O novo “A Bela e a Fera” da Disney é nostálgico e mais atualizado
26 anos atrás, “A Bela e a Fera” dos diretores Gary Trousdale e Kirk Wise estreou nos cinemas e foi indicado a seis categorias do Oscar, levando duas estatuetas pela trilha sonora. A animação ficou marcada como uma das mais queridas da Disney – o que só elevou as expectativas para o remake live-action dos estúdios.
A novo filme, que estreia no Brasil no dia 16 de março, redesenhou com atores reais várias cenas da versão de 1991. É possível perceber isso logo no início, quando Bela (interpretada por Emma Watson) canta a música “Minha Aldeia” (também conhecida por “Bonjour” ou “Belle”). Na sequência, já fica claro que o diretor Bill Condon realmente procurou ser fiel à animação clássica até no posicionamento de câmera em muitos momentos do filme.
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Além das composições de 1991, o lançamento inclui canções inéditas. E vale destacar que Madame Samovar (Emma Thompson), Zip (Nathan Mack), Horloge (Ian McKellen), Lumière (Ewan McGregor) e os outros objetos animados continuam encantadores, mesmo em uma atualização mais realista. Para os fãs do filme antigo, a parte de “Be Our Guest” acerta na nostalgia e encanta com a sua bela recriação, que leva aquele tempero mágico próprio da Disney.
Há várias novidades também, é claro. Desta vez, entendemos um pouco melhor o passado do casal protagonista. Além disso, a caracterização dos personagens é inspirada na França do século XVIII, período em que o conto original de Gabrielle-Suzanne Barbot de Villeneuve foi publicado. No entanto, as diferenças que mais chamam atenção são as que tocam em discussões bem importantes da atualidade.
Minorias
Fazer um conto de fadas hoje em dia requer modernização; os clássicos da Disney estão sendo cada vez mais discutidos através de filtros críticos. Por isso, a Bela de 2017 é ainda mais independente, e tem uma voz mais forte.
Emma Watson, que é embaixadora da ONU Mulheres, trabalhou com Bill Condon no roteiro do filme para fazer essa mudança. A nova Bela ensina uma garota da sua aldeia a ler (e é repreendida por isso), responde à Fera com mais firmeza e é bem mais direta ao recusar as investidas de Gaston, o verdadeiro vilão da história. Apesar de ser arrogante e machista, ele é amado por todos da aldeia. E é quando a protagonista o recusa que ele, ofendido, mostra o seu lado mais cruel.
My, what a guy, that Gaston ???? #BeOurGuest pic.twitter.com/s64za3iNAr
— Beauty and the Beast (@beourguest) 27 de fevereiro de 2017
Uma grande discussão acerca de “A Bela e a Fera” nos tempos atuais envolve a Síndrome de Estocolmo. Esse é outro motivo pelo qual Emma Watson refletiu bastante antes de aceitar o papel. Em entrevista à Entertainment Weekly, a atriz explicou: “[a síndrome] é quando um prisioneiro assume as características de seu captor e se apaixona por ele. Bela briga e discorda da Fera constantemente. Ela não tem nenhuma das características de alguém com a Síndrome de Estocolmo porque ela mantém sua independência, mantém sua liberdade de pensamento”. Talvez a citação do remake que mais reflita essa fala é quando Bela questiona: “como alguém pode ser feliz sem ser livre?”.
Outra questão importante que foi inserida no filme de Bill Condon foi a da homossexualidade. Assim que foi anunciado que Lefou (Josh Gad), amigo de Gaston, seria um personagem gay, houve campanhas de boicote ao filme. A Rússia até trocou a classificação indicativa para maiores de 16 anos.
Há sinais de que Lefou gosta de Gaston durante todo o longa-metragem, mas duas cenas falam sobre homossexualidade de maneira um pouco mais clara. Uma envolve um armário se abrindo e atirando tecidos coloridos, acompanhada da frase “sejam livres”. Na outra, Lefou dança com um homem – mas o momento durou poucos segundos. “Sutil, mas incrivelmente eficaz”, considerou Gad à imprensa.
Uma nova fase
Aos poucos, a Disney dá sinais de que está se atualizando. Nos últimos anos, a Walt Disney Animation Studios lançou protagonistas mais fortes e independentes, como Elsa (de “Frozen”), Judy Hopps (de “Zootopia”) e Moana. A Walt Disney Pictures se baseou em “A Bela Adormecida” (1959) para fazer “Malévola” (2014), em que o destaque é a relação entre a protagonista e Aurora, e não o romance entre a princesa e o príncipe. Já a Disney Television Animation recentemente teve beijos gay e lésbico pela primeira vez em um dos seus desenhos animados.
O novo a ‘Bela e a Fera’ tem personagens negros (não são principais e nem maioria, mas é uma diferença da animação e de outros filmes da Disney). Os estúdios também escolheram um ator de origem indiana para viver Mogli em 2016 e procuram representatividade árabe para um remake de Aladdin. Afinal, não é de hoje que o cinema ocidental é acusado de contratar atores brancos para fazer personagens que não são brancos.
Os fãs querem todas essas mudanças; há até um movimento que pede que Elsa ganhe uma namorada na sequência de “Frozen”. Como “A Bela e a Fera” apenas deu uma leve pincelada na homossexualidade, é difícil de imaginar a Disney acatando essa ideia tão cedo. Porém, o filme de Bill Condon deu mais um passo em direção à representatividade. E depois da nova versão de Bela, podemos ficar na expectativa para ver uma personagem ainda mais forte (e bem representada por uma atriz de origem chinesa) na futura adaptação live-action de “Mulan” (1998).
- “A Bela e a Fera” estreia nos cinemas no dia 16 de março. Assista abaixo ao trailer do filme: