Projeto empreendedor gera renda para mães solteiras na periferia

Por Vinícius Lima

Alguém já foi vender produtos da Danone na sua porta? Já? Você sabe quem são essas mulheres? Elas são as “Kiteiras” da Danone.

O projeto Kiteiras é um serviço de renda extra para, em sua maioria, mulheres que são mãe solteiras originárias de regiões periféricas. Através da venda dos kits com os produtos como “Danete, Actívia e Danoninho”, de casa em casa, as revendedoras ganham um dinheiro para completar a renda da casa.

Projeto transformou a realidade de mulheres de diversas regiões do Brasil

“O projeto Kiteiras começou há dois anos em Salvador com a Danone e ficou por muito tempo, apenas com 400 cadastrados. Depois que a Visão Mundial entrou como parceria, esse número foi para 900 rapidinho e hoje estamos há dois meses em São Paulo com 300 revendedores cadastrados”, diz Nathália Zanni, coordenadora do projeto, e completa – “a Visão Mundial não quer que elas apenas revendam o produto, mas há também rodas de conversa, eventos, cursos.

Para trabalhar com mulher tem que trabalhar com a autoestima dela, é bom fazer festas, dia de beleza, chás com elas para elas darem uma extravasada”.

Uma das sedes do projeto Kiteiras é no Programa de Desenvolvimento de Área (PDA) da Visão Mundial no Capão Redondo. Mais do que vendedoras, encontramos por lá, mulheres, mães e batalhadoras que levam no kit, mais do que o iogurte ou um brinde que vai com ele, mas muitas histórias. Uma dessas mulheres é a Elizabeth Campos, mãe de dois filhos, mora com eles sem o seu marido e está no projeto desde que começou em São Paulo.

“Sem querer me gabar, mas eu sou realmente a ‘mulher guerreira’. Eu não posso desmoronar, toda vez que eu desanimo de vender os kits, eu lembro dos meus filhos. Se um dia, eu ficar doente ou não puder sair, o pai deles vai coloca-los num orfanato, com certeza”, diz Elizabeth, que quando entrou no projeto tinha mais dois empregos, hoje vive apenas da venda de seus produtos.

“Com esse dinheiro, eu preciso pagar conta, fazer mercado pros meus filhos e ajudar os meus pais.” – e completa: “ no começo, o pai deles ajudava, mas depois arrumou outra mulher que tem mais quatro filhos e todo dinheiro vai para lá”.

“O Kiteiras veio na hora certa, ele me ajudou muito me dando uma independência e fazendo eu não precisar mais do meu marido. Não quero depender de homem nenhum”, conta Elizabeth que também vende seus produtos por Whatsapp e através de sua página no Facebook, além de todo trabalho “porta em porta” – “as pessoas acham que eu tenho toda uma equipe por trás, mas não tenho, sou só eu para ligar, agendar, receber pedido, entregar, eu que sou a empresa”.

“Eu ando essa cidade toda de ônibus, cansa muito, mas virar Kiteira me ajudou muito porque hoje eu sou bem mais aberta, tenho que conversar com os cliente e eu acabo conhecendo muita gente legal”, Elizabeth completa – “Antes, minha vida era da casa para o trabalho e do trabalho para casa, hoje tenho muitos planos de empreender com as vendas”.

Madrinha e mobilizadora

Por trás de todas essas mulheres, há uma pessoa que também batalhou e batalha muito para manter o projeto Kiteiras de pé, é a mobilizadora e madrinha Regiane Monteiro.

Ela que já foi segurança de balada e gerente de um salao de beleza, ao mesmo tempo que tinha que cuidar dos filhos sozinha, hoje não pensa em sair do Kiteiras, por questões financeiras e também pelo tempo que agora ela tem para ficar com suas crianças.

“A mobilizadora tem que apresentar o projeto para as mulheres, passar de casa em casa recrutando revendedoras e organizar eventos para elas. A madrinha acompanha o dia a dia delas, apoia tanto no trabalho, quanto pessoalmente, essas meninas”, explica Regiane sobre a sua função, e completa – “Todas pessoas cadastradas me agradecem muito pela oportunidade porque é uma ajuda muito grande na renda e na vida.”.

“Muitas mulheres me procuram pensando em desistir, cabe a mim motivá-las porque para mim não existe impossível, a gente pode tudo. Minha história mostra isso”, diz Regiane que tempos atrás venceu um câncer no colo do útero, – “entrei em depressão profunda, larguei o serviço e tudo. Tinha que fazer a comida para as crianças e não queria sair da cama, por exemplo, como eu iria fazer a cirurgia, então?”.

Se não fosse a ajuda dos vizinhos, Regiane não sabe como seria a sua vida hoje. “Tem uma senhora que me ajudou muito, ela cozinhava para as minhas filhas e vinha sempre me ajudar, falava palavras de apoio para eu sair de casa e trabalhar”.

Assim como essa senhora, a Michelle foi também uma pessoa muito especial na luta da Regiane contra o câncer. “Outro dia, uma mulher tocou em casa dizendo que sabia da minha história e que queria levar minhas filhas para cuidar delas, enquanto eu fazia a cirurgia. Na hora, eu não soube se eu confiava nela ou não, mas do outro lado, eu precisava deixar minhas filhas com alguém para fazer minha cirurgia”.

Mesmo com muito medo, Regiane mandou as crianças com Michelle e hoje elas são muito amigas, “quando eu vi as crianças entrando naquele carro, eu pensei ‘nunca mais vou ver elas, ou porque eu vou morrer na cirurgia ou porque essa mulher vai fugir com as minhas filhas”, conta a madrinha do projeto Kiteiras, enquanto corria lagrimas pelo seu rosto, – “ hoje eu vejo que a Michelle foi um anjo que apareceu na minha vida e sei que assim como ela fez o bem pra mim, eu tenho que fazer para essas mulheres, como a Elizabeth”.