Meninos também são vítimas do machismo; entenda por quê
Não chorar, não ter comportamento de “mulherzinha”, ser sempre forte: algumas posturas comumente atribuídas aos “homens de verdade”. Posturas que viram cobranças que começam na infância e podem trazer severas consequências na vida adulta. Sim, meninos também são vítimas de preconceitos e estereótipos propagados e reforçados por uma cultura machista.
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“É na infância e adolescência que a saúde mental se desenvolve e são definidos os padrões que vão se manifestar no futuro”, explica Jo Hardy, gerente de serviços para pais da ONG YoungMinds, em entrevista ao HuffPost Reino Unido.
De acordo com a entidade Place2Be, ONG que atua com saúde mental de crianças e adolescentes, o ambiente escolar é um espaço de grande tensão para meninos. Para Fiona Pienaar, diretora de serviços clínicos da Plate2Be, a tensão se deve ao fato de os meninos sentirem que têm a obrigação de cumprir “um papel estereotípico masculino”.
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A organização aponta que é comum que essa pressão leve meninos a apresentar comportamentos inapropriados, ou isolar-se, em um esforço para administrar suas dificuldades.
“Isso significa que os meninos, desde cedo, podem hesitar em demonstrar qualquer sinal de que não estejam dando conta de situações, temendo que isso seja visto como sinal de fraqueza.”, disse. “O conceito de ‘ficar firme e forte’, ‘não chorar’ e ‘dar conta do recado’ frequentemente é associado à masculinidade”.
Simon Howarth, assessor de prevenção de suicídio da ONG beneficente PAPYRUS, que atua no campo da prevenção do suicídio entre crianças e adolescentes, diz que meninos ligam para a organização para buscar ajuda com questões relativas à pressão das provas e as expectativas dos professores e dos pais, sentimentos de isolamento por serem vítimas de bullying, dificuldades com amizades e relacionamentos, questões de sexualidade e gênero e, também, ansiedade, depressão e comportamentos de automutilação.
“Muitos garotos e homens jovens sentem-se pressionados e numa armadilha devido à percepção que têm do chamado ‘macho alfa’, do homem como tendo que ser o gênero mais forte”, disse o assessor. “Infelizmente ainda existe um estigma que dificulta para os homens falarem de seus sentimentos, suas esperanças e seus medos, e isso é algo sentido por homens de todas as idades.”
Para ele, o estigma associado à atitude de que ‘meninos não choram’ ainda é perpetuado e contribui para o número significativo de suicídios de homens de todas as idades.
Na opinião de Howarth, quanto mais cedo na vida o indivíduo desenvolver resiliência, melhor.
“É importantíssimo ajudarmos os garotos, desde muito pequenos, a ficarem à vontade em expressar seus sentimentos e desenvolver sua resiliência mental”, concorda Fiona Pienaar, da ONG Pla2Be. “Meninos e meninas podem ser diferentes e comunicar-se de modos distintos, mas precisamos incentivar os meninos a buscarem apoio quando sentem que precisam, da maneira na qual ficam mais à vontade.”
A seguir, confira algumas dicas dos3 especialistas consultados pelo HuffPost Reino Unido sobre o tema:
Seja o exemplo: “Uma das maneiras mais importantes em que os pais podem ajudar é servindo de exemplos”, sugere Pienaar. “Isso pode ajudar a reduzir o estigma tão frequentemente associado à expressão dos sentimentos.
“Se os meninos puderem ver, desde pequenos, que procurar ajuda quando precisamos dela não é sinal de fraqueza, é mais provável que se sintam à vontade em fazer o mesmo.
“Compartilhar com seus filhos o que você sentiu e o que você fez para lidar com situações estressantes em sua vida pode ser uma ótima maneira de ajudá-los a desenvolver suas próprias estratégias para lidar com dificuldades.”
Incentive a bondade e gentileza: Para Howarth, os pais também devem incentivar seus meninos a serem mais tolerantes com eles próprios nessas situações.
“As crianças frequentemente sentem o peso das expectativas que outros têm a seu respeito. É essencial elogiá-los pelo que fizeram bem, por menor que a coisa possa parecer.
“Incentive-os a enxergar suas próprias qualidades, a reconhecer suas conquistas, a enxergar o que há de bom neles e reconhecer as qualidades que os tornam singulares.
“A resiliência é ganha quando corremos riscos e aprendemos com o que deu certo e o que não deu tão certo, quando aprendemos com a experiência, não com as coisas que alguém nos manda fazer.”
Mantenha um diálogo aberto: “E simplesmente converse com seu filho. Mesmo crianças muito pequenas podem entender sobre sentimentos e comportamento, se você lhe der a oportunidade de falar sobre isso. Sejam sinceros em relação a seus próprios sentimentos, também”, recomenda Hardy.
Ajude-os a encontrar suas maneiras próprias de relaxar: “Ajude-os a encontrar maneiras positivas de relaxar, e ao mesmo tempo ajude-os a ser assertivos, a expressar-se com clareza”, aconselha Howarth.
“Pedir ajuda é algo que pode ser difícil para meninos e rapazes, mas torna-se mais fácil se eles estiverem acostumados a ser assertivos, a falar do que sentem e do que necessitam.”
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Com informações de Huffpost Brasil