Em 1951, José Medeiros realizou o primeiro registro fotográfico de rituais secretos do candomblé
Série de fotos foi publicada com teor sensacionalista na revista "O Cruzeiro", mas venceu o preconceito e tornou-se importante registro etnográfico no livro "Candomblé"
Em 1951, o repórter Arlindo Silva e o fotógrafo José Medeiros registraram a iniciação de iaôs (filhas-de-santo) em um pequeno terreiro na Bahia. A matéria foi publicada na revista “O Cruzeiro” -a mais consagrada da época – e foi o primeiro registro fotográfico de um ritual secreto da religião de matriz africana.
Com o título “As noivas dos deuses sanguinários”, a reportagem teve um teor sensacionalista e pejorativo, causando mal estar entre os praticantes do Candomblé, que era visto como caso de polícia na época.
Porém, o poder e o ineditismo das imagens foram mais fortes do que o preconceito reforçado pela edição da revista.
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Com fotos em preto e branco, em situação radical de luz, entre cabelos raspados, sacrifício animal, dança e pintura, o fotógrafo conseguiu captar toda a devoção das iaôs.
O ensaio foi republicado em 1957 no livro “Candomblé”, dessa vez com 52 fotos contra 38 publicadas na revista. José Medeiros optou por um tom mais objetivo no texto, que evita polêmicas e desmistifica preconceitos, valorizando a tradição e a beleza da religião.
Quase 60 anos depois da publicação das fotos, o candomblé ainda sofre perseguição religiosa. O Catraca Livre acredita que as fotos de José Medeiros ajudam a combater o preconceito.
Bastidores
O fotógrafo teve a ideia da pauta após a publicação da matéria “Léss possédéss de Bahia” (As possuídas da Bahia), da revista Paris Match, da França. José Medeiros acreditava que ela reforçava o preconceito e não mostrava o verdadeiro candomblé, somente os rituais públicos.
Ele teve dificuldades para conseguir autorização dos terreiros tradicionais em Salvador, conseguindo acesso somente a um centro na periferia da cidade, o Mãe Riso da Plataforma.
Além disso, José Medeiros encontrou problemas com o equipamento, pois o cabo de sincronismo do flash quebrou. Em um ambiente escuro, ele utilizou uma técnica manual de exposição, na qual o obturador ficava aberto enquanto o botão estivesse pressionado.
Depois da polêmica, as iaôs não tiveram sua iniciação reconhecida e foram excluídas da religião.
Republicação
O Instituto Moreira Salles republicou o livro com as 52 fotos da primeira edição que os negativos não foram perdidos e outras 13 imagens realizadas entre 1951 e 1957. Veja aqui.
Também existe uma reprodução menor de todas as páginas da publicação original.
Com informações do artigo Candomblé – Imagens do Sagrado, de Fernando de Tacca.
Imagens cedidas pelo Instituto Moreira Salles.