Fernando de Noronha é mesmo mais caro do que ir para o exterior?

Por Eduardo Vessoni, do site Viagem em Pauta

Desde que voltei de Noronha, no último mês de dezembro, já perdi as contas de quantas vezes ouvi que conhecer esse arquipélago a pouco mais de 500 km de Recife é mais caro do que viajar para o exterior.

Pois bem, se Noronha não merece o alto investimento para visitar um dos destinos mais isolados e protegidos do Brasil, então a saída é mesmo sair do país, com dólar a quase R$ 3 e tributação sobre o valor das compras feitas no exterior com o cartão de crédito.

Pôr-do-sol visto a partir do porto de Noronha (foto: Eduardo Vessoni)

Fernando de Noronha é mais caro do que viajar para fora? Então a gente pode trocar as piscinas naturais escondidas em baías de águas calmas pelos 50 tons de cinza (ou seria de marrom?) do rio da Prata, um dos ícones de Buenos Aires, cuja passagem saindo de São Paulo, em setembro, custa R$ 901.

Eles não têm a praia mais bonita do mundo e nem contam com mares para mergulhos de até 50 metros de profundidade, mas dá para passear pela caótica e congestionada calle Florida, que é quase a mesma coisa, não é mesmo?

Tá achando caro os R$ 1.726 para voar até Noronha, em setembro, na melhor época do ano? Por mais R$ 139, dá para desembarcar em Miami e encher sua mala de roupas de marca, perfumes cobiçados, eletrônicos de última geração com preços competitivos e passar pelo teste de paciência na insana fila da imigração do aeroporto de Miami (ou na salinha da Receita Federal, em Guarulhos, cada vez mais frequentada por brasileiros que perdem a mão na hora de fechar a mala com muamba importada).

Considerada a mais linda do mundo, segundo o site Tipadvisor, a praia do Sancho é uma das atrações naturais mais visitadas de Fernando de Noronha (foto: Eduardo Vessoni)

Por R$ 2.580 dá para chegar em Nova York, que custa mais do que ir a Noronha (vejam só!!!), mas como já se convencionou dizer que Noronha é mais caro do ir para o exterior, a gente continua achando que ir para a Big Apple ainda é melhor do que fazer uma viagem nacional, aqui do lado, a inocentes 545 da capital de Pernambuco.

A cidade não tem mirantes naturais de onde se vê o pôr-do-sol sobre o mar ou se observam golfinhos livres rodando no ar, mas tem um monte de prédio com terraço que serve para ver outro monte de prédios sob os nossos pés.

Mais barato do que ir para Noronha, é desembarcar em Punta Cana (R$ 1.638), em plena temporada de tornados no Caribe, para ficar trancado em resorts de gosto duvidoso que fazem de tudo para você não ter que sair para procurar inspiração do lado de fora. Por que se aventurar em trilhas selvagens do Mar de Fora de Fernando de Noronha ou mergulhar com animais ameaçados de extinção em piscinas naturais protegidas se podemos passar o dia inteiro na cadeira a beira da piscina do hotel, tomando coquetel azul com uma flor na borda do copo?

Golfinhos durante mergulho em Noronha (foto: All Angle/Laís Iná)

Já ia me esquecendo de Cancún (R$ 2.736, ida e volta saindo de São Paulo), onde dá para dar beijinho em golfinhos trancafiados em tanques de proporções reduzidas ou fazer um city tour em uma avenida só de hotéis. A passagem custa R$ 1.000 a mais, mas ir para o exterior é bem mais charmoso, não é?

Se bater aquele vontade de fazer bonito no Velho Continente, tem Lisboa a R$ 3.525, Madri por R$ 3.845 e Berlim com desconto, por R$ 3.136. Só não se esqueça de trocar as águas a 27° de Noronha pela paisagem de um outono europeu anunciando a gélida temporada de inverno.

E antes que os fervorosos atirem seus passaportes sobre a minha cabeça pelo disparate de comparar a selvagem Fernando de Noronha com destinos tão bem desenvolvidos como Nova Iorque, Miami ou Berlim, me defendo afirmando que esse post é para aqueles que sabem bem a diferença entre Noronha e uma capital qualquer dos Estados Unidos ou da Europa.

Piscina natural da Baía dos Porcos, em Fernando de Noronha (foto: Eduardo Vessoni)

Só não vale fazer a comparação injusta de preços e se apoiar no argumento (equivocado) de que não viaja para Noronha porque é mais caro do que ir para o exterior. Acontece que o exterior não é Fernando de Noronha, e Fernando de Noronha não tem nada a ver com o que se vê lá fora, no exterior.

Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa.

E outra coisa ainda é viajar com consciência de quanto vale cada serviço ou produto, e saber quando há abuso nos preços. Leia o post Fernando de Noronha para mãos-de-vaca com dicas preciosas para economizar em Fernando de Noronha.

Se mesmo assim, você ainda não se convenceu de que Fernando de Noronha vale cada centavo investido, o Viagem em Pauta selecionou dez motivos para conhecer esse arquipélago Patrimônio Mundial pela Unesco.