Quando o assunto é tricô e crochê, logo pensamos nas nossas avós, que faziam aquela malha de lã quentinha para nos aquecermos no frio do inverno. Trazer todo esse afeto e as técnicas passadas de geração para geração nas famílias é a missão da Muta, uma marca artesanal gaúcha de acessórios para a casa.
E justamente essa figura amorosa das avós – já que a palavra “muta” significa “vozinha” em pomerano – foi escolhida pela artesã e historiadora Kate Schneider para representar o seu pequeno negócio, que tomou forma no começo da pandemia. Antes disso, ela já divulgava seu trabalho artesanal nas redes sociais, mas não vendia o que produzia.
O que mais a motiva e emociona é poder contar histórias de afeto por meio de técnicas e saberes ancestrais. “Tive a sorte de nascer em uma família de mulheres fortes e generosas, que me ensinaram técnicas lindas. Cada peça carrega em cada ponto um conselho, um carinho e uma memória”, reforça.
O fazer artesanal, para a empreendedora, é capaz de gerar e transmitir essa afetividade, porque está relacionado ao emprego do tempo, ao cuidado minucioso e à dedicação para produzir cada peça. E é isso que torna esse trabalho tão único e cheio de valor.
“Em um mundo multitarefas, saber que alguém fez alguma coisa sem dividir o tempo com mais nada, com mais ninguém, é muito especial. É impossível não relacionar o crochê e o tricô com aconchego. Não só pelo calor e pela maciez dos fios, mas porque sabemos do tempo investido para tecer”, acrescenta.
Tricotando histórias
Para traduzir todo esse estilo e personalidade nas almofadas, cachepôs, puffs, mantas, cestos, tapetes e objetos produzidos pela Muta, Kate tem todo um carinho especial com a escolha dos materiais. O principal deles é o fio de malha, que é um resíduo da indústria têxtil e, por meio do upcycle, ganha novos significados, cores e texturas.
“Algumas marcas já produzem e vendem esse material para artesanato, mas continuamos usando o fio de malha residual. Além da preocupação com a sustentabilidade, garimpar as texturas, as estampas, os diferentes fios, tudo isso faz parte do processo criativo e me enche de inspiração, além de tornar as peças economicamente mais acessíveis”, revela.
O tempo para confeccionar cada peça varia bastante, sobretudo de acordo com o tamanho e o tipo de trama, podendo chegar a até oito dias.
E a artesã explora diferentes técnicas, dos pontos menores aos maiores, dos mais fechadinhos aos mais abertos, com fios mais finos ou mais grossos. Mas tudo é sempre feito com muito bom gosto.
Kate, que também dá aulas de História na rede pública do Rio Grande do Sul, trabalha sozinha na Muta, mas deseja criar um coletivo de artesãs assim que a demanda por seus produtos aumentar.
“Quero uma ciranda de mulheres para tecer os fios e as histórias juntas. Acompanho de perto a jornada das mães que lutam para criar seus filhos sem suporte, sem auxílio. Seria incrível inseri-las na produção das peças”, sonha.