Gestão Doria orientou proposta de patrocínio do Carnaval, diz CBN

Tanto o secretário de Cultura quanto a agência negam irregularidades

A gestão do prefeito de São Paulo, João Doria (PSDB), teria orientado a agência de eventos Dream Factory, contratada pela Ambev, a inflar proposta de patrocínio do Carnaval de rua para que ela fosse a vencedora. Com o recorde de 3,5 milhões de foliões nas ruas, o patrocinador teve exclusividade para expor a marca nos desfiles dos blocos e para vender bebidas.

Segundo informações do repórter Guilherme Balza, da CBN, o edital que foi publicado ainda na gestão Haddad estabelecia que a empresa vencedora fosse aquela com maior gasto em itens de interesse público como segurança, limpeza, banheiros químicos e ambulâncias.

O secretário André Sturm e o vice-prefeito Bruno Covas participaram de reuniões em que foi pedido para inflar proposta da Ambev

Em dezembro, a proposta da Dream Factory foi escolhida e as das outras três concorrentes foram negadas. Uma delas, a SRCOM, parceira da Heineken, recorreu da decisão. No mês seguinte, a Comissão Avaliadora da Secretaria de Cultura recolocou a SRCOM no páreo.

O valor da proposta da Dream Factory foi de R$ 15 milhões e o da SRCOM, de R$ 8,5 milhões. Depois de analisar cada uma, a comissão notou que a Dream Factory apresentou apenas R$ 2,6 milhões em itens que eram de interesse público. Na SRCOM, eles somavam R$ 5,1 milhões. A comissão avaliadora, responsável pela escolha, decidiu que a proposta da empresa parceira da Heineken era melhor, mas a gestão Doria teria passado por cima da decisão.

A CBN teve acesso ao áudio de uma reunião entre funcionários da Secretaria de Cultura e diretores da Dream Factory em que eles contam que, numa outra reunião, em que o secretário de Cultura André Sturm também participava, o vice-prefeito Bruno Covas orientou os integrantes da Dream Factory a alterar itens da planilha com a proposta para fundamentar os R$ 15 milhões e vencer a empresa concorrente.

André Sturm negou ter feito pedido para inflar os valores da planilha, e a Dream Factory informou que a realocação dos recursos obedeceu o edital.

A Ambev esclareceu, em nota, que firmou contrato de patrocínio para o Carnaval de Rua de São Paulo de 2017 com a Dream Factory, empresa vencedora do chamamento público realizado para o evento.

“Posteriormente”, segue o texto, “a Comissão Avaliadora do Carnaval de Rua 2017 indagou a proponente selecionada [Dream Factory] sobre a possibilidade – prevista no item 7.10 do edital de convocação do chamamento público – de redistribuir o valor total de sua proposta entre os itens de execução em infraestrutura do evento. Não houve, portanto, qualquer alteração ou oferecimento de novo valor durante o chamamento público. Todo esse trâmite está registrado em processo administrativo, que é público e disponível para consulta de qualquer interessado”.

Em nota, a Dream Factory diz que o áudio foi mal interpretado pela reportagem da CBN e que representantes da agência e da prefeitura discutiam itens da proposta e que esses ajustes excederiam o limite orçado de R$ 15 milhões. “O que a Dream Factory disse então, diferentemente do que entendeu a reportagem, foi que, caso a Secretaria insistisse em tais ajustes, teria que ser firmado um novo compromisso com a referida patrocinadora”, diz a nota.

A patrocinadora também ressaltou que a CBN se equivocou ao dizer que a proposta da SRCOM era superior à deles, embora a “Comissão Especial de Avaliação tenha reconhecido que, em sua visão, alguns dos itens da proposta da proponente SRCOM fossem de qualidade superior”. Eles afirmaram que todas as etapas do processo, desde o chamamento até as entregas durante o Carnaval, estavam dentro da legalidade e de acordo com o edital.

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