Anitta e a liberdade sexual X Mc Diguinho e a cultura do estupro

Texto escrito por Marcela De Mingo e publicado no Superela

Em parceria com Superela
18/01/2018 10:53

Nesta quarta-feira, dia 17, a maior discussão da internet foi uma música de Mc Diguinho, chamada “Surubinha de Leve“, que, de tão problemática, ganhou o seu próprio texto no Superela (clica aqui para ler). Pois bem, um dos comentários que a gente mais leu em relação a essa questão (e ao próprio texto), é que a gente enalteceu o vídeo de Anitta, “Vai Malandra”, mas estamos maldizendo o tal funk de Diguinho. Ou seja, estamos sendo contraditórias.

E o que isso tem a ver com a cultura do estupro?

É mais simples do que a gente imagina.

Uma letra como a de Mc Diguinho escancara uma ideia que está muito enraizada na nossa história: os homens têm domínio sobre as mulheres, que são vistas puramente como objetos sexuais, a serviço dos prazeres masculinos. Tá, isso ficou bem difícil de entender desse jeito, em palavras tão grandes. No dia a dia isso significa que uma mulher não consegue passar na frente de uma obra, por exemplo, sem levar uma “cantada” (e a gente discutiu bastante isso em outro texto, que você pode clicar aqui para ler).

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O mesmo vale para uma passada de mão na balada. Um cara se acha no direito de tocar no corpo de uma mulher ou tentar beijá-la à força – e isso é considerado normal, afinal, “os homens são assim mesmo“.

O estupro entra, justamente, nessa mentalidade: a partir do momento que o homem acredita que tem direito sobre o corpo da mulher, ele tem certeza que pode fazer coisas com ela à força. Prova disso é a resposta do próprio Diguinho às críticas: “Se a minha música faz apologia ao estupro, prazer, sou o mais novo estuprador”. O comentário foi feito com a desculpa do “viva a putaria”, fazendo pouco caso sobre uma realidade que afeta milhares de mulheres no mundo.

Para trazer a coisa toda um pouco mais para perto, é assim: no Brasil, 135 mulheres são estupradas POR DIA. Os dados são do ano passado, liberados pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, que soma a isso 12 assassinatos de mulheres POR DIA também. Essa é toda a base da violência contra a mulher, o feminicídio e a cultura do estupro.

Ao dizer que é um estuprador e fazer uma música com apologia ao estupro, Mc Diguinho reforça essa cultura, que também tem por base o não consentimento: essas mulheres que são estupradas são obrigadas a fazer algo contra a sua vontade. Ela são forçadas a servir aos desejos masculinos só porque são mulheres.

Onde entra Anitta e a liberdade sexual nessa história?

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