Poemas inéditos de Carlos Drummond de Andrade são descobertos em São Paulo

19/11/2015 09:55 / Atualizado em 07/05/2020 01:17

wp-image-993686
wp-image-993686
Capa edição da revista “Raça” onde os três poemas foram publicados[/img]

Após encontrar os poemas, a estudante e seu orientador – o professor Wilton José Marques – consultaram inventários e volumes que reúnem os trabalhos de Drummond. Os três poemas não constavam em nenhum deles. Segundo o jornal, após consultarem Antônio Carlos Secchin, crítico e membro da Academia Brasileira de Letras (ABL), especialista na obra do poeta, eles receberam a confirmação de que o material em questão era realmente inédito.

Dirigida pelo jornalista Orlando Damiano (1903-1933), a revista “Raça” teve grandes escritores brasileiros entre seus colaboradores. Além de Carlos Drummond de Andrade, publicaram nela nomes como Mário de Andrade, Cassiano Ricardo e Menotti Del Picchia.

A seguir, você confere a íntegra de “O poema das mãos soluçantes, que se erguem num desejo e numa súplica”, um dos textos inéditos.

O poema das mãos soluçantes, que se erguem num desejo e numa súplica

Como são belas as tuas mãos, como são belas as tuas mãos pálidas como uma canção em surdina…

As tuas mãos dançam a dança incerta do desejo, e afagam, e beijam e apertam…

As tuas mãos procuram no alto a lâmpada invisível, a lâmpada que nunca será tocada…

As tuas mãos procuram no alto a flor silenciosa, a flor que nunca será colhida…

Como é bela a volúpia inútil de teus dedos…

O poema das mãos que não terão outras mãos numa tarde fria de Junho

Pobres das mãos viúvas, mãos compridas e desoladas, que procuram em vão, desejam em vão…

Há em torno a elas a tristeza infinita de qualquer coisa que se perdeu para sempre…

E as mãos viúvas se encarquilham, trêmulas, cheias de rugas, vazias de outras mãos…

E as mãos viúvas tateiam, insones, − as friorentas mãos viúvas…

O poema dos olhos que adormeceram vendo a beleza da terra

Tudo eles viram, viram as águas quietas e suaves, as águas inquietas e sombrias…
E viram a alma das paisagens sob o outono, o voo dos pássaros vadios, e os crepúsculos sanguejantes…

E viram toda a beleza da terra, esparsa nas flores e nas nuvens, nos recantos de sombra e no dorso voluptuoso das colinas…

E a beleza da terra se fechou sobre eles e adormeceram vendo a beleza da terra…