Como os jogos contribuem para o aprendizado de pessoas no espectro autista?
Em entrevista ao Catraca Livre, o professor e biólogo Allan Pscheidt falou sobre os benefícios dos jogos para pessoas no espectro autista
Os jogos têm se consolidado como uma ferramenta pedagógica eficaz para crianças e adultos, especialmente aqueles no espectro autista. A metodologia da gamificação, que utiliza elementos de jogos para engajar e motivar estudantes, tem sido amplamente aplicada na educação, promovendo a aprendizagem de forma lúdica e interativa.
O professor e biólogo Allan Pscheidt, que está no espectro autista, ressaltou os benefícios dos jogos para pessoas com essa condição.
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“É importante destacar que jogos já vinham sendo utilizados na educação baseada na ludicidade, ou seja, aprendendo brincando, principalmente para crianças aprenderem formas, cores e as primeiras letras. Como metodologia em contextos não lúdicos, ela vem com objetivo de motivar os estudantes através de uma competição saudável.”, explicou, Allan Pscheidt.
“No Transtorno do Espectro Autista (TEA) crianças e adultos podem aprender através de jogos que despertam seu interesse e atenção. Uma pessoa autista que gosta de estratégia pode aprender matemática em um jogo de xadrez adaptado com frações, por exemplo. Outro, que gosta de simulações como trens, pode aprender conceitos de geografia e ecologia enquanto “viaja” numa locomotiva.”, completou.
Para pessoas no espectro autista, a gamificação se apresenta como uma estratégia pedagógica eficaz, tornando o aprendizado mais interativo e acessível. Diferente do modelo tradicional, que frequentemente exige um aluno passivo, imóvel e atento apenas à lousa e à cópia de conteúdos, os jogos educacionais proporcionam estímulos visuais, desafios personalizados e um ambiente mais engajador. Essa abordagem favorece a concentração, a autonomia e a motivação, respeitando diferentes formas de aprendizagem e promovendo um ensino mais inclusivo.
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Gamificação e Aprendizado no Espectro Autista
A gamificação se popularizou em 2002, no Reino Unido, por meio de Nick Pelling, que utilizava jogos para ensinar programação. Desde então, a abordagem se expandiu para diversas áreas do conhecimento, incorporando tanto jogos digitais quanto analógicos. Para pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA), os jogos representam uma forma de aprendizado mais envolvente e acessível, fugindo do modelo tradicional de ensino baseado em aulas expositivas.
Crianças e adultos com TEA podem se beneficiar de jogos que despertam interesse e facilitam a compreensão de conceitos complexos. Um jogo de xadrez adaptado com frações pode auxiliar no ensino de matemática, enquanto simulações de trens podem ensinar geografia e ecologia. O essencial é garantir que os jogos sejam personalizados e acompanhados por educadores ou especialistas, sempre focando no aprendizado.
Jogos Mais Eficazes para Pessoas no Espectro Autista
A escolha dos jogos é crucial para potencializar o aprendizado. Jogos de RPG (Role-Playing Games) permitem que os estudantes assumam papéis e interajam dentro de uma narrativa estruturada, o que auxilia no desenvolvimento de habilidades sociais e cognitivas. Existem plataformas gratuitas e pagas que possibilitam a criação de jogos adaptados, além de jogos populares que podem ser explorados pedagogicamente.
Os jogos de quebra-cabeça, como o cubo mágico, também são altamente recomendados, pois estimulam o raciocínio lógico e a coordenação motora fina. Além disso, até mesmo uma folha de papel pode ser transformada em um elemento de jogo, dependendo da narrativa criada pelo professor.
O acompanhamento de um psicopedagogo é fundamental nesse processo, pois ele pode auxiliar os educadores na seleção de jogos que realmente promovam a aprendizagem, evitando distrações ou estresse para os estudantes com TEA.
Evidências Científicas sobre Jogos e Autismo
O professor e biólogo Allan Pscheidt, que pesquisa o tema diariamente, destaca que diversos estudos apontam os jogos como uma ferramenta eficaz para desenvolver habilidades sociais, melhorar a comunicação e fortalecer funções cognitivas em pessoas no espectro autista. O interesse acadêmico pelo assunto tem crescido significativamente. Uma busca rápida no Google Acadêmico com os termos “autismo” e “gamificação” retorna mais de 11 mil artigos, evidenciando a relevância do tema na comunidade científica.
Estudos relevantes sobre o tema:
“Autism and Play” (2000) de J. Beyer e L. Gammeltoft – explora como atividades lúdicas podem auxiliar no desenvolvimento de habilidades de comunicação em crianças com TEA.
Artigo de S. Parsons e P. Mitchell (2002) no Journal of Intellectual Disability Research – discute o uso da realidade virtual para treinar habilidades sociais em pessoas com autismo.
Estudo de O. Golan e S. Baron-Cohen (2006) na revista Autism – apresenta um software interativo para ensinar reconhecimento de emoções a adultos com autismo.
Pesquisa de D. B. LeGoff e M. Sherman (2006) na revista Autism – destaca como a utilização de LEGO estruturado pode ajudar na cooperação e comunicação.
A expansão dos jogos de mundo aberto, como Minecraft, e das tecnologias de realidade virtual e aumentada tem transformado a educação, oferecendo experiências imersivas e adaptáveis a diferentes perfis de aprendizado.
Jogos como Ferramenta para Engajamento e Atenção
Um dos desafios enfrentados por pessoas com TEA é a dificuldade de manter o foco e o engajamento em atividades tradicionais de ensino. Os jogos apresentam vantagens significativas nesse aspecto:
Regras Claras e Estímulos Objetivos: A previsibilidade dos jogos reduz a ansiedade e facilita a concentração.
Feedback Imediato: O retorno instantâneo sobre as ações do jogador ajuda a manter o interesse e a motivação.
Adaptação ao Ritmo do Estudante: Jogos permitem progressão gradual, evitando sobrecarga sensorial.
Interação Social: Muitos jogos oferecem oportunidades de interação mediada, reduzindo a tensão e incentivando a comunicação.
Jogos Recomendados
Entre os jogos mais indicados para auxiliar no aprendizado e no desenvolvimento de pessoas com TEA, destacam-se:
Minecraft: Baseado em blocos, permite construção livre e exploração, desenvolvendo habilidades de planejamento, criatividade e cooperação.
Transport Fever 2: Simula o gerenciamento de redes de transporte, ajudando a desenvolver habilidades de planejamento, tomada de decisão e resolução de problemas.
RPGs Digitais: Jogos que envolvem missões e interação social mediada, como Dungeons & Dragons em plataformas online, ajudam no desenvolvimento de habilidades sociais e narrativas.
Quebra-Cabeças: Jogos como cubo mágico estimulam o raciocínio lógico e a coordenação motora fina.
Os jogos são aliados poderosos no ensino, especialmente para aqueles no espectro autista. Com a orientação adequada, eles não apenas tornam o aprendizado mais dinâmico e atrativo, mas também promovem habilidades essenciais para a vida cotidiana e acadêmica.