Unicamp revela presença de agrotóxicos em chuvas de 3 cidades de SP

Além da contaminação, o estudo também destaca um fator alarmante: o consumo crescente de água da chuva por populações atingidas pela escassez hídrica

04/06/2025 20:15

Os resultados demonstram que os agrotóxicos usados nas lavouras não ficam restritos ao solo – iStock/fotokostic
Os resultados demonstram que os agrotóxicos usados nas lavouras não ficam restritos ao solo – iStock/fotokostic - Getty Images/iStockphoto

Mesmo quem depende da água da chuva para driblar a crise hídrica pode estar se expondo a riscos invisíveis. É o que mostra estudo da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) após revelar que a água que cai do céu carrega mais do que se imagina: foram identificados resíduos de 14 tipos de agrotóxicos, incluindo dois produtos banidos no Brasil — o fungicida carbendazim e o inseticida carbofurano.

A pesquisa, publicada na revista científica Chemosphere em março de 2025, analisou amostras coletadas entre 2019 e 2021 em três cidades paulistas: Campinas, Brotas e São Paulo.

Os resultados demonstram que os agrotóxicos usados nas lavouras não ficam restritos ao solo. Eles se espalham pela atmosfera, influenciados por vento, temperatura e umidade, e acabam retornando ao meio ambiente por meio da chuva — atingindo solo, reservas hídricas e, potencialmente, pessoas.

Concentração de pesticidas

Os dados apontam ainda uma correlação direta entre a intensidade da atividade agrícola e a concentração de pesticidas. Em Campinas, onde cerca de 45% do território é ocupado por lavouras, foram registrados 701 microgramas de agrotóxicos por metro quadrado na água da chuva.

Brotas, com 30% do território voltado à agricultura, teve 680 microgramas. Já na capital paulista, com apenas 7% de área agrícola, o número caiu para 223 microgramas.

Substâncias proibidas nos céus

Entre as substâncias encontradas, a atrazina — herbicida proibido em diversos países — chamou atenção por estar presente em 100% das amostras. O carbendazim, proibido no Brasil desde 2022, apareceu em 88% delas. Também foi detectado, pela primeira vez em chuva, o herbicida tebuthiuron, em 75% das amostras. Em Brotas, o composto mais detectado foi o 2,4-D, proibido desde 2023 e relacionado a problemas de fertilidade. Já o fipronil, tóxico para abelhas e vetado em países como EUA e membros da União Europeia, apareceu em mais de dois terços das coletas.

A coordenadora do estudo, Cassiana Montagner, ressaltou em entrevista à Revista FAPESP, da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo, a necessidade de repensar a ideia de que a água da chuva é necessariamente limpa. “A ideia de que, ao tomar água de chuva, estamos ingerindo uma água pura não é totalmente verdadeira. O estudo traz esse alerta”, afirmou.

Além da contaminação, o estudo também destaca um fator alarmante: o consumo crescente de água da chuva por populações atingidas pela escassez hídrica – iStock/SusanneSchulz
Além da contaminação, o estudo também destaca um fator alarmante: o consumo crescente de água da chuva por populações atingidas pela escassez hídrica – iStock/SusanneSchulz - iStock/SusanneSchulz

Como a chuva contaminada chega à sua casa

Além da contaminação detectada, o estudo também destaca um fator alarmante: o consumo crescente de água da chuva por populações atingidas pela escassez hídrica. Embora algumas substâncias estejam dentro dos limites legais para água potável, muitas ainda não têm parâmetros estabelecidos pelas autoridades. A exposição contínua a esses compostos, segundo os pesquisadores, pode gerar impactos sérios e irreversíveis à saúde.

Em meio aos apontamentos indicados no estudo, a pesquisa lança luz sobre a urgência de monitoramento e revisão das práticas agrícolas no Brasil, além de exigir maior atenção das autoridades para o uso de pesticidas e seus efeitos ambientais e na saúde pública.


Descubra o melhor método para remover agrotóxicos de frutas e verduras

Estudos recentes apontam uma preocupante conexão entre o uso de agrotóxicos e uma série de doenças graves, incluindo leucemia, diferentes tipos de câncer e distúrbios neurológicos.

No cenário global, o Brasil se destaca como o maior consumidor dessas substâncias químicas. Segundo a organização Friends of the Earth Europe, no Brasil, a cada 48 horas, uma pessoa perde a vida devido à intoxicação por agrotóxicos, sendo que aproximadamente 20% das vítimas são crianças e adolescentes.  

Se o acesso a produtos orgânicos não faz parte da sua realidade, saiba que existe uma alternativa prática e eficaz para diminuir a ingestão de agrotóxicos. Com um ingrediente simples e acessível — a tintura de iodo a 2%, encontrada facilmente em farmácias — é possível higienizar frutas e verduras de maneira mais segura.