“Posso pedir 1 minuto da sua atenção?” Repórter vai às ruas testar as reações

Por: Catraca Livre

Texto de Felippe Canale. Fotos de Marlon Moro

Em quase todas as grandes metrópoles, as vezes o galo ainda nem cantou e você já está de pé prensado dentro do busão, trem ou metrô (pagando quase 4 reais e se perguntando cadê o open bar de Aperol, gin, whisky e catuaba). Não importa o quanto acorde cedo, você sempre estará atrasado para fazer alguma coisa. Não tá fácil nem pra quem se locomove de carro particular ou Uber, pois mesmo rezando, nem o Santo Waze consegue fazer milagres. Uma vez o app quase me mandou “cortar caminho” pela Marginal Pinheiros. Deusôlivre!

Um dia tem apenas 24h, mas tem banco que faz publicidade dizendo que te atende por 30 horas, afinal, tempo é dinheiro.

Como todo mudo sabe, 1 minuto é um tempo muito precioso. Aí, imagine que você está caminhando ouvindo música com o fone de ouvido, ou falando no celular, ou atrasado, ou segurando um guarda-chuva, ou embaixo da chuva ou simplesmente andando tentando se deslocar do ponto A até o ponto B entre as ruas. Eis que surge na sua frente alguém propondo que você faça uma doação, responda uma pesquisa, assine uma petição ou algo do tipo. Parece um pouco invasivo?

Tente contabilizar quantas e quantas frases do tipo “Agora eu não posso”, “Não, não. Obrigado!”, “To ocupado”, “A gente já se falou ontem, lembra?” são pronunciadas diariamente para quem tenta abordar os apressados que caminham pela avenida Paulista, estações de trem ou metrô e demais localidades com grande circulação de pessoas.

Em um dia qualquer, andando na frente do Parque Trianon, antes mesmo que eu pudesse desviar de um grupo de pessoas vestidas com os coletes do Greenpeace, um rapaz brotou na minha frente (talvez com a força de uma árvore que acabara de receber uma doação):

– Opa, posso falar 1 minutinho com você?
– Poxa, to super atrasado.
– Você já conhece o trabalho do Greenpeace?
– Hum, já li pela internet. Inclusive, posso fazer uma doação por lá, não?
– Ah, até pode. Mas me ajuda aqui com as metas, vai.

Opa, metas? Sim, metas, valores, vendas. Quem te aborda pedindo este tipo de contribuição nas ruas, em sua maioria, são profissionais treinados pra te convencer a fazer doações financeiras à partir de um storytelling altamente emotivo. Animais em extinção, florestas devastadas, crianças que sofreram abusos, pessoas em situação de miséria e, infelizmente, muitas outras tristes histórias que acometem o mundo. Estes profissionais são chamados de “captadores de doadores” e a abordagem na rua é denominada face-to-face, ou, cara a cara(livremente traduzido do inglês). Ao invés de você procurar um produto ou serviço, ele é que é oferecido diretamente pra você. Em teoria, não há público-alvo e toda pessoa/consumidor é considerada um possível doador.

Uma pesquisa divulgada recentemente pela consultoria internacional RGarber revelou que o brasileiro doa, em média, U$ 5,2 bilhões para Organizações Não Governamentais (ONG’s). E parece que quando elas são estrangeiras, a credibilidade aumenta na hora da decisão de doar ou não. Segundo uma reportagem publicada no UOL, “Se comparado aos métodos tradicionais, como a arrecadação pela internet, a mala direta e anúncios publicitários, o face-to-face traz uma taxa mais alta de retenção de doadores”, avalia Filipe Páscoa, diretor de mobilização de recursos e comunicação da ONG Aldeias Infantis no Brasil.

Mas como será que cada equipe de rua aborda as pessoas? Que tipo de treinamento elas recebem? Como é estar no lugar de quem pede 1 minuto da sua atenção? Pra fazer um aquecimento de abordagem, comecei num lugar que não pedia contribuição financeira, mas sim, apenas uma simples assinatura.

FIESP – Manifesto “Não Vou Pagar o Pato”

Breve história encontrada no site: “Toda vez que precisa cobrir seus gastos, em vez de cortar despesas, o governo acha mais fácil passar a conta adiante. Adivinha para quem sobra? Isso mesmo: para as empresas e os trabalhadores, que já vêm sofrendo com o aumento da inflação, dos juros, da taxa de câmbio e das tarifas de energia”. 

1- Abordagem de uma captadora de assinaturas da FIESP:

Passando na frente do prédio da FIESP, com um enorme pato inflável amarelo em destaque, me deixei ser abordado pela Daniela Oliveira.

– Olá. Você já assinou a petição contra a corrupção?
– Ainda não. Como funciona?
– É só assinar aqui e preencher o nome, e-mail e CPF (me mostrando um papel com outras assinaturas).
– Mas pra que serve esta petição? Como ela será usada?
– Você pode acessar o site da campanha pra ter mais informações. Mas, basicamente, é um manifesto contra a corrupção no Brasil e o aumento excessivo dos impostos. A campanha também é contra a volta do CPMF, um imposto que já estava extinto e agora o governo quer voltar a cobrá-lo. Se chegarmos à 1 milhão de assinaturas, vamos enviar este manifesto pro congresso para mostrar que existe uma insatisfação popular. (sim, a meta foi atingida antes do fechamento desta matéria e superou um milhão)

2- Expliquei que sou repórter e perguntei como é o dia-a-dia da equipe:

“Somos de uma agência de eventos, a FIESP é quem nos contratou. A gente recebeu um treinamento e depois já passamos a abordar as pessoas aqui na frente da sede. O trabalho é das 10h até às 19h. To curtindo porque é fácil, todo mundo para pra assinar. E quando tem brindes, é melhor ainda. A galera curte ganhar um chaveiro ou algo do tipo”.

Perguntei se eu poderia ficar abordando as pessoas e sentir como elas reagem. O meu pedido foi encaminhado pra um supervisor, que subiu comigo até a sala da assessoria de imprensa da FIESP. Após eu explicar a pauta, fui liberado e ganhei um colete amarelo para… (Leia aqui a matéria completa).

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