Jovem viaja sozinha por 6 meses fazendo trabalho voluntário no Sudeste Asiático

A paixão pelo desconhecido sempre foi o combustível que levou a gaúcha Letícia Mello, 27 anos, a rodar o mundo. Formada em turismo e hotelaria e nômade em seu próprio país, não demorou muito para que o mundo ficasse pequeno para ela. Apesar disso, Letícia sentia falta de um propósito maior para as suas viagens. Foi atrás de trabalhos voluntários e descobriu que os preços cobrados pelas agências eram muito altos para o seu orçamento.

Ao invés de desistir, resolveu entrar em contato direto com algumas instituições onde seria voluntária em troca de comida e acomodação. Foi assim que surgiu o “Do For Love Project” (Projeto Faça Por Amor), um projeto de voluntariado independente pelo mundo. Com um orçamento de apenas US$ 500 , Letícia partiu, em junho de 2013, para o Sudeste Asiático para mostrar que era possível fazer muito com pouco. Essa jornada será contada na íntegra em seu livro, que deve ser lançado em breve, por meio de um financiamento coletivo no Catarse.

“Viajar se tornou uma prioridade na minha vida, abri mão de uma vida estável, de carro, apartamento, roupas, conforto e o colo das pessoas que amo. Eu sempre vi nas viagens a minha grande motivação. O mundo me fascina. Mas viajar só por viajar não fazia sentido. Eu queria um propósito que refletisse positivamente na vida das pessoas”, conta Letícia.

E foi com essa coragem e força de vontade que a jovem decidiu se tornar uma voluntária em áreas remotas e conhecer a fundo a cultura e a vida local dos países por onde passa. “Eu vivia ao máximo como uma local. Tomava banho frio de caneca, dormia no chão, comia insetos, participava de cerimônias budistas, fiz amigos no hospital e na delegacia, fiquei totalmente sem dinheiro, precisei da ajuda de desconhecidos, me meti em grandes furadas e também vivi os melhores momentos da minha vida”.

A aventura começou na Tailândia, onde foi para dar aulas de inglês para crianças carentes e acabou ensinando policiais, agricultores e até mesmo monges. Durante sua estada no país foi furtada duas vezes. “A segunda vez foi a mais difícil. Dirigia de volta para casa quando outra moto se aproximou e puxou minha bolsa, tentei seguí-los, mas perdi o controle e cai. Era noite, estava sozinha, sem passaporte, dinheiro, cartão e celular. Eu chorei como uma criança e cheguei a pensar que minha viagem tinha acabado ali”, relembra.

Mesmo com as dificuldades, decidiu que continuaria sua aventura. No Camboja, além de dar aulas de inglês, construiu uma casa com apenas US$ 800, doados por amigos e familiares. A casa se chama “Home of Hope” (Casa da Esperança) e tem um agradecimento com a bandeira do Brasil logo na entrada. Seguiu rumo ao Vietnã onde teve a oportunidade de viver com uma família de uma minoria étnica no alto das montanhas enquanto dava aulas de inglês.

“O domínio da língua inglesa define o futuro de muitas dessas crianças que vivem em países que dependem principalmente da agricultura e do turismo. Vamos tomar como exemplo os agricultores no Camboja, que ganham em média, US$ 2 por dia de trabalho. O sonho dessas crianças é ter a oportunidade de trabalhar com o turismo, querem dirigir um tuk-tuk, trabalhar em um hotel ou restaurante. Além disso, quando não tem oportunidades, muitas vezes são incentivadas a se prostituirem, incluindo os meninos, que se tornam lady boys (transxesuais)”, explica.

A ideia de publicar um livro surgiu por meio de pedidos dos seus leitores na página do projeto no Facebook. A fanpage foi criada enquanto viajava porque sentiu a necessidade de compartilhar com mais pessoas tudo o que estava vivendo. “São relatos intensos e inspiradores, eu não tenho medo de me expor, acho que quanto mais eu me exponho, mais me aproximo de quem lê”, afirma.

Com isso ela tem o objetivo de motivar as pessoas, divulgar mais informações sobre esse tipo de viagem e já tem planos de aumentar o projeto. “Muito pode ser feito, dependendo da região a necessidade das pessoas será diferente. Quero abrangir diversos temas pelo mundo e criar um portal onde as pessoas possam ajudar online uma causa específica. Isso tudo deve acontecer ainda em 2016”.

Para quem quiser ajudar a Letícia a ter o livro publicado, as doações e recompensas podem ser acessadas no site www.catarse.me/doforlove.