Encontrar uma bicicleta 100% perfeita para favorecer o seu estilo de pedalada é uma missão quase impossível. O único caminho é apelar para quem a construa sob medida. E esta é justamente a proposta da marca artesanal gaúcha República.
Comandada pelos ciclistas Angelo Trois e Fernando Pavão, a empresa de Porto Alegre fabrica manualmente, desde 2012, bicicletas otimizadas para ciclistas com estilos de vida bem diversos. Há modelos ideais para viagens, treinos, provas, aventuras fora da estrada e para usar na cidade.
E o grande diferencial da marca é que o ciclista participa diretamente de alguns processos durante a fabricação da magrela dos seus sonhos. “Acreditamos que é a bicicleta que deve vestir o ciclista e nunca o contrário. Cada um tem uma necessidade diferente, e a indústria muitas vezes acaba se esquecendo disso”, comenta Angelo Trois.
O artesão conta que esse processo minucioso exige encontrar as medidas certas e os materiais perfeitos para garantir que o produto entregue um equilíbrio de grandezas como agilidade, desempenho, rendimento, estabilidade, rigidez, peso, durabilidade e conforto.
De acordo com Trois, a escolha cuidadosa dos materiais usados para fabricar as bikes é fundamental para garantir todos esses atributos. E o principal deles é a liga de aço chromoly (ou cromo-molibdênio), que é produzida por marcas italianas e inglesas. A matéria-prima tem menos carbono em sua fórmula, o que aumenta a durabilidade.
“No que tange à resistência e versatilidade, esse material lida muito melhor com pancadas acidentais do que o alumínio ou a fibra de carbono, por exemplo. Além disso, é mais facilmente reparável. É, portanto, ideal para uma bicicleta para usos extremos, como cicloviagens e aventuras de longa quilometragem em lugares remotos”, revela.
Os tubos de aço chromoly também são mais fáceis de se trabalhar, o que facilita ajustes de geometria e alinhamento. Ou seja, é o ingrediente principal para produzir uma bicicleta que te acompanhará por toda a vida.
Conhecendo melhor o ciclista
O processo de fabricação da bike ideal começa com uma boa conversa. “É nesse momento que conhecemos as experiências, preferências e expectativas dos nossos clientes. Com essas informações, podemos indicar alguns dos modelos que desenvolvemos e passar o orçamento”, acrescenta Angelo.
Para obter as medidas do corpo do cliente, o time da República envia um guia com as medições necessárias e recomenda que elas sejam feitas com o auxílio de um profissional de bikefit.
Com todas essas informações recolhidas, os artesãos projetam a magrela já com todos os ajustes finais na geometria do produto. E ainda trabalham nos itens opcionais, como bagageiros, bolsas e suporte de luz.
Todo esse contato inicial demora, em média, quatro meses. “Esse tempo de espera é, na verdade, fundamental para o amadurecimento do projeto. Afinal, não são raras as vezes em que o cliente, conhecendo mais sobre as possibilidades e refletindo sobre seus objetivos, realiza alterações na ideia inicial”, conta o sócio sobre a produção artesanal.
Customizando a magrela
Depois dessa minuciosa investigação sobre os desejos e necessidades do ciclista, o ateliê da República, que opera em aproximadamente 30 metros quadrados, começa a produção prática da bike. O processo leva, em média, mais dois meses.
A marca encomenda os tubos de aço necessários para o projeto, faz cortes nesse material seguindo o desenho da magrela, faz as junções das partes no gabarito de solda e checa o alinhamento do quadro e do garfo em diversos momentos. Então, parte para os acabamentos e acessórios.
Trois conta que as junções dos tubos de aço são feitas a partir da técnica de fillet brazing, a brasagem utilizando latão. “Esse processo acontece a baixas temperaturas, em comparação com a solda comum, para preservar as propriedades do material. Além disso, cada junção recebe um meticuloso acabamento de lima e lixa para remover o excesso de material e deixar a superfície lisa e perfeitamente arredondada”, detalha.
Outra etapa fundamental é a pintura, algo muito importante para o cliente, como conta o empreendedor. “Temos uma parceria com um pintor local especializado em bicicletas, o Maurício Zampiron. A ideia é oferecer como opcional a possibilidade de pinturas inteiramente customizáveis, que permitem basicamente qualquer cor, mistura de cores, máscaras, degradês e acabamentos especiais”.
Como a República entrega produtos para todos os cantos do Brasil e outros países (como EUA, Itália, Bélgica e Canadá), a montagem muitas vezes fica por conta do cliente. Mas a marca artesanal recomenda que a regulagem final seja feita pelos mesmos profissionais que participaram da medição corporal do ciclista.
Enfim… a pedalar!
A longa espera pela bicicleta dos sonhos, que geralmente demora cerca de seis meses, vai valer a pena. A ansiedade é muita, mas é preciso entender que o tempo de produção mais lento é fundamental para garantir a qualidade máxima.
“Muitas vezes estamos acostumados a comprar produtos por impulso. Nós mesmos queremos ser mais produtivos do que podemos e precisamos nos lembrar constantemente que aumentar a produção aqui não é o mesmo que colocar o dobro de insumos em uma máquina para produzir o dobro do outro lado da linha, como em uma indústria. A natureza desse trabalho manual é diferente e incompatível com o imediatismo”, explica o artesão.
E uma bike perfeita dessas também é capaz de mudar a relação do comprador com o ciclismo, afirma Angelo Trois. “Fazemos tudo para que o cliente se sinta melhor do que nunca em cima de sua bicicleta e que sinta vontade de pedalar cada vez mais. Queremos que essa experiência abra seus horizontes e permita enxergar as máquinas da mesma forma que nós as enxergamos, como uma verdadeira paixão”.