Página no Facebook denuncia discriminação em casa noturna de SP
A página do Facebook ‘Boicote ao Villa Mix’, criada na manhã do último sábado, já reúne aproximadamente nove mil curtidas. Criada por dez estudantes, a comunidade tem como principal objetivo denunciar casos de discriminação racial e agressões físicas em uma das mais famosas casas sertanejas de São Paulo.
Localizada no bairro da Vila Olímpia, zona sul da capital paulistana, o tratamento dos funcionários do Villa Mix aos seus clientes é alvo constante de queixa nas redes sociais e na mídia.
A fanpage reúne relatos dos supostos abusos da casa noturna. Aqueles que sofreram algum tipo de preconceito ou intolerância podem enviar as suas histórias a partir de um e-mail disponibilizado ([email protected]) na página. É um espaço de desabafo, compartilhamento e indignação. Todas as mensagens são postadas anonimamente. Vale ressaltar que estas denúncias não são apenas exclusivas desta casa noturna, mas que ocorrem em diversos locais de entretenimento de São Paulo.
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“Recebemos o tempo todo muitas mensagens de vítimas (ou não) apoiando a página, com relatos e denúncias ao Villa Mix. Várias delas estão sendo postadas por nós”, disse Fernanda L., uma das administradoras do ‘Boicote ao Villa Mix’.
“Nosso objetivo é fazer barulho. Lutar contra essa discriminação opressora. Sabemos que os donos da casa não querem ter seus nomes associados a esse tipo de atitude criminosa, mas enquanto o Villa Mix não se pronunciar e não mudar suas atitudes com os clientes, nós vamos continuar lutando”, explicou Rita M., outra administradora da página.
Na última segunda-feira, as administradoras da comunidade enviaram um documento ao Ministério Público com todas as denúncias da página. “Eles já estão trabalhando para abrir um inquérito. Até quarta-feira [dia 5], já teremos uma resposta concreta”, afirmou Fernanda.
As denúncias variam: são desde vítimas de discriminação racial até crimes que afetariam a honra dos clientes que frequentam a casa noturna. “A casa é preconceituosa e pratica o racismo, a gordofobia e diversas outras discriminações/opressões com seus clientes. Além disso, agridem verbalmente e fisicamente o público”, ressaltou Rita.
Uma ex-funcionária da casa, que pediu para não ter o nome revelado, parece concordar com as administradoras do ‘Boicote ao Villa Mix’.
“Trabalhei lá, mas não curti. Era um nível de preconceito muito grande. Toda as baladas têm isso, mas no Villa [Mix] era demais. Para você ter uma ideia, era difícil que um cliente negro conseguisse fechar uma mesa ou um camarote”, explicou.
A ex-funcionária, que trabalhou nove meses no local, também releva outros tipos de abusos. “A recomendação [dos gerentes da casa] é que se a aparência ou o físico de um dos convidados não estava dentro dos padrões de beleza estabelecidos, os funcionários eram obrigados a inventar uma história. Falávamos ou que a casa já estava lotada, ou que as mesas e camarotes todas estavam ocupados”, disse. “Aquela lista de convidados para verificar o controle do público na entrada é falsa. Ela existe, mas é manipulada na hora para atender ao perfil de clientes procurados pela casa”, completou.
Segundo a ex-funcionária, os trabalhadores da casa eram repreendidos caso desrespeitassem as normas impostas pelos gerentes. “Levamos broncas do supervisor, era bem complicado. Eles alegavam que tínhamos que selecionar o público para a casa não falisse”, relatou.
Em nota da assessoria de imprensa do Villa Mix, a casa noturna negou as supostas denúncias reunidas na página. Leia o documento na íntegra:
O Villa Mix São Paulo informa que está estudando, junto aos seus advogados, a página denominada “Boicote ao Villa Mix”, criada no Facebook, com acusações consideradas difamatórias.
Desde de sua fundação, o Villa Mix preza pela qualidade de sua programação e conforto de seus clientes, trabalhando com nomes na lista e reservas antecipadas. Preocupada com a segurança do público, a casa não ultrapassa sua lotação máxima – o que pode gerar filas na porta e a impossibilidade de entrada de mais pessoas.
Por fim, a casa afirma que é contra qualquer tipo de discriminação e não compactua, de forma alguma, com o que tem sido exposto na página mencionada.
Discriminação é crime
O artigo 140 do Código Penal prevê como crime de injúria – expressão dirigida por alguém a um terceiro que ofende a dignidade da vítima – a ofensa que consista na utilização de elementos referentes à cor, raça, etnia, religião ou origem.
A prática de atos discriminatórios também pode ser punida em outra esfera que não a criminal. A pessoa que pratica ato discriminatório pode ser condenada a pagar por danos, de natureza moral ou não àquele que foi discriminado.
Se você foi vítima de qualquer tipo de preconceito ou discriminação, é muito importante a denúncia. A queixa visa combater a prática desse crime, punir o agente e garantir o direito à igualdade.
Veja como proceder em casos de discriminação ou preconceito:
• Preserve todos os detalhes do caso – horário, data, local e situação. É importante apresentar testemunhas que comprovem a ocorrência do crime;
• Registre o ocorrido em qualquer delegacia de polícia ou, se preferir, em uma delegacia especializada para a obtenção de um boletim de ocorrência.