Baccarelli 20 anos: Emerson Nazário, de Heliópolis para Israel

05/12/2016 00:00 / Atualizado em 07/05/2020 04:31

Em comemoração aos 20 anos do Instituto Baccarelli, organização sem fins lucrativos, o Quem Inova mostra a história 20 alunos e ex-alunos. O personagem de hoje é Emerson Nazário, que foi estudar violoncelo em Israel e hoje e coordenador de naipe da Filarmônica de Goiás.

Em agosto de 2008, o futuro de Emerson parecia definido. Após se formar em violoncelo no Instituto Baccarelli, estava entrando em seu segundo semestre na Unesp, participando aqui e ali de masterclasses com músicos brasileiros e de fora. Até que, depois de uma destas aulas, um professor israelense lhe fez a pergunta: você quer ir estudar em Israel? A proposta vinha acompanhada de uma bolsa. De Emerson, bastava um “sim”. Um detalhe: as aulas começariam dali a um mês.

“Eu saí de lá e liguei correndo para a minha mãe, que ficou apreensiva, pois no nosso imaginário Israel é um local de conflito, de guerra. Mas ao chegar em casa, eu já estava decidido: poder estudar fora era um sonho, então resolvi que eu iria. Corri para aprender um pouco de inglês e um mês depois embarquei, com a cara e a coragem”.

Emerson nasceu em São Paulo e fez parte da segunda turma de jovens de Heliópolis a estudar no Baccarelli. Isso foi em 2000. “Eu tinha 12 anos, não passei na prova, fiquei como suplente, mas acabei sendo chamado. Eu pensava em tocar viola, mas no final optei pelo violoncelo, o que me deixa feliz hoje.” Em casa, a música ouvida era a popular: os pais gostavam em especial de Roberto Carlos. “A música clássica era um mundo desconhecido. Mas o tempo foi passando e quando se formou a Orquestra Sinfônica Heliópolis, eu tive certeza de que esse era o meu caminho.”

O trajeto que o levou a Tel Aviv passou antes por Caracas, na Venezuela. “Meu professor da época, Fabio Presgrave, me ligou uma vez, isso foi em 2006 ou 2007, e disse que estavam precisando de um violoncelista para participar de um Festival Villa-Lobos no El Sistema. Eu fui e, no ano seguinte, acabei voltando, para outro festival. E, além de ter contato na Venezuela com um professor israelense, acabei conhecendo o Roberto Ring. E foi ele que me convidou para aquela masterclass”.

https://youtu.be/2ftBX6HmNjY

Emerson ficou seis anos em Israel, onde concluiu o bacharelado e o mestrado. Foi um período de enorme aprendizado, mas também de adaptação. “Houve um momento, alguns dias, em que pensei em desistir. É tudo novo, uma cultura diferente, hábitos diferentes. E bate saudades de casa, do país, das pessoas, você fica confuso. Mas depois passou”, ele lembra. Durante esse tempo, nas voltas ao Brasil, manteve contato próximo com o Instituto Baccarelli. “Formamos uma família, até mesmo por termos começado praticamente junto com o projeto e termos crescido com ele.”

Em 2014, recebeu um convite para assumir o naipe de violoncelos da Filarmônica de Goiás. E lá pode colocar em prática tudo o que aprendeu sobre o instrumento –mas não só. “O fato de ter começado em Heliópolis, dentro do espírito do ensino coletivo, te faz pensar não apenas no seu desenvolvimento, mas também no do grupo, no contexto em que você está inserido. Isso faz toda a diferença em uma orquestra”.

Por João Luiz Sampaio