“Sim” contra a transfobia: Leo Aquila e Chico Campadello anunciam casamento em igreja inclusiva
Casamento questiona tabus e preconceitos no país onde mais se mata pessoas trans no mundo: o Brasil
“Quando vou buscar minha filha na escola, todos os amigos dela me veem como um super-herói”, sem saber, o instrutor de tiro e professor de artes marciais, Chico Campadello, de 43 anos, se tornou um personagem importante dentro da narrativa que envolve a questão da homofobia em todo país. Mais precisamente quando se refere a crimes associados à transfobia, relativos à discriminação de transexuais, transgêneros e travestis.
Noivo da apresentadora Léo Áquila (nome artístico da jornalista Leonora Áquila), ele sobe ao altar ao lado da parceira até junho do ano que vem e, juntos, levam para além dos votos de casamento a certeza do amor como sentimento mútuo: capaz de superar qualquer barreira, seja ela religiosa, social ou política.
A cerimônia que deve acontecer em uma igreja inclusiva da cidade de São Paulo – estimulando a união entre as diversas formas de amor – traz pluralidade ao debate sobre casamento civil igualitário, ainda considerado um tabu em todo país. “As conquistas da população LGBT são inegáveis dos últimos aos pra cá. Cada vez mais, as pessoas precisam aceitar, independente de suas convicções, que todos podem se casar. Precisam aprender e respeitar, porque antes do gênero somos pessoas”, ressaltou o lutador, que há oito meses namora a jornalista e recentemente anunciaram o noivado à família e amigos.
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Questionado sobre a importância do casamento, Chico confessa o espanto com a repercussão da notícia, mas por outro lado compreende a falta de tolerância e respeito perpetuados no incauto preconceito de todo santo dia. E acredita que a cerimônia pode abrir mentes e caminhos, a começar pela própria experiência: “Quando contei a meus amigos que estávamos juntos, alguns questionaram e chegaram até a rejeitar minha opção. Mas no fim, com o tempo e alguma conversa, mostramos que não havia nada demais no amor que sentimos um pelo outro. Hoje somos referência entre os casais mais próximos, exemplo de cumplicidade e dedicação”.
Por um Brasil de paz e respeito
Segundo os dados da pesquisa Trans Murder Monitoring, da ong Transgender Europe (TGEU), 226 pessoas trans foram assassinadas por crime de transfobia nos últimos 12 meses em todo o mundo. De todos, 113 assassinados ocorreram no Brasil. Os números, que não levam em conta as dezenas de casos divulgados em 2015, escancara a face oculta de um comportamento pouco cordial: que em nome da fé ou outros motivos aparentes levam o país à liderança do ranking mundial de assassinatos de pessoas trans.
Em um cenário muitas vezes marcados pelo ódio e incompreensão, o casamento de Chico e Léo não precisa muito para provar que o amor é o melhor antídoto contra a rejeição. “A gente pôde escolher entre um relacionamento discreto ou público: se depender de mim vou escancarar o máximo que puder só para mostrar ao mundo que uma mulher transexual pode ter um relacionamento normal, assim como um casal gay, de lésbicas e o que quiser. Que todos somos referência”, encerrou.