É o fim da dicotomia seda-poliéster no campo da gravataria brasileira! E a dupla Levy Hosoume e Mirela Barcza tem um papel bem importante nesse cenário. O casal criou a marca artesanal O Francês para oferecer um produto bem diferenciado aos consumidores.
“Quando começamos a busca por gravatas para o nosso casamento, só encontramos opções antiquadas, brilhantes e com valores bem extremos: ou caríssimas de seda ou super baratas de poliéster. Esse período coincidiu com uma viagem para Europa e, sem querer, encontramos algumas gravatarias por Paris e Londres. Era outro universo! Definitivamente, não havia nada parecido no Brasil”, conta Mirela.
Era o impulso que faltava para essa dupla dinâmica apostar em algo novo. Publicitários e sem nenhuma familiaridade com a área têxtil, os dois passaram muitos finais de semana e noites em claro pesquisando formas de viabilizar um negócio artesanal focado em gravatas.
“Aprendemos a costurar para poder ensinar e desenvolvemos do zero os nossos moldes, para equilibrar nossa falta de experiência no segmento. Foram longos meses de estudos e testes antes de largarmos a publicidade e focarmos 100% no O Francês”, relembra a artesã.
O artesanal que inova!
O casal estava interessado em quebrar paradigmas e estimular a inovação em uma área com potencial inexplorado no Brasil. Por isso, passou a trabalhar com tecidos naturais que fogem do óbvio.
Os clientes encontram gravatas feitas com algodão, lã, lã merino, linho, lã com seda, algodão com linho e outras misturas arrasadoras, capazes de entregar texturas diferentes. Além disso, a maioria dos produtos é opaco ou com padronagens descoladas, como joaninha, avião de papel ou tartan escocês (um tipo de xadrez).
“Nossa missão é que as pessoas curtam esse processo de escolher a gravata. Que seja difícil decidir entre tantas opções bacanas, sabe? Provocar esse sentimento no público, em um mercado que era tão pacato, é muito legal”, comemora a artesã.
Hoje, o portfólio da marca inclui gravatas slim e borboleta, lenços, suspensórios e mochilas. “Nossos clientes conseguem transmitir sua personalidade por meio desses acessórios”, acrescenta.
Tudo isso aconteceu sem O Francês deixar de lado um preceito fundamental: fazer tudo a mão, com alma e paixão, ou “de pessoas para pessoas”, como definiu Mirela. E, de preferência, com matérias-primas nacionais.
Alfaiataria com alma
“Gostamos de estar próximos em todas as etapas do processo: curadoria, design, escolha de insumos e produção até o produto ficar pronto para o consumidor final”, completa.
Esse caminho escolhido pelos dois acarreta uma série de desafios, desde a qualificação de profissionais, já que, de acordo com a empreendedora, a maior parte do mercado de gravatas é apenas de importação; até a busca por insumos, tendo em vista que nem todos os tecidos que a marca trabalha são encontrados no Brasil.
Outra questão importante está relacionada a uma mudança de mentalidade do consumidor, que tem cada vez mais pressa para receber tudo aquilo o que compra.
“Mantemos um estoque de produtos a pronta entrega, mas em casos de grandes encomendas, como para um casamento, por exemplo, temos um prazo de três semanas. E é curioso perceber as reações das pessoas quando informamos isso. Elas pensam: como algo que eu compro em menos de 5 minutos na internet leva tanto tempo para ficar pronto?”, comenta Mirela.
Mas ela acredita que esse tipo de situação estimula a reflexão dos consumidores sobre os processos de produção dos objetos que têm em casa. “Nos últimos anos, a sociedade tem mais informações e valoriza mais o artesanal. Nossos clientes mais antigos – e que usam gravata no dia a dia – conseguem perceber, por exemplo, a diferença de qualidade entre o fechamento à mão e o fechamento à máquina das gravatas mais baratas. A durabilidade também é outra”, conclui.