Referência em música, Instituto Baccarelli completa 20 anos

Em 1996, sensibilizado por um incêndio de grandes proporções em Heliópolis, na zona sul de São Paulo, o maestro Silvio Baccarelli prontificou-se a ensinar música para 36 crianças e jovens da comunidade, como forma de diminuir o sofrimento das famílias atingidas e contribuir para a autoestima e possibilidade de educação dessas crianças.

Como o bairro não dispunha de um local apropriado para as atividades, o maestro cedeu o próprio imóvel –o Auditório Baccarelli (localizado na Vila Clementino)– para dar início às aulas.

Surgia, assim, o Instituto Baccarelli, uma organização sem fins lucrativos que, hoje, já com sua sede própria atende cerca de 1.000 crianças e jovens por meio de seus programas socioculturais, entre eles a Orquestra Sinfônica de Heliópolis.

Em comemoração aos 20 anos do instituto, o Quem Inova mostra, a partir de hoje, a história de 20 alunos e ex-alunos do Baccarelli.

O primeiro é da jovem trompista Tamires Kamizaka, que aos 16 anos subiu ao palco da Sala São Paulo para interpretar a “Sinfonia nº 2”, de Mahler, junto com a Orquestra Sinfônica Heliópolis.

Tamires Kamizaka

Tamires tinha com 16 anos quando soube que subiria ao palco da Sala São Paulo para interpretar a “Sinfonia nº 2″, de Mahler. A responsabilidade era enorme. “E seu errasse, já imaginou?” Ela havia se preparado, “comido a partitura”, como diz. Mas o nervosismo era inevitável. Ao menos até colocar-se no palco, ao lado dos colegas da Orquestra Sinfônica Heliópolis. “Foram dois segundos em que pensei: eu estou aqui. Cada não que eu havia recebido na minha vida, eu respondi naquele momento.”

Tamires viveu desde pequena em Heliópolis. Aos 8 anos, um panfleto na igreja a levou ao Instituto Baccarelli. Começou na música cantando no coral. Dois anos depois, veio o instrumento. Ela queria violino ou violoncelo, mas as mãos eram muito pequenas. Oboé? Não tinha vaga. Mas ela conseguia segurar a trompa. Pronto, escolha feita. Na infância, recebia o apoio da família. Mas à medida em que foi crescendo, as coisas mudaram. Primeiro, a pressão para que arrumasse um emprego. Depois, viu-se sozinha, aos 16 anos, quando a mãe se mudou para Goiás.

Mudar-se com a mãe significaria abandonar a música. E isso não era uma opção. Foi morar então com a madrinha, grande incentivadora até hoje. Aos 18, alugou uma casa só sua –mas não por muito tempo. “Trouxe minha irmã para ficar comigo. Ela morava em Cabo Frio, no Rio. Fui lá e vi que o destino dela seria trabalhar desde cedo. E eu resolvi ajudar, trazer ela para cá, apresentar a música para ela. Se eu posso oferecer uma chance melhor, tenho que fazer isso.”

https://youtu.be/VKplBPyb7Mc

A música, afinal, foi uma companheira fundamental para Tamires, hoje com 22 anos. E é por isso que ela quer passar essa mensagem a novas gerações, como professora. “Quero oferecer para as crianças o que o Baccarelli me ensinou. A gente vê o que está à nossa volta, drogas, tráfico, famílias destruídas. Quando você é bem pequena, você olha tudo isso e não sabe o que vai ser de você. O que a música me deu foi a sensação de que eu poderia ser alguma coisa. Sem isso, não sei onde eu estaria”.

Por João Luiz Sampaio