Na cracolândia, dependentes desistem de internação pela demora

Espera por encaminhamento chega a ser de até 10 horas e, com fome, alguns usuários desistem da ajuda

Após querer forçar a internação dos dependentes químicos, a gestão Doria não tem oferecido estrutura e acolhida que supram a demanda daqueles que procuram a internação voluntária na cracolândia, centro da capital.

Segundo reportagem da “Folha de S.Paulo”, os usuários de drogas chegam a esperar até 10 horas sem alimentação.

Na noite de quarta-feira, 21, os usuários deixaram a praça Princesa Isabel e voltaram para a antiga região em que se concentravam.

O Caps Redenção, tenda de atenção psicossocial instalada pela prefeitura para o atendimento, fica a poucos metros desse local o que, junto à demora para serem atendidos, desmotiva o interesse em obter ajuda para largar o vício e, segundo a reportagem, significa uma tentação maior de voltar a consumir a droga.

Usuários que procuram por internação chegam a esperar 10 horas para serem encaminhados
Créditos: Rovena Rosa/Agência Brasil
Usuários que procuram por internação chegam a esperar 10 horas para serem encaminhados

A tenda é parte do programa Redenção, do prefeito João Doria (PSDB), que tem como intuito acabar com a cracolândia.

Nesse espaço móvel só há cadeiras de plástico, e o psiquiatra e enfermeiros ficam em salas. Depois da triagem, os usuários recebem atendimento psiquiátrico e esperam cerca de uma hora até que funcionários da prefeitura achem vagas em psiquiatrias para encaminhá-los.

O problema maior está no transporte usado para levar os dependentes às clínicas. Carros do Samu, que também atendem as emergências de toda a cidade, demoram para chegar e, como os usuários são levados um por vez nas ambulâncias, a espera é ainda maior.

Raphael Rosa, 32, chegou à tenda às 14h45 e às 19h foi procurar comida na cracolândia, conseguiu voltar para a tenda sem consumir a droga e foi levado pelo Samu às 20h.

Já a aposentada Celina de Souza, 69, levou seu neto de 21 anos para o local às 9h. “Ele estava disposto. Mas tudo demorou demais. Às 14h30, ele disse que ia ligar para a irmã do orelhão e explicar minha demora para voltar para casa. Não voltou mais. Levou meu cartão do banco”, contou a senhora para a repórter da “Folha”, Juliana Gragnani.

A reportagem conta, ainda que, quando os dependentes chegam pela manhã ao atendimento móvel, estão convencidos que querem ser internados, mas a demora aliada à abstinência da droga causam a dúvida sobre prosseguir.

Procurada pela reportagem da “Folha”, a gestão Doria não comentou sobre o tempo de espera, apenas informou que houve aumento na procura pela internação voluntária e que no último mês encaminhou 427 pessoas.

Sobre a alimentação no Caps Redenção, a prefeitura disse que são oferecidas sopa e água do outro lado da rua. Quanto ao uso do Samu, a prefeitura disse que segue o protocolo e prioriza o atendimento de acordo com a necessidade.

Leia a reportagem na íntegra.

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