Mulher, solteira e viajante: dicas de como viajar sozinha
Dia desses, na mesa de bar, uma amiga da minha idade, beirando os 30, lançou que estava com medo de viajar sozinha pela primeira vez. Como iria caminhar por Bogotá? Conseguiria fazer o passeio no ônibus turístico sem o namorado ao lado? E na hora de entrar em um restaurante? Seria só sentar à mesa e pedir o prato?
Com tantas apreensões por coisas tão “complexas”, eu estava certa de que ela passaria semanas solitária e isolada na capital colombiana. Mas não. “O pessoal da empresa onde eu trabalho chega só no dia seguinte. Vou ter que ficar um dia inteiro sozinha lá”, reclamou. Minha amiga, coitada, seria obrigada a viver longas e duradouras 24 horas forçada a ser independente e a conhecer a si mesma.
Não sou como ela. A primeira vez que viajei para outro país completamente sozinha, sem que qualquer familiar me acompanhasse e sem que eu conhecesse uma pessoa sequer no destino, foi aos 11 anos. Concorrendo com adultos em provas de conhecimentos gerais e redação, eu havia ganhado o prêmio Cidadão do Mundo da escola de inglês, e por duas semanas dormiria em um alojamento, estudaria o idioma e passearia nos Estados Unidos. A Natália que sozinha pegava um avião rumo à Flórida era mirradinha, magricela, a mais baixinha da turma, de cabelo chanel, franja e aparelho fixo. Chorou de medo só até chegar ao aeroporto. Depois disso, viciou.
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A Natália dos 28 anos continua baixinha, e não espera os amigos ou o namorado para tirar férias. Compra a passagem e vai. Simples assim. Aprendeu que o melhor jeito é abrir mão do conforto e ficar em um hostel. Já fez isso em Quebec, Barcelona, San Andrés e Colônia e assim descobriu que há muita gente que, como ela, arruma a mala e parte. Também sabe que pode agendar um curso qualquer em um país qualquer. Inventou de fazer aulas de alemão por três semanas em Berlim e voltou para o Brasil com assuntos que se alongaram por anos com os novos amigos: a jornalista ucraniana, o cozinheiro espanhol, a enfermeira italiana, a administradora chilena…
Por ossos do ofício como repórter de turismo, também viaja muito sozinha. E, voilá, tem que admitir: não é sempre um mar de rosas. Em Las Vegas, ouviu xavecos desaforados do segurança da balada por estar na fila arrumada e sem a galera. Em Sydney, teve de responder grosso ao homem que quis sentar-se junto no restaurante só porque a cadeira da frente estava desocupada. E na Colômbia simplesmente relevou a cantada à beira-mar, virou as costas e foi fazer algo mais agradável: mergulhar no Mar do Caribe.
Mas não importa. Foi como ‘lonely traveller’ que pôde caminhar numa ilhota australiana ouvindo só o rugido do vento e das ondas, abrir um livro e nem ver a tarde cair entretida em um gramado de Berlim e se dar ao luxo de ficar das 9 da manhã às 9 da noite em um outlet de Seattle experimentando e comprando sem que ninguém a apressasse. Agora, mandaria o recado para a Natália dos 11 anos e para a amiga receosa dos quase 30 anos: vá. Viajar sozinha vai lhe fazer muito bem.
Por Natália Manczyk, do blog Porta de Embarque