Bairro de inventores

Nas redondezas de Kendall Square, estão centros de pesquisas sobre o câncer, o cérebro e o genoma

Formado em matemática pela Universidade de Brasília, Yuri Ramos estudou administração no MIT e, neste ano, abriu uma empresa, batizada de mob376, para desenvolver programas destinados a tablets e celulares. Descobriu, então, que, pagando apenas R$ 400 mensais, ele teria à sua disposição diariamente uma estação de trabalho, salas para reunião e uma cozinha repleta de barras de cereais, salgadinhos, chocolates, sorvete, refrigerantes e vários tipos de cerveja. “Só o que eu como já alivia parte dessa conta”, afirma Yuri. A generosa cozinha não é nada em comparação com as demais vantagens.

A seu lado, circulam empreendedores dos mais diferentes países e idades, todos obcecados pela ideia de abrir uma “star-up”- uma empresa iniciante focada em inovação. Mas também circulam investidores com vontade e dinheiro (muito dinheiro) para apostar em projetos.

Até pouco tempo atrás, o bairro em que Yuri abriu sua empresa era um pântano e ainda é quase desconhecido internacionalmente, mas, segundo o Boston Consulting Group, em nenhum lugar do mundo existem tantas “start-ups” por metro quadrado. A mão de obra qualificada atraiu empresas como o Google, a IBM, a Microsoft e a Novartis, entre muitas outras.

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Mesmo nos Estados Unidos, Kendall Square é pouco conhecido. Fica em Cambridge, vizinho de Boston. A transformação de um pântano em um centro planetário de inovação explica-se por uma simples razão. O bairro está entre o MIT e Harvard, onde jovens alugam escritórios ou minúsculas estações de trabalho para abrir suas empresas e aproveitar a rede de conexões locais.

A imagem que sintetiza o espírito do lugar está no chão. Há duas semanas, foi inaugurada ali uma praça dos inovadores. Nomes de empreendedores famosos, como Thomas Edison, Steve Jobs ou Bill Gates, estão gravados no chão, numa versão empresarial da calçada da fama de Hollywood. Ao passar pelas placas, o celular capta a história de cada um daqueles inventores.

A efervescência é especialmente visível no prédio em que está Yuri Ramos, batizado de Cambridge Innovation Center, que, sem querer, virou um misto de hub com incubadora. “Não sabíamos o que estávamos fazendo”, conta Tim Rowe, que é filho de professores universitários (de Harvard e do MIT).

Para ajudar sua mulher a desenvolver uma empresa, Tim alugou uma sala. Pouco tempo depois, alguns pesquisadores se interessaram em dividir o espaço para economizar dinheiro. “Percebi que havia ali um mercado.”

Atualmente ele aluga vários andares num prédio (“Vou alugar mais e mais”, entusiasma-se), onde criou um ponto de encontro para quem inventa e para quem está disposto a patrocinar a invenção. “A inovação está no DNA da cidade. Basta lembrar que aqui, por exemplo, se fez a primeira ligação telefônica da história da humanidade, em 1876, que aqui foi realizada a primeira demonstração do uso da anestesia e que aqui se viabilizou a industrialização da penicilina”, conta Tim.

Além de tecnologia da informação, a biotecnologia é um dos grandes focos de Kendall Square. Nas redondezas, afinal, estão centros de pesquisas sobre o câncer, o cérebro e o genoma. No Media Lab, do MIT, há um departamento dedicado apenas a implementar tecnologia da informação em medicina, do desenvolvimento de próteses a aplicativos de saúde para celulares.

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