Soldado denuncia novo caso de violência em trote do Exército
Torturado por 18 oficiais, soldado aprovado com as melhores notas abandonou o sonho de se tornar paraquedista militar
Segundo reportagem do jornal O Globo, publicada nesta quinta-feira, 6, um soldado da 27º Brigada de Infantaria Paraquedista denunciou um novo caso de tortura no exército.
Recentemente, o jovem, de família pobre da Zona Norte do Rio de Janeiro, revelou ter desistido do sonho de seguir carreira militar, inspirado pelos passos do tio, capitão da Brigada Paraquedista. O pesadelo teve início após uma sessão de trote aplicada por um grupo de 18 militares, todos de patentes superiores.
Conhecido como “baco”, o sádico batismo se caracteriza por um intenso espancamento onde a vítima é amarrada pelos pés e mãos. Condição que anula qualquer chance de defesa.
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“Solta o cachorro”
Segundo a denúncia, a sessão de tortura durou cerca de dois minutos e teve uso de paus, pedaços de fios e plásticos para aplicação dos golpes.
O espancamento foi encerrado a participação de um novo agressor, anunciado ao grito de “Soltem o cachorro. Soltem o cachorro”. Momento em que um cabo, conhecido no batalhão pelo apelido de “Cachorro Louco”, saltou em direção ao soldado simulando ser um cão e mordendo violentamente suas nádegas, arrancando pedaços.
Com marcas e ferimentos por todo o corpo, em casa, o soldado descobriu um sangramento no pênis. Mais tarde, no Hospital Central do Exército (HCE), ele precisou extrair um dos testículos.
“Fiquei muito machucado. Tive que extrair um testículo e os médicos disseram que o segundo está comprometido e também poderá ser extraído. Não vou mais conseguir saltar ou pular de paraquedas. Além disso, estou sob tratamento psiquiátrico e psicológico para tentar superar o que aconteceu. Eu sonhava em ser militar da Brigada Paraquedista. Me esforcei para passar nos testes. Agora não quero mais. Não tenho mais condições”.
5 denúncias em dois anos
Segundo informações do próprio Exército, entre 2014 e 2016, cerca de cinco ocorrências de maus-tratos, lesão corporal e outros excessos foram denunciados em unidades militares do Rio de Janeiro.
Oito cabos envolvidos na tortura foram afastados
Em nota, o Exército afirmou que o caso foi investigado em um Inquérito Policial Militar (IPM nº 04/2016) instaurado pelo comandante da 27ª Brigada de Infantaria Paraquedista e que gerou o indiciamento de oito cabos envolvidos. “Todos os militares indiciados no referido IPM foram licenciados em 28 de fevereiro de 2017”, diz o texto da nota. A Justiça Militar da União, por outro lado, recebeu a denúncia feita pelo Ministério Público Militar em 14 de março de 2017, o que gerou um processo em curso na 3ª Auditoria da 1ª Circunscrição da Justiça Militar. A audiência de conhecimento está agendada para o próximo dia 10 de maio de 2017. Confira a matéria completa no site do jornal O Globo.