Crianças se habituaram a não ter relações intensas, diz Cortella

21/03/2017 14:17

Antigamente, sem eletrônicos para mediar as relações, as famílias se reuniam e tinham um convívio mais intenso. Quem afirma isso é o professor Mario Sergio Cortella em uma palestra que dá a estudantes.

Em seu discurso, ele relembra o momento da infância, especialmente a chegada da televisão, para discutir como a vida em família era antes e como ficou depois da chegada do aparelho. Veja alguns pontos interessantes que ele levanta:

  1. As refeições eram feitas em família

O professor relembra a disposição de sua casa em Londrina e diz: “Tinha uma mesa com cadeiras em volta. Sabe o que a gente fazia nesta mesa? Se eu contar, você, que é mais jovem, não vai acreditar: a gente almoçava reunido”. Mario conta que os momentos de refeição eram também quando os filhos se encontravam, quando tomavam broncas, davam risada e ouviam histórias, além de aprender: “Aprendi a não pegar bife com a mão, nem batata frita. Aprendi a não pegar o último pedaço e assim por diante”.

  1. Existia mais interação

Pensando ainda na disposição dos móveis, o professor fala: “As poltronas ficavam de frente uma com as outras. Sério. Sabem por quê? A finalidade é que as pessoas se vissem”. Desse modo, ele se recorda de que , à noite, a família conversava e recebia a visita de vizinhos. “Quando o outro humano chegava, a gente se alegrava porque o outro ser humano era a possibilidade de uma vida”. Hoje, para fazer uma contraposição, Mario aponta que é frequente que as pessoas queiram se recolher e evitar a interação com os outros quando chegam em suas casas.

Com o advento dos eletrônicos, famílias passaram a conversar menos, incluindo adultos e crianças, desde a primeira infância.
Com o advento dos eletrônicos, famílias passaram a conversar menos, incluindo adultos e crianças, desde a primeira infância.
  1. Tinha gratidão

O professor se lembra também do dia em que seu pai chegou em casa com a televisão em seu carro Jeep. Ele diz que, naquele momento, como sempre faziam, o pai tocou a buzina e todos correram para abraçá-lo. E por quê? “A gente tinha um sentimento de gratidão. Do fato de que ele trabalhava para nos sustentar. Hoje, atenção, no mundo criança a ideia de gratidão é muito escassa”.

De acordo com o professor, essa escassez aparece também no mundo dos adultos, como se tudo fosse obrigação, o que teria “contaminado” os pequenos: “Alguma coisa nós vamos construindo nas relações que as contaminou também. E essa contaminação se deu na ideia de que você é um servidor. Aliás, em breve as relações ente pais e filhos podem ser medidas também pelo Código do Consumidor, um Contrato de Prestação de Serviços”.

  1. A televisão mudou as relações

Mario Sergio Cortella fala que, com a chegada da televisão, as poltronas passaram a ficar de frente para o aparelho, não mais uma diante da outra, e as conversas cessaram. O vizinho deixou de ser bem-vindo e, quando ele chegava, a família continuava com o aparelho ligado. Em pouco tempo, o vizinho começava a ver TV também.

Para finalizar, Cortella diz que essa recordação pode parecer deslocada hoje, mas que é importante perceber que: “as crianças foram crescendo também habituadas com essa possibilidade de não precisar ter essas relações intensas e duradouras”. Assista ao vídeo:

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