Projeto conecta pescador a consumidor e mostra procedência do peixe no smartphone

Um consumidor que vai ao mercado já tem a possibilidade de saber a procedência das verduras, frutas e legumes que compra. Isso é bom, já que o processo agrícola, se feito de forma descontrolada, pode ser prejudicial ao meio ambiente e à saúde humana. O problema é que a pesca funciona da mesma forma, mas não é possível saber se um atum foi pescado de modo sustentável ou prejudicial à vida marinha.

Foi esse pensamento que levou à criação do projeto Pesca Mais Sustentável, que pretende criar um sistema para dar transparência às cadeias de produção e comercialização do pescado. Ou seja, deixar claro, para quem vai comprar o peixe, de onde ele vem e quem o pescou – e se isso foi feito de forma regular.

O que é pesca artesanal

“Ainda existe o pensamento de que os recursos do mar são infinitos, mas sabemos que não é assim”, explica Eduardo Camargo, gerente do Programa Marinho da Conservation International do Brasil, ONG criadora do projeto. “É preciso deixar a pescaria e o mercado mais sustentáveis. Temos que retirar o que o ambiente é capaz de repor para que a cadeia se feche e o produto mantenha seu valor de venda.”

A pesca artesanal é a mais comum nas pequenas comunidades. O pescador sai de casa sozinho para pescar de tudo, sazonalmente.

Segundo a ONG, atualmente o Brasil captura mais de 536 mil toneladas de pescado marinho extraído, em grande maioria, de forma não sustentável, comprometendo as espécies e o futuro das comunidades que dependem da pesca.

Eduardo explica que os pescadores artesanais, maioria nessas comunidades, são aqueles que trabalham sozinhos e pescam vários tipos de produtos do mar, alterando sazonalmente. “O problema é que no Brasil a atividade pesqueira não é muito controlada e os pescadores artesanais acabam ou sendo colocados na mesma categoria que pesqueiros maiores ou nem sendo registrados”, diz.

Criar uma rede

Os pescadores têm que participar da rede para que o projeto dê certo. A aproximação é uma das etapas.

A solução proposta pelo projeto é a criação de uma rede de comunicação que atinja aos pescadores e os conecte aos consumidores. Mas o processo não é fácil. “Eles vivem em uma situação delicada”, conta Eduardo. Ele explica que os pescadores são obrigados a vender imediatamente seu produto. “A produção é pequena e o produto não está valorizado, então chegou tem que vender, senão estraga”.

Para isso, a ONG pretende utilizar a rede criada pelas Reservas Extrativistas (Resex) – espaços territoriais destinados à exploração autossustentável e conservação dos recursos naturais renováveis. Os órgãos, de responsabilidade do governo federal, compreendem boa parte das pequenas comunidades pesqueiras do país, onde residem os pescadores que serão atingidos pelo projeto.

Do mar para o smartphone

O objetivo do projeto é que, daqui a dois anos, o sistema esteja disponível para 60 mil famílias de pescadores tradicionais e que possa ser acessado por qualquer brasileiro interessado no consumo consciente de pescados. Basta, quando estiver no mercado, utilizar o smartphone para conferir a procedência.

Um mercado mais sustentável e um aumento da produção e da renda dos pescadores artesanais. Esse é o objetivo do projeto.

Além disso, outras informações poderão ser conferidas, como a sazonalidade do produto, informações turísticas do local onde foi pescado e até receitas. “O consumidor vai chegar no mercado ou no restaurante  e poderá checar como está o estoque do produto, quais as práticas boas, qual o tamanho de rede, etc.”, explica Eduardo. “E não é só peixe, são todos os produtos do mar.”

A tecnologia para isso será desenvolvida pela ONG, que foi uma das vencedoras do Desafio de Impacto Social do Google. A intenção da Conservation International é investir o R$ 1 milhão ganhado pelo Pesca Mais Sustentável não só nos aplicativos, mas no acesso aos pescadores.