O jeito mais fácil e barato de conhecer o deserto do Saara
Imagine você sozinho, no alto de uma duna, com uma paisagem de tela de descanso do Windows a perder de vista e um silêncio tão profundo que você começa a ficar sensível ao barulho de um grão de areia se movimentando ao longe. Pois é… O Deserto do Saara mexe com os sentidos, você fica atordoado desde o início. É muita luz, muitas linhas se sobrepondo, muita calma e, claro, muito calor.
O Deserto do Saara sempre habitou meu imaginário com sinônimo de aventura, desafio, mistério. Por isso, desde criança coloquei na cabeça que um dia iria visitá-lo. No ano passado tive a chance de ir e garanto: vale cada centavo, mesmo que dê muita coisa errada, como deu comigo.
Para chegar lá, o jeito mais simples é ir por Marrocos. Foi o que eu fiz. Você pode comprar um pacote antes mesmo de chegar lá. Fiz várias cotações pela Internet nas agências mais conhecidas e os preços variaram de 2 a 4 mil reais por quatro dias de viagem. Mas conversando com quem já foi, descobri que seria bem mais barato comprando lá mesmo. Decidi arriscar.
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Meu ponto de partida foi Fez, o que complicou um pouco a situação e deixou o passeio mais caro. A maioria dos passeios sai de Marrakesh e é fácil achar alguma agência vendendo o passeio nas ruas da capital. De lá, negociando bem, o pacote sai por uns € 70 por três dias.
Com quem está em Fez a negociação é bem mais difícil, já que o número de turistas é menor. Pra piorar, estávamos no Ramadã, mês sagrado para os muçulmanos, em que muitos praticam o jejum durante o dia, evitando trabalhar neste horário.
Depois de muito chorar, consegui um bom preço: € 120 por três dias. Mas confesso, não foi fácil.
Como funciona
Cada agência tem um esquema diferente, mas a maioria segue um roteiro básico. O pacote incluía um motorista particular, que também serviria como guia, duas noites no deserto, café da manhã e janta. Fechado o pacote, o motorista nos pegou no dia seguinte na porta do hostel onde eu estava hospedada.
Aqui começa o problema do preço barato demais. O nosso motorista não falava muito bem inglês, então ficava difícil a comunicação. O bom é que ele tinha super boa vontade. Ele explicou a história dos povos do deserto e como ele era dividido.
Passamos por Ifrán, que é conhecida por ser “a Suíça do Marrocos”. É surpreendente ver um condomínio com casas no estilo europeu no meio do nada! Depois passamos por um Vale dos Macacos, que eu não curti nem um pouco. São vários macacos já adestrados que ficam no meio da rua pra turista ver e dar comida.
Vale a parada em Ziz Gorge, um imenso vale, com árvores numa espécie de canion. É impactante ver aquele oásis no meio do deserto. É uma faixa verde serpenteando o rio. Belo demais!
Quase no fim do dia chegamos à Merzouga, onde pegamos um carro com tração nas 4 rodas para andar pelo deserto até o início das dunas. Lá que ficam os hotéis.
Aí começa o drama de pagar barato. Meu hotel era bem ruinzinho. Não tinha nenhuma das atrações vendidas pela agência. A desculpa deles era que era ramadã. Ficamos um dia e meio apenas com a piscina como atração. No restante do tempo tentava não morrer de calor em um quarto de ar condicionado no meio do deserto. Juro que nunca passei tanto calor na minha vida. Você tem preguiça de existir.
No fim da tarde do dia seguinte, pegamos os dromedários e fomos para onde ficam as dunas. São duas horas montados no bichinho. Quem não tem a musculatura forte ou não está acostumado com cavalos sofre bastante. O que mais me incomodou foi a exploração dos animais. Alguns eram um pouco maltratados. Fiquei pensando e percebi que não valia a pena explorar os animais, o passeio à pé até as tendas ou de 4×4 seria mais bacana.
Enquanto fomos andando, o sol foi caindo e vou te contar: não tem experiência parecida com o que vivemos lá. É tudo muito mágico. O sol, o vento, o silêncio. E quer saber o melhor? Fui na lua cheia! Pude ficar andando sozinha pelas dunas quando o sol se pôs. Foi lindo!
Neste dia nós dormimos numa tenda, teve fogueira, os guias cantaram e tocaram músicas berberes, tambor. Ficamos conversando até mais tarde. Confesso que neste dia tive um pouco de medo. Eu era a única mulher num grupo de sei lá quantos homens. Aí já viu, né? Passa um bando de coisas pela cabeça.
O bom é que a noite foi curta. Ainda de madrugada acordei para ver o sol nascer. Levantei sozinha enquanto o pessoal do acampamento dormia e fui para o meio das dunas. Outro espetáculo. Se você tiver oportunidade faça isso. Fique um tempo só andando no meio do deserto. É um misto de sentimentos inexplicável!
Depois que o sol nasceu, pegamos nossos dromedários e voltamos para o hotel. Como não tinha nada para fazer por lá, pedi para voltar antes para Merzouga. Foi a melhor coisa que eu fiz. Quem puder, passe um dia por lá.
Eu odeio atrações fabricadas para turistas e lá em Merzouga não tem nada disso. Eles são apenas a porta de entrada do deserto. Não vai ter ninguém querendo te vender nada, as pessoas são super hospitaleiras e os preços são os mais baratos que vi no Marrocos. Visite as feiras e o antigo forte da cidade. Compre muitas tâmaras! Eu trouxe um estoque de doce, xarope e até café de tâmara para o Brasil.
Se for no fim de semana, assista o futebol deles no centro da cidade, coma com eles no comércio central. Faça uma consulta com o curandeiro local. Ele me passou uma mistureba de chás para mim que salvou minha vida. Passou também um óleo com cérebro de dromedário para inflamação no tornozelo que olho com desconfiança até hoje. Enfim, viva a cidade, que é mega segura. É lá que você terá experiências genuínas do que é viver no Marrocos e sairá com experiências únicas.
Relato por Bárbara Lins, do blog Descobertas Barbaras