Pará ganha ‘prêmio’ de ativistas por liderar desmatamento no país
Por Alessandra Petraglia e Heloisa Aun
O Pará ocupa o topo do desmatamento de estados da Amazônia desde 2006, de acordo com o Programa de Monitoramento da Floresta Amazônia Brasileira por Satélite (PRODES). O dado preocupante foi o que levou a ONG Engajamundo a fazer uma ação no Amazon Bonn, evento que discutiu o desenvolvimento sustentável da Amazônia durante a Conferência das Nações Unidas sobre Mudança Climática, a COP 23, que acontece em Bonn, na Alemanha.
Os jovens ativistas entregaram para o Governador do Pará, Simão Jatene, um disco do MC Desmata, chamado Prevenção em Primeiro Lugar, do hit “não Para de desmatar”. Na COP 21, que ocorreu em 2015, em Paris (França), a instituição levou o Troféu Cara de Pau para a ex-ministra de meio ambiente, Isabella Teixeira.
“A ação teve como foco o governador porque, geralmente, quando falamos de desmatamento, é em relação ao Brasil Federação. Assim, relevamos a responsabilidade dos atores estaduais e municipais em relação ao controle e políticas afirmativas de combate a esse problema”, afirma João Henrique Cerqueira, coordenador do grupo de trabalho de mudanças climáticas do Engajamundo.
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Segundo Cerqueira, o objetivo da entrega do disco foi dar maior visibilidade sobre a responsabilidade dos entes estaduais em relação ao controle do desmatamento no país. “No início, a reação do governador foi tranquila, mas quando ele entendeu o que estava acontecendo, questionou as informações apresentadas”, diz o coordenador.
“Acreditamos que nós enquanto jovens temos que ocupar esses espaços e exercer nossas demandas de forma criativa e política. Falar em proteção da Amazônia é falar do meu direito, do direito dos povos tradicionais e das futuras gerações de habitar um ambiente saudável e sem escassez dos recursos naturais”, explica Stella Bispo, ativista da ONG.
A organização Engajamundo – donatária do Instituto Clima e Sociedade (iCS) – é liderada por jovens que acreditam na sua responsabilidade como parte fundamental da solução para enfrentar os desafios socioambientais no Brasil e no mundo. É a quinta vez que a instituição participa de uma conferência do clima da ONU, focando em ações de ativismo que impactam a agenda de debates e negociações.
- Confira a cobertura da COP 23 neste link.
Ativismo e impactos
A entrega do troféu durante a COP 21 trouxe resultados positivos, segundo João Cerqueira. “Com a intervenção, conseguimos maior acesso de comunicação com esses representantes do governo. Outro ponto importante é a visibilidade que tivemos ao mostrar que o posicionamento que o governo estava tendo ali não representava a sociedade civil, em especial a juventude.”
Para o coordenador, é preciso pensar no desmatamento em uma perspectiva além da regional, considerando que a maior parte das emissões nacionais está relacionada a esse problema ambiental. “É preciso entender a nossa responsabilidade em relação a isso, e também em relação ao clima local.”
“A diferença de temperatura, por exemplo, do Parque Nacional do Xingu para o deserto de desmatamento que tem ao redor dele chega a ser de 6 graus. A falta de florestas nessa região, que naturalmente teria uma abundância muito grande de vegetação, acaba impactando o clima local de forma extrema”, completa.
Cerqueira ressalta que as florestas são as bases das relações ecossistêmicas, o que traz inúmeros impactos ambientais, desde o ciclo de precipitação, até o fluxo das espécies que passam por certo território. “Isso impacta inclusive as populações que estão não só dependendo das florestas para subsistência, mas que vão acabar pegando esses impactos de colapso de relações, tendo falta de abastecimento de alimentos, secas, etc”, finaliza.
- A cobertura da COP 23 é uma parceria entre o Climate Journalism e oInstituto Clima e Sociedade (iCS) para incentivar a produção de jovens jornalistas sobre temas relacionados às mudanças climáticas e a mobilidade urbana.
- As jornalistas viajaram a convite das organizações.