A poesia presente no ciclo renovador da natureza, no barulho dos ventos, no cheiro da chuva e nas cores do céu é o que inspira a artesã Camila Nogueira a fazer sua arte afetiva e cheia de estilo. Ela é dona da marca Camélia, que vende quadrinhos feitos de folhas secas bordadas com desenhos e palavras acolhedoras.
A marca surgiu em 2017, depois que a artesã passou por uma mudança radical de carreira e decidiu abandonar de vez o universo da publicidade para se dedicar aos trabalhos manuais.
“Estava bastante descontente com minha carreira. Tinha vontade de descobrir outras habilidades pessoais, trabalhar mais com as mãos, produzir coisas cujo resultado eu pudesse ver, tocar, sentir”, lembra-se.
Entre as várias técnicas artesanais que Camila começou a estudar, como desenho, caligrafia, tecelagem e costura, o bordado livre foi a que mais despertou seu interesse.
“Ninguém praticava artes manuais em minha família – embora minha avó tenha me ensinado um pouquinho de crochê quando eu era mais nova. Mas comecei a observar a arte de pessoas como as meninas do Clube do Bordado. E achei tudo muito bonito, delicado, expressivo e nostálgico”, diz.
E essa ligação com as folhas secas também veio da admiração pelas criações de outros artistas que bordavam em suportes não convencionais. Camila ainda conta que sempre gostou de admirar a natureza e de traçar “paralelos imaginários entre os ciclos naturais e as etapas da nossa vida”.
Bordando poesia
O processo da artesã começa com a coleta e escolha cuidadosa das folhas. “Quase sempre a espécie escolhida é a Ficus elástica [também conhecida como planta da borracha ou falsa-seringueira], por ter folhas mais grossas e resistentes. Mas também coleto outras que eventualmente me chamem a atenção pelo caminho. Pego sempre aquelas folhas que já caíram no chão, mas que ainda estão frescas”, revela.
Depois de higienizadas, as folhas são colocadas para secar na prensa botânica, uma ferramenta que as deixa bem planas. Camila, então, desenha ou escreve direto na folha e borda por cima dos traços. Na finalização, as obras são arranjadas com um fundo e então emolduradas.
Sobre o significado pessoal desse processo, ela resume: “Criar, para mim, tem muito a ver com a cura pessoal. É um olhar para minhas emoções com tempo, e a tentativa de dar sentido e vazão a elas. Choro que se chora junto é mais leve de chorar. Se reconhecer naquilo que nos é mais singelo é como ser acolhido. Para mim, criar é um jeito de tentar fazer isso por mim e por quem mais puder ser impactado com o meu fazer”.
Todo esse carinho da artista é traduzido em dizeres sensíveis e carregados de significados profundos, como “Te afeto”, “Nada me falta”, “Axé”, “Lá também é aqui”, “Quem navega é o mar”, “Só o amor é luz”, “O seu olhar melhora o meu”, “Cada pessoa é um universo” e “Ninguém caminha sozinho”.
E, como não poderia ser diferente, essas artes acolhedoras causam empatia imediata. “Clientes chegam até mim contando de pessoas queridas, acontecimentos felizes, datas importantes… Falam de tudo aquilo que tento transmitir sem ser literal. A arte é uma mensageira, ajuda a carregar emoções e sentidos complexos, aqueles que, às vezes, a descrição, por mais detalhada e objetiva, não consegue transmitir”, reflete.