Oito em cada dez bebês com microcefalia nascem de mães negras

12/09/2016 21:10

Um ano depois do surto de vírus da zika, o jornal Folha de S. Paulo fez um levantamento via Lei de Acesso à Informação e descobriu um dado importante:  oito de cada dez bebês nascidos com microcefalia e outras alterações cerebrais ligadas ao vírus da zika são filhos de mulheres negras (pretas e pardas, pela nomenclatura oficial), de acordo com dados do Ministério da Saúde.

Nordeste lidera ranking de casos de microcefalia.
Nordeste lidera ranking de casos de microcefalia.

No Nordeste, região com maior incidência, o percentual mais alto é do Ceará –93,9% das mães de bebês com má-formação ligada ao zika são negras. Pelo Censo 2010 do IBGE, pretos e pardos somam 66,4% da população do Estado. No país, representam pouco mais de metade.

Os referem a 44,2% das 8.703 notificações feitas pelos Estados ao governo federal até 23 de julho –na maioria, o quesito cor/raça não foi preenchido.

A reportagem entrevistou Jurema Werneck, médica negra e militante da ONG Criola, que trabalha para promoção de direitos das mulheres negras. Ela afirmou que a desigualdade racial entre mulheres negras e brancas se reflete também no acesso ao aborto, que, apesar de proibido para casos de microcefalia, é mais seguro e acessível para a classe média, predominantemente branca. “O Estado diz: você não pode abortar. Mas também diz que os seus filhos são problema seu”, disse Werneck, em alusão aos serviços públicos precários no Nordeste voltados a bebês com microcefalia.

A médica também afirmou que existe uma tragédia ambiental por trás da alta proliferação de mosquitos infectados com zika. “A falta de saneamento, de coleta adequada de lixo, de acesso a água encanada ocorrem nas comunidades negras”.

Ela também critica as falhas na compilação e divulgação dos dados. “Quando o governo não diz que as mulheres negras estão padecendo mais, se desresponsabiliza de fazer políticas dirigidas a esse grupo. Faz uma afirmativa genérica e pode continuar dizendo na TV que é preciso matar mosquito, e não cuidar dessas mulheres. Isso é puro racismo.”

Com informações do jornal Folha de S. Paulo