A nobreza popular de Francineth Germano
Por Júlia Engler
Nascida em Santa Cruz do Inharé, no interior do Rio Grande do Norte, Francineth Germano, ainda com 11 anos, se mudou para Natal e, aos 14, começou a cantar e a se apresentar na Rádio Poti, com o trio de forró que formou com suas irmãs, as Irmãs Ferreira.
Em busca de trabalho, aos 19 anos, migrou para o Rio de Janeiro, onde logo que chegou já se apresentou no lendário
programa de rádio Calouros do Ari, de Ari Barroso, por onde passaram importantes vozes da música brasileira, como, por exemplo, Elis Regina e Luiz Gonzaga. Com o êxito no programa, tirando a nota máxima, começou a cantar em algumas boates famosas da época, mas foi na badalada boate Bom Gourmet que Francineth foi ouvida por nada menos que Elizeth Cardoso.
A Divina imediatamente amadrinhou Francineth e a levou para cantar na Orquestra do Maestro Moacyr Silva. A partir de então, Francineth lançou alguns compactos primorosos, como o que gravou pela Copacabana Discos, acompanhada do excelente Banzo Trio, em que gravou verdadeiras pérolas de Luiz Vieira, como a contundente denúncia social de “Cambão”.
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Além dos campactos, Francineth ainda gravou dois importantes LPs. No primeiro, em 1963, Convite à Música Nº3, Francineth dividiu um refinado repertório com o conjunto do Maestro Moacyr Santos. Por conta desse disco, Francineth foi condecorada no Teatro Municipal com o Canudo Dourado do Prêmio Cidade de São Sebastião, considerada pelo júri a Melhor Cantora em Disco do ano 1963.
O outro LP definitivo de sua carreira foi o “Viva o Samba”. O emblemático disco tinha na linha de frente um quarteto de ouro composto por Elizeth Cardoso, Ciro Monteiro, Roberto Silva e Francineth Germano, cantando os sambas de quadra das maiores Escolas de Samba do Rio de Janeiro: Portela, Mangueira, Império Serrano, Salgueiro e a extinta Unidos de Lucas.
Tudo isso gravado com uma numerosa banda, alguns instrumentos de orquestra e, além, é claro, de uma parte considerável da bateria das escolas de samba. Neste disco histórico, Francineth foi responsável por interpretar a primeira composição de Dona Ivone Lara, “Amor Inesquecível”, e o clássico portelense “Tal Dia é o Batizado”, de Catoni, Jabolô e Valtenir.
Durante as décadas de 1960 e 1970 também participou de importantes programas televisivos, como o No Tempo da Seresta, da TV Tupi, e o Um Instante Maestro, de Eduardo Cavalcanti, na TV Rio, no qual revezava os vocais com sua madrinha Elizeth Cardoso na interpretação das músicas eleitas pelo enérgico apresentador.
A partir de 1970 passou a integrar o grupo vocal As Gatas com o qual gravou coro em praticamente todos os discos de todos os artistas da música brasileira (sem exagero!). Durante um período de mais de vinte anos, As Gatas cantaram nos discos de artistas como Clara Nunes, Roberto Ribeiro, Conjunto Nosso Samba, João Nogueira, Simone, Elba Ramalho, Ney Matogrosso, Chico Buarque, Luiz Gonzaga, Gonzaguinha, Zeca Pagodinho, Ivan Lins, Beth Carvalho e até mesmo do norte-americano Paul Simon.
Nos últimos anos, Francineth tem se aproximado de jovens artistas do samba de São Paulo, como o cantor Tuco Pellegrino, o Grupo Glória ao Samba, o Cupinzeiro Núcleo de Samba e os Batuqueiros e sua Gente.
É importante notar que a trajetória dessa imensa cantora tem todos os tons de uma saga de uma grande estrela. Mas, talvez, pelo incompreensível que há na vida, ou pelas injustiças desse mundo, sua voz ainda seja desconhecida por muitos. Contudo, nunca é tarde para render o devido respeito e admiração a quem lhe é de direito. Basta ouvir o canto lindo e vigoroso que Francineth mantém aos 78 anos para se convencer de que se trata de uma legítima representante da mais alta nobreza popular que esse país já pôde produzir.
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