“Toda a nudez será castigada”, disse o escritor Nelson Rodrigues. Para a fotógrafa Kalu Brum , especialista em fotografias de parto e gestantes, “em uma sociedade em que corpos humanos se transformaram em mercadoria, a nudez natural é uma atitude para quebrar paradigmas”.
Depois de tornarem mães muitas mulheres passam a ter vergonha do corpo pelas novas marcas que aparecem. “Marcas que são as tatuagens desta nova e bonita fase e que não são valorizadas pela mídia e nem mesmo por pessoas comuns”, afirma Kalu.
Para mudar um pouco essa realidade, Kalu reuniu mães e gestantes num ensaio coletivo para celebrar a beleza natural, no projeto “Natureza mãe”. Em setembro deste ano, as mulheres se reuniram em uma cachoeira em Nova Lima, Minas Gerais. “As mulheres foram chegando, despindo seus bebês e tirando as roupas. Quando vi era a única que continuava vestida”, lembra a fotógrafa.
Uma nova sessão será realizada em outubro de 2015 e o projeto tem intenção de se transformar em uma exposição e um livro.
Veja as fotos e depoimentos das participantes
Mariana de Castro Costa
Não tenho como mensurar a satisfação de me sentir livre novamente e de compartilhar isso tudo com outras pessoas: a beleza verdadeira de estar nua, com meu corpo com as marcas e cicatrizes que ele ganhou nesta aventura que é gestar, parir e maternar. O sorriso, a alegria e o relaxamento da minha filha durante as fotos me fez reforçar toda a paixão que sinto por ela e por toda a natureza”, conta Mariana de Castro Costa, 30 anos mãe de Letícia de 06 meses, que mama em livre demanda e exclusivamente.
Jessica Souza, 25 anos.
Eu tinha muito medo de não conseguir sequer ultrapassar a média de amamentação das brasileiras, tinha medo de nem chegar nos 54 dias. Então cada dia pra mim é uma conquista a ser celebrada. Estou num caminho de aceitação e reapropriação do meu corpo. Estar junto de mulheres maravilhosas contagia e me fez sentir maravilhosa também. Saí daquelas águas mais feliz comigo mesma e grata pela beleza de ser quem sou e de lutar minhas batalhas”, Jessica Souza, 25 anos mãe do Tales de 4 meses.
Pollyanna Alves Martins com Kalu, 11 meses.
A princípio achei que teria vergonha da minha nudez, do meu corpo de mãe, das cicatrizes da vida. Eu sabia que durante a sessão ia trabalhar a minha aceitação, amor próprio, naturalidade das minhas cicatrizes que são tatuagens da vida. Nunca me senti tão realizada e feliz assim. Águas mágicas. Senti uma infinita admiração pela história das mulheres presentes, por estarmos ali representando tantas outras mulheres, por desmistificar estereótipos de padrões moldados à bisturi. Desconstruir tudo que engloba a nudez como foi registrada é importantíssimo. Para o Gabriel, 3 anos, foi fundamental, penso. Ele viu cada mulher como realmente é. Nada moldado à bisturi. Beleza pura, plena e natural. Senti a minha feminilidade, conexão com a mãe terra e a minha deusa interior. Me senti privilegiada e grata por estar diante de mulheres fortes, guerreiras e empoderadas, verdadeiras deusas”, diz Pollyanna Alves Martins, mãe do Gabriel, 3 anos e Kalu, 11 meses.
“A manhã de um sábado ensolarado foi uma oportunidade de grandes encontros e fortalecimentos. O encontro da mulher com a natureza, da mulher com a outra mulher, da mulher com o próprio corpo, o encontro da aceitação e da não aceitação, de olhares especiais. O grande encontro das coisinhas internas que são desvendadas quando nos abrimos para o novo. E, ao encontrarmos, tornou-se possível o fortalecimento”, conta Ana Rafaela Ribeiro, grávida de 36 semanas.
Ana Rafaela Ribeiro, grávida de 36 semanas.
articipar do ensaio foi muito gostoso para mim. Achei q fosse ficar com vergonha, principalmente porque estou acima do peso e isso me incomoda muito. Confesso que cheguei a pensar em não aparecer algumas vezes, por vergonha de me mostrar. Mas me encarei e assumi como estou agora.E foi surpreendente. Foi tudo tão natural, sem preconceitos ou julgamentos que me senti super bem, integrada às pessoas q estavam ali e à natureza. Esqueci a questão do corpo. O ensaio me tocou numa esfera muito superior. Meu filho todo feliz tambem, brincando com a água, tentando pegar as folhinhas. Sensação maravilhosa ve-lo conhecendo a natureza e gostando, saindo dessa rotina de vida tão urbana/industrializada que vivemos. Não pensei que seria tão bom. Lidiane Rodrigues Rabelo, 35 anos mãe do Lucas, 8 meses.