As exóticas comidas de rua da Índia

Por: Catraca Livre
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Display com vários tipos de doces (Fotos: Matheus Pinheiro de Oliveira e Silva)[/img]

Kolkata era um paraíso para os doces e além de lojinhas de doces a cada esquina, tinham muitos doces que eram muito bons. A maioria era feito de leite e tinha um sabor dos deuses, também só podia ser, pois o leite vinha das vaquinhas sagradas!

Mas outros não agradaram o meu paladar, como um doce que era prateado em cima que além de ter gosto estranho parecia que você estava comendo papel alumínio que estava grudado. Neste processo de experimentação, posso dizer que ao término do intercâmbio, após três meses eram dois doces que eu comia quase que todos os dias, o mitha dahi e rasgulla (pequenas esferas feitas com chhena, espécie de queijo indiano, e massa de semolina, cozida em um xarope de açúcar).

Só de falar me dá água na boca e vontade de comê-los!

 

Eu comia todo dia na vendinha os mitha dahi que os dadas (big brother , ou parceiros na tradução livre) ficaram tão amigos que no último dia de intercâmbio eu ganhei das mãos deles um pote de 1 kg do doce!

Mitha dahi é um iogurte fermentado e doce, muito comum nos estados de West Bengal, Orissa e em Bangladesh, país que faz fronteira ao leste da Índia. É feito com leite e açúcar, e usa iogurte e requeijão. É sempre servido em potinhos de cerâmica porque o recipiente faz com que a evaporação gradual de água, através das suas paredes porosas, auxilie na temperatura adequada para o crescimento da cultura do processo de fermentação. Muitas vezes, o iogurte é delicadamente temperado com uma pitada de cardamomo (elaichi) para a fragrância.

Em celebrações como Durga Puja e Diwali é muito consumido entre os hindus.

E você achou que apenas de doces vive a culinária de Kolkata? Estranhou de eu não ter começado a falar das comidas indianas que você conhece pelos temperos exóticos e pimentas fortes?

Pois bem, Kolkata era uma região que as comidas eram mais suaves e não se comparam com os sabores das regiões de Punjab e Rajasthan, que são mais fortes!

Mesmo assim, tinham um  universo de possibilidades de sabores a serem explorados.  Eu me aventurava pelas ruas e ia à caça de street foods e sabores exóticos.

 

Um dos sabores que somente eu e um amigo de intercâmbio nos aventuramos e comíamos era a puchka.  Iguaria muito popular nas ruas e comumente chamado de “street snack” (apertivo de rua) na Índia, Paquistão, Bangladesh e Nepal. Consiste de um pequena massa fina, frita, oca e que é quebrada com o dedão, com uma técnica surpreendente pelo vendedor. Depois de feito o buraco, ele coloca uma mistura de água com limão, chatni (condimento agridoce ou picante) de tamarindo, pimentão, batata, cebola, grão de bico e chaat masala.

Era um banquete que enchia e custava barato. Chegamos a comer umas 25 puchkas e pagar menos de R$ 2.

Outra comida de rua que entre um almoço e outro eu atacava, era os chicken egg rolls, uma espécie de panqueca enrolada com frango e ovos, e o toque final, enrolada no jornal.

Além dessas tinha o biryani, um prato feito com uma espécie de grão de arroz tipicamente indiano chamado Basmati, com grãos maiores que acompanhado de carne de carneiro tinha um sabor único.

A chola bhatura ou chana bhatura também era uma das refeições típicas indianas que eu comia comumente. Era uma refeição servida com cebola, senoura, picles, chatni verde e achar (um condimento indiano). Vinha acompanhado com lassi (iogurte para quebrar o ardor de pimenta) e pães típicos fritos.

Que tal uns bolinhos fritos feitos com batata e servidos por um simpático indiano.

 

As pessoas me diziam se eu não tinha medo de comer na street food ao invés de ir aos restaurantes. E eu respondia com muita convicção, pelo menos na street food você está vendo a pessoa fazer a comida ali na sua frente, independente de ter condições ou não adequadas.  No restaurante você não consegue ver como é feito e onde é feito a comida. Então em todo caso você terá risco.

Tanto é que eu fazia questão de comer na rua, porque era um atendimento mais rápido, a comida ficava pronta na hora e você conseguia fazer novos amigos locais que em uma próxima vez já saberiam o que você iria pedir.

Este é o caso dos meus amigos da banca do suco de laranja. Todo dia eu passava por eles para pegar metrô e ir para a escola. Até que resolvi começar a tomar o suco de laranja e tornou-se um hábito. O pit stop antes de pegar metrô era quase que obrigatória. Um copo de suco de laranja, um bate-papo com eles e depois a ida ao trabalho. Quando eu não ia trabalhar e encontrava-os no dia seguinte, eles perguntavam o que havia acontecido. Ficamos amigos e aprendia um pouco mais sobre a cidade e a vida dos indianos com eles.

 

Ou a street food que eu pegava janta antes de ir para a casa. Um macarrão ou um arroz com legumes e frango e podia dormir sem fome.

 
 

Essas jantas ai me pouparam bastante. Nunca fui um mestre em cozinhar e quando eu fazia saia cada gororoba. Então se disser que a comida de rua é feia é porque não viu as jantas que eu fazia.

 

Mas só falei das coisas que eu comia. E as que eu não comia?

Acho que se fosse para listar uma coisa que marcou meu paladar negativamente por seu gosto diferente e que eu não comi mais de uma vez, e da primeira vez foi no sofrimento porque alguém havia me dado, era o Bhel Puri que em Kolkata era conhecido como Jhaal Muri (“spicy puffed rice” ou arroz tufado picante). Ele é feito de arroz tufado, legumes e um molho de tamarindo picante, além de tomate, cebola e uns condimentos.

 

Definitivamente não guardo boas recordações daquele sabor!

Estes foram algumas das minhas experiências gastronômicas. Espero que tenham gostado e que não tenham ficado com dor de barriga!

Matheus Pinheiro de Oliveira e Silva é turismólogo de formação e empreendedor social de coração. É co-fundador do blog de viagens inRoutes. Já morou um ano na Indonésia onde estudou o 3º colegial pelo Rotary International e trabalhou voluntariamente em Kolkata, na Índia, durante três meses pela AIESEC. Viajou por 14 países e se considera um cidadão global. Atualmente é empreendedor social no MERAKI. É fundador e mantém a fanpage GÜD. No Instagram ma_tai.