Apaixonada pelo trabalho manual desde a infância, a artesã Catharinna Oliveira criou a marca de vestuário House of Gaia, dedicada a produzir peças modernas, atemporais e sofisticadas em tricô e crochê.
Sem coleções sazonais, que perdem a atualidade logo, a pequena produtora aposta no conceito de slow fashion. Ou seja, itens duráveis, com preço justo e que valorizam tanto a mão de obra quanto o uso de matérias-primas naturais, sem gerar impacto ao meio ambiente. Por isso, a marca trabalha apenas sob demanda, sem manter um estoque.
“Não utilizo nada proveniente de armarinhos, apenas materiais de fornecedores que eu conheço a procedência. Tenho três parceiros incríveis para garantir lã, seda e algodão orgânico da melhor qualidade. Todos os fios são fiados manualmente”, comenta Catharinna, que também se orgulha de não usar nenhum processo de tingimento em suas peças.
Durante a criação, a artesã tem uma ideia, faz um esboço e inicia uma fase de testes, para descobrir se o caimento e os materiais funcionam para aquele item, que pode ser desde casacos, gorros, quimonos e até um blusão nórdico. Esse momento exige muita paciência, porque é preciso desmanchar e refazer os pontos diversas vezes até o resultado ficar perfeito.
“Sou impactada pelas coisas que vejo e ouço, mas de uma forma bem livre, sem pressão. Um dia, eu estava assistindo à série “Outlander” e me senti inspirada para criar o blusão nórdico, com suas tramas largas e modelagem ampla, mas bem minimalista”, lembra.
Para dar conta de toda a demanda, a House of Gaia conta com uma rede de crocheteiras e especialistas em vestuário e acessórios. São sete mulheres, moradoras de São Paulo e do Rio de Janeiro. E Catharinna quer ampliar ainda mais essa cadeia, contratando profissionais talentosas por todo o país. Seu objetivo é não ter nenhuma limitação geográfica, fornecendo roupas únicas para quem quiser.
O grande desafio da marca foi padronizar as modelagens, mas a empreendedora encontrou a solução perfeita. As receitas são compartilhadas de duas maneiras: por uma contagem de pontos e por centímetros. Dessa maneira, todas as peças ficam uniformizadas, mesmo que cada artesã faça o ponto de um tamanho diferente.
Da Terra para a Terra
Outro detalhe importante na produção da marca é que cada peça é desenvolvida com muito carinho e cuidado. Esse lado afetivo está expresso até em seu nome. Gaia é a Deusa da Terra, a criadora do planeta e a mãe dos deuses na mitologia grega. Ela gerou sozinha Urano (o céu), Ponto (o mar) e as Óreas (as montanhas).
Por isso, o lema do negócio é “o que vem de Gaia para Gaia”, já que tudo o que vem da Terra passa pelas mãos dos moradores do planeta, para suprir as necessidades de outras pessoas que também ocupam o território. Nesse contexto, quanto mais afeto e cuidado na produção, melhor.
Outra importante missão de Catharinna à frente da House of Gaia é mostrar o real valor dos produtos artesanais. Para ela, é muito injusto as grandes grifes venderem peças em crochê por valores exorbitantes, enquanto os trabalhadores manuais são tão desprezados pelos consumidores. Assim, Catharinna também se empenha em auxiliar os artesãos e artesãs a se profissionalizarem.
Esse movimento teve início em 2016, com o surgimento da escola online Crochê Moderno. Além de ensinar receitas para diversos perfis de público, com mais ou menos experiência, a iniciativa dedica-se a dar dicas para fomentar a criação de novas marcas criativas e fortes, capazes de gerar uma renda importante aos seus fundadores.
“O bonito do processo manual é que, apesar de padronizada, cada peça tem a sua particularidade. Não existe nada que seja completamente igual. Ao mesmo tempo, é uma forma de nos conectarmos com uma arte ensinada a nós por nossas mães e avós”, defende.