Lula, Irã e uma incrível lição de mídia

É uma extraordinária lição sobre como funcionam os novos meios de comunicação, nascida de um punhado de jovens sem apoio de nenhuma empresa, entidade ou partido. E sem gastar um único centavo. É algo a ser documento pelas faculdades de jornalismo.

Filmada por seu marido, Sérgio Glasberg, a atriz Mika Lins gravou um protesto –usando como paisagem a avenida Paulista– contra a condenação da mulher iraniana (Sakineh Ashtiani), ameaçada de morrer a pedradas, acusada de trair o marido. E aí começaria uma avalanche, sintetizada na coluna de Nelson de Sá, da Folha, em que relata como o caso virou manchete nas edições digitais do Guardian, BBC, CNN e Washington Post, além da imprensa oficial iraniana.

Na segunda-feira passada, um punhado de jovens postou o vídeo na internet e criou um twitter para a campanha “Liga Lula”, reforçando uma campanha internacional – o detalhamento está neste link.

Na quarta-feira, o presidente disse, em entrevista coletiva, que não iria ligar e usou a palavra “avacalhação”. O assunto ganhou ares de escândalo, ainda mais para quem tem uma mulher candidata à Presidência.

Com a campanha traduzida para o inglês, blogueiros de todos os cantos passaram a disseminar com ainda mais com intensidade a campanha, que acabou no twitter da apresentadora Oprah Winfrey.

Lula sentiu que se meteu numa enrascada. No sábado, em comício, ele reviu sua posição, e não só disse que iria ligar para o Irã, como ofereceu asilo à mulher, ganhando as manchetes mundiais.

Fala-se até que, segundo autoridades do Irã, o caso seria resolvido nesta semana, em parte por causa do envolvimento de Lula.

Se a mulher for salva, vamos ver como um punhado de jovens, sem usar um único centavo, manjando as possibilidades das mídias digitais, conseguiu transmitir uma informação em escala planetária –e quem sabe salvar uma vida que já parecia irremediavelmente condenada.