Team Liquid Visa: jogadoras desafiam o machismo e conquistam espaço no eSport brasileiro

Em entrevista exclusiva à editoria de games do Catraca Livre, jogadoras do Team Liquid compartilham os bastidores da rotina de treinos

Em parceria com Luis Nascimento
07/04/2025 07:00

Team Liquid VISA tem sido impecável desde o kickoff da competição.
Team Liquid VISA tem sido impecável desde o kickoff da competição. - Foto: reprodução agencia drone

Você já se perguntou como é ser mulher no competitivo de games, especialmente em um cenário ainda dominado por homens? Em um bate-papo leve e direto, jogadoras profissionais do Team Liquid Visa de Valorant abriram o coração sobre os bastidores do eSport, os desafios enfrentados e como transformam suas histórias em inspiração para outras meninas que sonham em viver dos games.

Apesar de já ocuparem posições de destaque e reconhecimento na cena competitiva de Valorant, jogadoras profissionais revelam que conquistar espaço ainda é um dos maiores desafios dentro do universo gamer. Mais do que dominar o mouse e o teclado, elas precisam enfrentar barreiras estruturais, ausência de apoio e o machismo que ainda marca o ambiente dos eSports, tanto dentro das partidas quanto fora delas. “A gente precisa se provar o tempo inteiro, mesmo já tendo vencido times mistos fortes”, relatam em entrevista coletiva ao Catraca Livre.

Em um cenário ainda marcado pelo machismo e pela desigualdade, jogadoras profissionais conquistam espaço, inspiram novas atletas e transformam a cena gamer com talento, resistência e voz ativa.
Em um cenário ainda marcado pelo machismo e pela desigualdade, jogadoras profissionais conquistam espaço, inspiram novas atletas e transformam a cena gamer com talento, resistência e voz ativa. - foto reprodução Instagram: @isab_esser

A rotina para manter esse nível de excelência não é nada leve. Os treinos começam por volta das 11h e seguem até as 20h, com momentos divididos entre práticas táticas e técnicas. O foco e a disciplina são constantes, mas elas contam com um diferencial importante: a estrutura oferecida pela Team Liquid, organização responsável por fornecer os chamados “offices” — espaços físicos de treinamento coletivo, onde as jogadoras podem interagir com outros times, trocar experiências e se preparar para campeonatos de alto nível. Na prática, um verdadeiro coworking gamer.

Mas nem só de treino vive uma pro player. Em meio à rotina puxada, cada uma encontra formas de desconectar e cuidar da saúde mental. Academia, jogos de tabuleiro e hobbies offline fazem parte do cotidiano das atletas que entendem a importância de manter o equilíbrio para sustentar a performance dentro dos servidores.

Elas também sabem do peso simbólico que carregam. Mesmo sem assumirem o posto de “porta-vozes” do cenário, reconhecem que suas trajetórias servem de referência para outras meninas que sonham em entrar no competitivo. “Subir um degrau já é inspirador”, explica uma delas, ao lembrar das dificuldades que enfrentou no início da carreira — desde a escassez de campeonatos até a invisibilidade diante de organizações e patrocinadores.

O machismo, embora menos escancarado, ainda persiste. Para jogadoras com mais visibilidade, ele aparece de forma mais velada. Mas para quem está começando, principalmente em partidas ranqueadas, os ataques são constantes. “Só por ter uma voz feminina no microfone, você já vira alvo”, dizem. Mesmo com mecanismos de punição por comportamento tóxico, a reincidência é alta. “O problema é que não dá pra banir personalidade”, comenta uma das atletas, ao refletir sobre a limitação das ferramentas atuais para coibir abusos.

Outro ponto que merece atenção é a falta de diálogo e espaços seguros para discussão. Apesar de algumas iniciativas de organizações para promover conversas sobre o papel da mulher no eSport, elas ainda são pontuais e pouco abrangentes. “Não basta falar entre nós. É importante envolver os homens também nessas conversas”, pontuam, reforçando a necessidade de iniciativas mais inclusivas e permanentes.

Mesmo diante dos obstáculos, elas seguem firmes — treinando, vencendo, representando. Com resistência, dedicação e inspiração, essas atletas estão escrevendo um novo capítulo no eSport brasileiro, abrindo caminho para que mais meninas ocupem esse espaço e transformem o cenário de dentro para fora. Uma partida de cada vez.