Quadrinista surda faz sucesso na CCXP com narrativas silenciosas
A área de artistas independentes da Comic Con Experience deste ano é a maior da história do evento geek, são mais de 450 quadrinistas e ilustradores no Artists’ Alley. Dos estabelecidos que trabalham para Marvel e DC, e mostram ali o que produzem por amor, a novatos apresentando pela primeira vez o seu trabalho ao público. De cyberpunk a super heróis a narrativas bucólicas autobiográficas.
E a diversidade vai além do estilo do estilo das HQs. Em uma das mesas na fila F senta a quadrinista com deficiência auditiva Ju Loyola, com suas histórias que classifica como “narrativas silenciosas”. São histórias que podem ser compreendidas por crianças e adultos, e pessoas de qualquer nacionalidade, pelos simples motivo de não terem uma única palavra.
Inspirada em tirinhas sem palavras como Garfield e Calvin, Ju Loyola contou ao Catraca Livre que sempre foi atraída por boas histórias contadas apenas visualmente. Após já ter lançado a HQ de terror “The Witch Who Loved”, ela chega à CCXP com “Aventura nas Estrelas” e planeja mais livros com suas personagens Maria Lua & Cia.
- Tom Welling é confirmado na CCXP 2018
- Ativista pela diversidade nas HQs, Gail Simone estará no Brasil
- Bill Sienkiewicz volta ao Brasil para a CCXP 2017
- SP tem encontro gratuito com inclusão e HQs independentes
A artista não escreve roteiros convencionais para suas obras. Sua experiência de ter que entender a comunicação pelo que vê faz com que ela se identifique muito mais com o que observa do que o que as pessoas dizem. Ela compara seu trabalho com storyboards do cinema, que já precisam contar a história sem diálogos ou narração.
E basta folhear suas obras que fica claro que elas não são histórias em quadrinhos que perderam as palavras, mas sim que ganharam uma nova perspectiva. Onde cada quadro precisa ser “lido” por um olhar atento, que não apenas passa por balões de fala rumo ao próximo quadro.
Além da deficiência auditiva, Ju Loyola enfrenta outro entrave na comunicação com o público: a timidez. Timidez que vai sendo vencida aos poucos com a reação calorosa e a repercussão de sua vinda ao evento. A artista, que antes sequer tentava falar com o público que vinha à sua mesa, agora conversa auxiliada por sua irmã Nathali. Ela agora faz fonoaudiologia e treina a leitura labial para poder ir sozinha mostrar o seu trabalho em feiras.
Os sonhos para o futuro? “Quero ser uma quadrinista profissional”. Ela se inspira na trajetória de brasileiros estabelecidos no exterior como Fábio Moon e Gabriel Bá – inclusive seus vizinhos de mesa na Comic Con – para poder viver de criar suas narrativas silenciosas. Ela ainda teme que a fala possa ser um entrave profissional, mas, quem sabe, com o olhar mais atento como o que suas histórias pedem, ela consiga o que que quer.
Para quem não puder ver pessoalmente o trabalho de Ju Loyola na Comic Con, ele pode ser conferido online no Intagram @loyola_ju.