SPFW: crochês feitos por detentos tomam conta das passarelas
Projeto Ponto Firme levou ao evento um outro olhar sobre a moda direto da penitenciária Desembargador Adriano Marrey
A primeira edição da SPFW de 2018 foi marcada pelo desfile do Projeto Ponto Firme, iniciativa do designer e artesão Gustavo Silvestre, que apresentou uma coleção com peças de crochê confeccionadas por detentos da penitenciária Desembargador Adriano Marrey, de Guarulhos.
No sábado, 24 de abril, encerrando o primeiro dia de desfiles, o projeto levou à passarela da São Paulo Fashion Week looks criados pela turma de 20 alunos, que, por meio da moda, exploram o cotidiano na penitenciária.
Com aulas da artista plástica e estilista Karla Girotto, os detentos puderem entender a lógica da produção de um desfile e ampliar o repertório de costura, criando modelos que vão além das confecções básicas das aulas de crochê.
Peças lúdicas e coloridas integram a coleção, carregando estampas escolhidas pelos alunos, como escudos dos principais times paulistas de futebol, frases religiosas e referências aos Racionais MCs, grupo de rap do cantor Mano Brown, que inclusive integrou a trilha sonora do desfile na SPFW.
Toda a coleção foi apresentada aos detentos da Desembargador Adriano Marrey cerca de um mês antes de entrar na passarela da São Paulo Fashion Week. No sábado, o desfile contou com um time de modelos composto por profissionais e convidados com algum tipo ligação com a penitenciária, como Anderson Figueredo, de 34 anos, que há um ano vive em liberdade.
Criado em 2015, o Projeto Ponto Firme oferece oficinas de crochê com formação técnica artesão, com a intenção de contribuir com a ressocialização dos detentos, o desenvolvimento da concentração e melhoria das relações a partir da terapia ocupacional.
Após formar mais de 150 alunos, Gustavo Silvestre ressalta a necessidade de se manter um pensamento de reconstrução de quem vive na penitenciária e não de destruição. “Ninguém nasce para o crime. Há uma série de questões sociais, políticas, culturais e históricas que levam a pessoa a ter mais probabilidades de entrar no crime. A pergunta não é o que o cara fez, mas o que levou ele a fazer”, comentou em entrevista ao Catraca Livre.
“Eu falo muito para eles: crochê é melhor que videogame, você entra e quer passar de fase. Tem muitos artistas lá dentro [da prisão], que me surpreendem demais. Tem muita potência, muita vida, muita verdade nesse trabalho deles”, completou.
- Confira a entrevista completa de Gustavo Silveira dada à série “Professores Inspiradores” do Catraca Livre: