Na Índia, mulheres são ‘punidas’ com humilhação e violência

Apesar da violência e da opressão culturalmente estabelecidas, algumas indianas começam a usar a criatividade para protestar

10/11/2014 17:35 / Atualizado em 06/05/2020 17:40

No norte da índia, uma mulher foi despida, amarrada e carregada em cima de um jumento como forma de punição por um crime que, segundo os moradores locais, ela cometeu.

 
 

Tudo começou quando um homem de 45 anos de idade teria se matado. Três dias depois de seu funeral, sua família foim à polícia e ao conselho da aldeia, que fica no Rajastão, alegando que o home havia sido morto por sua tia.

Logo ao fim do conselho, a cabeça da mulher foi raspada e seu rosto enegrecido com pó de carvão. Depois, suas roupas foram tiradas e ela foi levada ao redor da aldeia em cima de um jumento.

Cultural

Correspondentes na Índia dizem que as mulheres são frequentemente punidas dessa forma, que tem intenção de humilhar as acusadas, na região rural do país – as punições dadas pelos conselhos das aldeias não têm peso legal, mas são amplamente respeitadas nas áreas rurais.

Em outubro, uma mulher do estado de Jharkhand foi despida e exibida nua diante de vários membros da família de seus sogros, que queriam um grande dote por dela.

Em julho, outra mulher de 60 anos foi espancada, despida e amarrada a um poste de energia elétrica em uma aldeia no estado de Orissa depois que a população local a acusou de ser uma bruxa.

Em janeiro de 2012, no estado de Maharashtra, alguns homens de casta superior bateram, despiram e desfilaram com uma mulher de uma casta inferior nua, porque seu filho havia fugido com uma garota da casta superior.

A maioria dos casos de humilhação pública ocorre em aldeias remotas e as vítimas, quase sempre muito pobres para se mudarem, não têm alternativa senão continuar a viver nas comunidades onde elas foram humilhadas.

Resposta

Apesar da opressão culturalmente justificada, algumas mulheres têm utilizado diversos meios para protestar contra diferentes tipos de violência cometida contra elas. Confira abaixo alguns exemplos que já passaram pelo Catraca Livre.

Indiana cria sutiã elétrico para proteger mulheres de estupro

 
 
A repercussão de um estupro coletivo seguido do assassinato de uma jovem estudante em Nova Déli em dezembro de 2012 motivou a criação de um novo – e incomum – sistema de defesa para mulheres: um sutiã elétrico.

Batizado de SHE (Equipamento de Controle da Sociedade, na tradução livre), a peça é capaz de dar choques de 3.800 quilovolts em qualquer um que tente apalpar os seios da mulher. Além da descarga elétrica, o equipamento também é capaz de enviar um SMS para algum parente ou polícia com a localização exata da vítima determinada por GPS.

Vítimas de ataque de ácido posam como modelo para divulgar marca

 
  - © Rahul Saharan / Cover Asia Press
Rupa, 22 anos, é uma das mulheres indianas que teve a sorte de sobreviver a um ataque de ácido. Após seis anos escondendo com um lenço as cicatrizes que ficaram como ‘lembrança’ em seu rosto, a jovem posou como modelo para uma sessão de fotos para divulgar a Rupa Designs, sua própria marca de roupa.

O ensaio realizado pelo fotógrafo indiano Rahul Saharan, incluiu mais cinco garotas que também sofreram ataques de ácido. “Esta sessão de fotos é a minha homenagem a todas as corajosas que passaram por essa tortura horrível”, disse Rupa em entrevista ao jornal The Daily Mail. Das mais de 1500 vítimas desse tipo de agressão no mundo, 80% são mulheres.

Coletivo de humoristas da Índia faz vídeo irônico como protesto contra a culpabilização de vítimas de estupro

Um coletivo de humor de Mumbai chamado “All India Backhod” fez um vídeo irônico como protesto contra os estupros e a culpabilização da vítima. Em dezembro do ano passado, a morte de uma estudante em decorrência de um estupro por vários homens dentro de um ônibus provocou uma onda de protestos no país e foi um dos motivos da iniciativa dos humoristas.