Os humanos são monogâmicos, mas não completamente: cinco outras espécies os superam nesse quesito, de acordo com um estudo

A pesquisa identificou cinco espécies que apresentam taxas de monogamia superiores aos humanos, que registram 66% de irmãos completos

13/12/2025 07:56

Uma pesquisa da Universidade de Cambridge trouxe dados surpreendentes sobre os padrões de monogamia entre mamíferos. O estudo, liderado pelo antropólogo evolutivo Mark Dyble, desenvolveu um método inovador para medir a fidelidade reprodutiva das espécies, analisando a proporção entre irmãos completos e meio-irmãos.

Os resultados colocam os seres humanos na sexta posição entre os mamíferos mais monógamos, revelando que nossa espécie apresenta padrões de fidelidade superiores à maioria dos animais, mas ainda é superada por algumas espécies notáveis.

Os demais primatas estudados revelaram comportamentos reprodutivos drasticamente diferentes dos humanos
Os demais primatas estudados revelaram comportamentos reprodutivos drasticamente diferentes dos humanosImagem gerada por inteligência artificial

Como os cientistas mediram a monogamia entre diferentes espécies?

O método tradicional de avaliar comportamento reprodutivo através de registros fósseis e observação de campo possui limitações significativas. Por isso, a equipe de Cambridge propôs uma abordagem diferente, baseada em análise genética.

Os pesquisadores desenvolveram um modelo computacional que relaciona dados sobre parentesco com estratégias reprodutivas conhecidas. As principais características desta metodologia incluem:

  • Análise da proporção de irmãos completos: Espécies com alta taxa de irmãos que compartilham ambos os progenitores demonstram maior fidelidade reprodutiva entre os pares.
  • Identificação de padrões através de meio-irmãos: Quanto maior o número de filhotes com apenas um progenitor em comum, mais promíscuo é o comportamento reprodutivo da espécie.
  • Correlação com comportamento observado: Os dados genéticos foram cruzados com informações sobre hábitos sociais e reprodutivos já documentados em estudos de campo.
  • Validação através de múltiplas espécies: O modelo foi testado em dezenas de mamíferos, desde roedores até primatas, garantindo a confiabilidade dos resultados.

Quais animais superam os humanos em fidelidade reprodutiva?

A pesquisa identificou cinco espécies que apresentam taxas de monogamia superiores aos humanos, que registram 66% de irmãos completos. No topo da lista está o ratão-do-mato da Califórnia, com impressionantes 100% de fidelidade reprodutiva.

Logo após aparecem o cão-selvagem-africano com 85%, o lobo-etíope com 76,5%, o sagui-bigodudo com 78% e o castor com 73%. Curiosamente, o sagui-bigodudo é o único outro primata entre as espécies consideradas altamente monógamas, um pequeno macaco amazônico que costuma ter gêmeos ou trigêmeos.

A pesquisa identificou cinco espécies que apresentam taxas de monogamia superiores aos humanos
A pesquisa identificou cinco espécies que apresentam taxas de monogamia superiores aos humanosImagem gerada por inteligência artificial

Por que outros primatas apresentam taxas tão baixas de monogamia?

Os demais primatas estudados revelaram comportamentos reprodutivos drasticamente diferentes dos humanos. Todos os outros membros dessa ordem de mamíferos apresentam sistemas de acasalamento onde tanto machos quanto fêmeas possuem múltiplos parceiros.

Entre os exemplos mais notáveis estão:

  • Gorilas-da-montanha: Registram apenas 6% de irmãos completos, refletindo a estrutura de harém onde um macho dominante reproduz com várias fêmeas, mas estas também podem acasalar com outros machos.
  • Chimpanzés: Apresentam meros 4% de irmãos completos, taxa similar aos golfinhos, demonstrando comportamento reprodutivo altamente promíscuo em grupos sociais complexos.
  • Macacos japoneses e rhesus: Ocupam as posições mais baixas do ranking com 2,3% e 1% respectivamente, representando os primatas com menor taxa de fidelidade reprodutiva estudados.
  • Ovelhas Soay da Escócia: No extremo oposto do espectro, esta espécie registra apenas 0,6% de irmãos completos, já que cada ovelha acasala com diversos carneiros durante o período reprodutivo.

O que a monogamia humana revela sobre nossa evolução social?

Os dados indicam que a monogamia humana provavelmente evoluiu a partir de uma vida grupal não monógama, uma transição considerada rara entre mamíferos. Baseando-se nos padrões reprodutivos de nossos parentes vivos mais próximos, como chimpanzés e gorilas, essa mudança representa uma transformação evolutiva significativa.

Mark Dyble ressalta que quase todos os outros mamíferos monógamos vivem em unidades familiares estreitas, formadas apenas por um casal reprodutor e sua descendência. Os humanos, por outro lado, habitam grupos sociais amplos onde várias fêmeas têm filhos simultaneamente, criando uma dinâmica social única no reino animal.

Para visualizar melhor as diferenças entre as espécies, confira a tabela comparativa:

Posição Espécie Taxa de Irmãos Completos Característica Reprodutiva
Ratão-do-mato da Califórnia 100% Emparelhamento vitalício após reprodução
Cão-selvagem-africano 85% Casal alfa reproduz em matilha cooperativa
Sagui-bigodudo 78% Único primata altamente monógamo (além dos humanos)
Lobo-etíope 76,5% Vínculos de longo prazo com cuidado parental conjunto
Castor 73% Casais permanentes que constroem tocas juntos
Ser Humano 66% Monogamia social com diversidade cultural
Chimpanzé 4% Acasalamento promíscuo em grupos
Ovelha Soay 0,6% Múltiplos parceiros por temporada reprodutiva

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