Medalhista olímpica revive passado em projeto socioesportivo no MA
Aos 19, tornou-se a primeira mulher a ganhar medalha em um mundial, quando conquistou o terceiro lugar na Jamaica
Aos oito anos, a pernambucana Keila foi matriculada em um projeto social na escola onde estudava em Abreu e Lima, região metropolitana de Recife, que promovia a inclusão de crianças da periferia através do esporte.
Aos 19, tornou-se a primeira mulher a ganhar medalha em um mundial, quando conquistou o terceiro lugar na Jamaica.
Participou de quatro olimpíadas (e pretende ir pra quinta), garantiu a prata nos Jogos Panamericanos de 2007, no Rio e, de 2015, em Toronto_ além de um bronze no mundial de Doha, nos Emirados Árabes, em 2010.
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Passados 28 anos, se tornou Keila Costa, um dos principais nomes do atletismo brasileiro da última década.
Em setembro, Keila reviveu um pouco do passado ao ser convidada para participar de mais uma Caravana do Esporte, projeto organizado pela DISNEY, ESPN e UNICEF em parceria com Instituto Esporte & Educação e Instituto Mpumalanga_que incentiva atividades esportivas ao ar livre em regiões de vulnerabilidade social.
O projeto aconteceu entre os dias 24 e 26 de setembro, em São Luís do Maranhão, e levou ações educacionais e esportivas a mais de três mil alunos das escolas públicas. Também estiveram presentes educadores, profissionais e gestores das áreas da Educação, Cultura e Esportes, com apoio da prefeitura municipal.
Em um campo de terra do Jardim América, na periferia da capital maranhense, as crianças praticaram modalidades como vôlei, basquete, futebol, além de aulas de música e cinema.
Ali Keila revivia o que a influenciou a se tornar uma das atletas de maior nome no atletismo nacional. “Eu fazia parte do projeto social em pernambuco. O objetivo nao era formar atletas, nem levar alguém para as Olimpíadas, mas incluir crianças na sociedade. O foco era praticar esporte brincando.”
Primeiros passos
Influenciada pela irmã mais velha, que na época participava de maratonas e chegava em casa com medalhas e troféus, Keila não demoraria para seguir o mesmo caminho “Aquelas medalhas, ainda que não fossem de ouro de verdade, já chamavam minha atenção. Foi aí que comecei a participar das primeiras provas”. A diferença, ela brinca, é que, no começo, em vez de medalhas, ganhava diploma e balas como recompensa.
Não demorou para que Keila se destacasse no atletismo, sobretudo nas modalidades salto triplo e à distância. “Falavam que eu levava jeito para aquilo. Foi quando participei da Olimpíada da Juventude, dos Jogos Escolares Brasileiros, ganhar etapas regionais, nacionais e fui crescendo no esporte. Ali descobri que era aquilo que eu queria.”
Esporte e educação
E se na infância uma simples brincadeira transformou a vida da atleta, a Caravana cumpre, hoje, algo semelhante, promovendo o esporte através da educação.“Meu primeiro treinador foi meu professor de educação física. Acho que a Caravana tem muito a ver com aquilo, que é essa proposta de aliar educação e esporte como forma de ensino. Que as duas coisas andam juntas.”
Legado para o futuro
Belén Urbaneja, diretora de Cidadania Corporativa e Gestão da Disney para a América Latina, destaca o papel empoderador da Caravana, e como o acesso ao esporte pode ser capaz de transformar a vida das crianças e jovens. “Nossa ideia é plantar a semente, de mostrar para aquelas crianças que elas também tem direitos. Que elas podem se expressar através do esporte e das artes, apesar da falta de recursos.”
Urbaneja destaca também a importância do acesso ao esporte e como isso impacta o desenvolvimento das crianças. “É preciso ter uma vida ativa na infância e o esporte faz bem para todos os elementos. Na saúde, no bem-estar e até mesmo nos valores éticos adquiridos com a prática esportiva”.
Para ela, as Caravanas cumprem um papel transformador nas comunidades por onde passam, deixando um legado para as futuras gerações.
Assim como o esporte mudou a vida de Keila. “Foi fundamental pra mim, que mudou minha vida, da minha família. No começo, eu não ia às aulas de atletismo para ser campeã, nem ir pra olimpíadas. Nem sonhava com isso, na verdade. Mas quando vi que tinha oportunidade, fui atrás do atletismo. Vi que podia ajudar minha família fazendo isso. E comecei a querer mais. Todo mundo apostava no meu potencial e isso me estimulou a buscar, sonhar com a Olimpíada”.
Oportunidade
Sobre sua experiência no projeto, Keila diz que faz questão de ressaltar, principalmente às crianças da periferia, que não deixem a oportunidade escapar. E não só no esporte, mas também na educação. “Valorize aquele professor que quer ajudar você. Seja um projeto de arte ou esporte, porque o caminho que mudará sua vida pode estar ali.”
Ela lembra que, apesar de tudo ter começado como brincadeira, o esporte transformou a sua vida. “No início eu treinava em estrada de terra e naquela época chegar ao profissional parecia impossível. O negócio é ter autodiscipina, não esperar alguem mandar vc ser disciplinado. Esse compromisso com você mesmo, principalmente por ser um esporte individual. É você por você. Se nao fizer o que precisa ser feito, não estará enganando o professor, nem o seu adversário, apenas a si mesmo.”
Aos 36 anos, com uma carreira vitoriosa, Keila Costa eternizou seu nome entre os os maiores representantes do atletismo brasieiro. “Por mais difícil que pareça a situação, é possível sim. Usem a falta de estrutura como combustível para crescer, evoluir e quem sabe um dia representar o brasil. Eu vivi isso.”