O melhor jeito de viajar por Amsterdã é completamente free

Começo essa história, às 9h da manhã, dentro de um confortabilíssimo trem no meio do Japão, partindo de uma das cidades mais sagradas do Shintoismo: Ise. O Gui dorme ao meu lado (como sempre acontece em qualquer meio de transporte) e eu fico embasbacado pela beleza da região. Vales polvilhados de pequenas casinhas de madeira com telhados brilhantes e de curvas carasteristicamente sensuais cruzam pela minha janela, emoldurados por montanhas infinitas.

Ao meio-dia chegaremos a Kii-Katsuura, ponto de partida de uma caminhada de duas horas até um dos templos mais pitorescos da região, Kumano Taisha, com a cachoeira dita mais alta de todo o Japão.

 

Assim tem sido nossa vida nos últimos 5 anos juntos. Viajamos em média por 70 cidades diferentes todos os anos. Durante alguns anos fazemos isso de mochila nas costas, enquanto eu trabalho remotamente para agências de publicidade internacionais e o Gui escreve seu doutorado. Outras, montamos uma base em alguma cidade e saíamos para explorar o mundo freneticamente todos os fins de semana e em períodos de férias.

Eu sempre fui assim. Com 17 anos fui estudar fora, após vender tudo que tinha (o meu piano vendido me sustentou por um ano) e fui conhecer o mundo. De lá para cá, pouco mudou. Achei que os anos na estrada e a idade iriam afogar esse devaneio juvenil de “rodar o mundo” e que em algum momento iria querer comprar um carro, uma casa, ter filhos correndo pelo jardim com os avós vindo almoçar em casa aos domingos. A cada ano eu pensava “é só mais esse ano nessa vida desenraizada, ano que vem a gente pára um pouco” – mas isso nunca aconteceu.

O mundo acabou nos parecendo interessante demais para deixarmos inexplorado.

Como nós sempre fomos relativamente mãos-de-vaca, porque vivíamos na estrada, acabamos aprimorando nossa logística de sobrevivência ninja-de-ultra-economia para sempre nos movimentarmos sem gastar muito. Estávamos sempre atrás de comidas baratas, de academias de ginástica econômicas, de escolas de idiomas de graça oferecidas pelas prefeituras, de cinemas e museus que oferecessem dias com descontos ou totalmente de graça; e por aí íamos.

Ao longo desse processo, descobrimos que a vida poderia, sim, ser vivida com apenas uma mala e uma bicicleta. Não temporariamente, e sim por um longo tempo. Ou quem sabe para sempre. Enquanto estávamos conectados com o mundo internacional, ficávamos de olho nos movimentos da “shared economy”, onde cada vez menos buscam-se certezas absolutas e confortos materiais. O negócio é ter uma vida aberta, leve, simples, onde tudo pode ser compartilhado, do carro que nos transporta (Uber) até o lugar onde vivemos (AirBNB).

A idéia do Two Free Guys nasceu disso tudo, no ano passado: uma vontade louca de compartilhar um pouco dessa vida desconectada, recheada de aventuras de graça, e o prazer que ela oferece, com o resto do mundo.

À época, vivíamos em Amsterdã e já tínhamos, logicamente, experimentado quase tudo o que a cidade oferecia de graça (uma imensidão de oportunidades), e resolvemos começar por lá. Retraçamos nossos próprios passos para oferecer a amigos, e à comunidade de viajantes mundial, uma Amsterdã que, embora cara, poderia ser explorada lindamente sem gastar um tostão. Fizemos 40 vídeos curtinhos com cada uma das experiências e colocamos no ar.

Da lá partimos para Copenhague. Agora estamos no Japão.

Não sabemos onde vamos parar depois do Japão. O mês de maio ainda é incerto. Talvez um freela remoto para colocar um pouco mais de grana no cofrinho. Talvez continuemos viajando em direção ao Vietnã ou Tailândia, onde o custo de vida é quatro vezes mais barato do que em São Paulo, só que com quatro vezes mais conforto. Não sabemos. Não nos importamos.

E assim a gente vai descobrindo o resto do mundo e acreditando piamente na máxima de que as melhores experiências da vida estão ao alcance de todos, de graça. Queremos inspirar aqueles que nos deem ouvidos a tentarem, mesmo por apenas um fim de semana que seja, a olharem para os lados e se aventurarem a descobrir algo novo. Abraçar a cidade onde vivem. Entrar num ônibus em direção a algum lugar novo. Andar por novas ruas, entrar num novo parque, sentar numa nova calçada e assistir à vida dos outros. Simples assim.

Relato por Andre Matarazzo