se a mulher achar que a sua vida ou a de seus familiares (filhos, pais etc.) está em risco, ela pode também procurar ajuda em serviços que mantêm casas-abrigo, que são moradias em local secreto onde a mulher e os filhos podem ficar afastados do agressor.