Dinâmica de sala de aula: Explicando privilégio

02/07/2015 17:21 / Atualizado em 06/05/2020 22:35
Por Wagner Brenner

Essa é uma dinâmica para sala de aula, sobre privilégio, oportunidade e mobilização social bastante utilizada em universidades americanas, sem autor definido.

É assim:

01. cada aluno recebe uma folha de papel para amassar e fazer uma bolinha.

 
 

02. o professor coloca o lixo bem na frente da sala, embaixo do quadro negro (nem existe mais quadro negro, mas você entendeu).

 
 

03. ele fala:

“Esse jogo é muito simples. Vocês representam a população de um país qualquer. E todo cidadão neste país tem a chance de crescer na vida e pertencer às classes mais altas”

 
 

“Para subir às classes mais altas, tudo o que você precisa fazer é acertar sua bolinha no lixo, sem se levantar da cadeira.

 
 

04. Imediatamente os alunos do fundo da classe devem protestar (“mas isso não é justo!”).

Os que estão atrás têm diante deles um monte de gente e fica fácil enxergar que os da frente terão muito mais facilidade em acertar suas bolinhas no lixo.

 
 

05. Quando os arremessos são feitos, acontece o esperado: os da frente conseguem acertar mais (mas nem todos) e os de trás acertam menos (mas alguns acertam).

 
 

 

06. O professor conclui:

“Quanto mais perto você está da lata de lixo, maiores são as suas chances de acertar. Isso é um privilégio. Vocês repararam como as reclamações vieram, todas, do fundo da classe?”

 
 

“Isso acontece porque as pessoas que estão aqui na frente não estão enxergando a mesma coisa que as pessoas que estão no fundo”

Elas estão a poucos metros da lata e não enxergam a mesma quantidade de cabeças à sua frente. E por não terem a mesma situação em seu campo visual, tudo o que elas enxergam é o objetivo do jogo…

 
 

…sem se dar conta, pelo menos não ao ponto de se manifestarem, sobre a posição privilegiada em que se encontram (ou sobre a injustiça com os colegas do fundão).

A CONCLUSÃO

“Seu trabalho, como estudantes privilegiados que são – porque têm acesso à educação superior – é TER CONSCIÊNCIA sobre este privilégio. E usar esse privilégio chamado educação para alcançar grandes feitos ao mesmo tempo em que defende os direitos e as oportunidades dos que estão nas fileiras mais atrás de você.”

Particularmente gosto da ideia dos mais privilegiados ajudando a erguer os menos privilegiados, trabalhando em favor deles, para abrir mais espaço nas fileiras da frente.

E NÃO mandando a lata de lixo lá para trás.

Poderia até parecer uma saída justa, mas é a pior solução para todos porque nivela pela média e não pelo topo. Os de baixo sobem menos do que poderiam. Os de cima, baixam. É a chamada mediocrização. Que resulta em mediocridade.

O que me faz pensar no conceito de “inclusão”.

Inclusão, acredito, não é “enfiamento”. Não é trocar de turma. Não é divisão, é soma. É CRIAR mais espaço.

É assar mais pizzas ao invés de cortar as que temos em mais pedaços.

Ou, outra expressão que também gosto:

“Learn, Earn, Return”

É dar o privilégio para mais pessoas, sem tirar o privilégio dos que já tinham. Não é questão compensatória.

Enfim, coisas pra gente pensar sempre. E você aí com a bolinha na mão, o que acha?

Esse post foi publicado originalmente no Update or Die, confira aqui o post original.

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