“Calçados para dançar, molhar, pisar, ir, viver e descobrir”. É assim que a marca artesanal mineira João de Barro Botinas se define. Criada em 2016, ela aposta em uma linha atemporal e durável para acompanhar os clientes em vários momentos da vida.
Tudo começou em 2013, quando Luiza Navarro, formada em Negócios da Moda, encontrou a botina perfeita em Goiás. Foi paixão à primeira vista – e ao primeiro uso. O sapato acompanhou as aventuras da empreendedora por anos.
No meio do caminho, ela entendeu que precisava produzir – com as próprias mãos – algo que fosse tão confortável e resistente quanto aquela botina, já que não achava nada equivalente disponível. Foi quando Luiza ativou o modo investigadora para encontrar os melhores fornecedores para viabilizar seu sonho.
“Fiz mais de 45 testes e nada ficava legal. Nisso, eu já tinha site pronto, logo, embalagem, tudo menos a bota. Um dia, muito frustrada, decidi destruir minha botina, porque eu tentava achar exatamente aquele fornecedor e não conseguia, já que na etiqueta só estava escrito Paulo e eu já tinha tentado todas as combinações possíveis e imagináveis nos sites de busca, sem sucesso”, conta.
Mas o universo intercedeu e a história teve um final inesperado. “Quando destruí o sapato, encontrei um código entre o solado e a forma. Joguei esse número nos buscadores, achei a empresa de solados e mandei a foto da bota perguntando para quem eles forneciam. Recebi uma lista bacana e encontrei o tal do Paulo, que é mineiro e estava pertinho de mim”, completa.
Paulo é o pai do Murilo, um dos irmãos que conduz essa fábrica totalmente familiar e sustentável. É com ele que a Luiza fala todos os dias, buscando dar forma aos seus desejos.
“Eu cheguei lá e comecei a ver todos os materiais que ele usava na fábrica. Naquela época, eu não sabia nada, mas sugeria: vamos usar esse couro com essa linha, com esse solado. Então, fomos montando algo juntos na hora, foi uma coisa muito natural”, lembra-se.
Antes da João de Barro efetivamente ganhar o mundo, a Luiza e o Murilo uniram suas expertises para desenvolver a botina ideal. E a marca só foi lançada após a empreendedora ficar com o calçado no pé por um ano, diariamente.
Expansão e ousadia
Couro, elástico de poliéster, sola de borracha e linha. Essa combinação de ingredientes foi só o começo para a inquieta Luiza. Depois de desenvolver um modelo capaz de resistir “à lama, aos tropeços, às poças e às desilusões”, como aparece no site da marca, vieram novas vontades.
Após fazer um curso de calçado manual, a empresária abriu sua mente. Para atender as diferentes demandas do mercado e ousar nas criações, passou a desenvolver outros tipos de sapato, como papetes e mules. Além disso, em 2020 nasceu uma linha vegana e, em 2021, uma loja física.
Embora seja apaixonada pelo couro, Luiza sempre quis fazer produtos veganos também. Foram três anos de pesquisas até surgirem os primeiros modelos nesse estilo. “Fiz inúmeros testes com o couro de uma planta utilizado por algumas marcas em bolsas e cintos, mas ele ainda não é resistente para calçados”.
Como em outros episódios da marca, Luiza mostrou que resiliência é tudo para quem se propõe a fazer um produto artesanal de qualidade. “Eu estava bem chateada, até que conheci os donos da Projeto Base, quando ela ainda existia, e fui apresentada ao fornecedor deles, o Gabriel. Nos entendemos muito e, além do insumo de qualidade, ele me deu abertura para produzir sem um pedido mínimo muito grande, que é exatamente o que impacta o trabalho do pequeno produtor”.
A linha vegana da João de Barro utiliza um couro feito de poliuretano (PU). Apesar de ser um derivado do petróleo, é um material bem sustentável e resistente. “Atualmente, na indústria brasileira, é a matéria-prima mais reciclável que existe. Hoje, ele consegue ser reaproveitado em pisos, pistas e blocos de concreto e existem estudos para torná-lo biodegradável”, acrescenta.
O desafio, no entanto, está nas mãos dos consumidores. Para o reaproveitamento do PU, é necessário o descarte correto do insumo. A João de Barro está preparada para receber os sapatos desgastados e, por isso, faz questão de, nas suas comunicações com os clientes, explicar a importância de manter esse ciclo ativo, evitando o prejuízo ao meio ambiente.
Nada disso seria possível sem as sólidas parcerias construídas ao longo desses anos. Além do Murilo e do Gabriel, Luiza trabalha com outras designers e está sempre em busca de feedbacks. “É um trabalho realizado em várias mãos”, comenta.