Por que o clima do Brasil parece cada vez mais maluco?

Descubra o que está por trás dos eventos extremos e como se proteger

13/11/2025 07:56

Se você tem a sensação de que o clima do Brasil está fora de controle, os números confirmam essa impressão. O ano de 2024 registrou a temperatura média mais alta desde 1961, atingindo 25,02°C segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (INMET), cerca de 0,79°C acima da média histórica.

Ciclones surgindo com mais intensidade, enchentes históricas como a que matou 184 pessoas no Rio Grande do Sul em maio de 2024, secas extremas e ondas de calor recorde viraram rotina. A ciência já explica essa bagunça toda, e as projeções indicam que os eventos climáticos extremos devem se tornar ainda mais frequentes nas próximas décadas.

O território brasileiro sempre teve variações naturais, mas a intensidade dos eventos mudou drasticamente – Imagem ilustrativa
O território brasileiro sempre teve variações naturais, mas a intensidade dos eventos mudou drasticamente – Imagem ilustrativa

Quais fenômenos explicam essa instabilidade climática no território brasileiro?

O território brasileiro sempre teve variações naturais, mas a intensidade dos eventos mudou drasticamente. Segundo Luciana Gatti, coordenadora do Laboratório de Gás de Efeito Estufa do INPE, as mudanças no clima estão diretamente ligadas à perda de áreas naturais. Ela explica que menos árvores significam um ambiente mais quente, mais seco e com menos chuva.

Os principais fenômenos responsáveis pela atual instabilidade incluem:

  • Ciclones extratropicais mais violentos: Manoel Alonso Gan, pesquisador do INPE dedicado ao estudo desses fenômenos desde 1988, aponta que embora estudos mostrem tendência de redução no número total de ciclones, há aumento na frequência de ciclones mais intensos devido ao aquecimento das águas oceânicas
  • Ondas de calor constantes: segundo o Laboratório de Análise e Processamento de Imagens de Satélites (LAPIS), todos os meses de 2024 registraram temperaturas acima da média histórica de 1991 a 2020, com nove episódios de ondas de calor extremo até outubro
  • Secas históricas: O INPE aponta que a seca de 2024 está entre as mais severas dos registros modernos, causando redução dramática dos níveis dos rios navegáveis e impactando fortemente os ambientes naturais do país.
  • Chuvas concentradas e irregulares: o Rio Grande do Sul recebeu entre 500 e 700 mm de chuva em apenas cinco dias durante as enchentes de maio, volume equivalente a mais de um terço da média anual

Como a população brasileira sente esses impactos no cotidiano?

As consequências vão muito além dos termômetros. A enchente histórica do Rio Grande do Sul em 2024 afetou 2,3 milhões de pessoas em 478 municípios, deixou 184 mortos e causou prejuízos estimados em 88,9 bilhões de reais segundo relatório do Banco Interamericano de Desenvolvimento. Cidades inteiras como Muçum precisam ser reconstruídas do zero.

Nos primeiros dez meses de 2024, os focos de incêndio aumentaram cerca de 44% na Amazônia, até 64% no Cerrado e até 139% no Pantanal em relação ao ano anterior, conforme dados do WWF Brasil e outras fontes oficiais. Os percentuais exatos variam por período e fonte.

O território brasileiro sempre teve variações naturais, mas a intensidade dos eventos mudou drasticamente – Imagem ilustrativa
O território brasileiro sempre teve variações naturais, mas a intensidade dos eventos mudou drasticamente – Imagem ilustrativa

O que os dados científicos revelam sobre essas transformações?

Institutos de pesquisa brasileiros acumulam evidências robustas sobre as transformações em curso. O economista Carlos Eduardo Young, professor da UFRJ e membro da Rede de Especialistas em Conservação da Natureza, ressalta que a mudança climática já impacta o presente brasileiro e os desastres de 2024 são apenas o começo do que pode vir.

As principais evidências científicas sobre o novo padrão climático brasileiro são:

  • Aumento de 0,79°C na temperatura média: dados do INMET confirmam que 2024 foi o ano mais quente desde 1961, com tendência de aumento estatisticamente significativa ao longo das décadas
  • Chuvas 40% abaixo do normal na Amazônia: estudo internacional com participação do INPE mostra que o nordeste amazônico teve precipitação drasticamente reduzida durante a estação úmida de 2023 a 2024, deixando a floresta extremamente seca
  • Eventos extremos triplicaram: comparando as últimas décadas, a ocorrência de tempestades severas, secas prolongadas e ondas de calor aumentou drasticamente segundo análises do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais
  • O Rio Grande do Sul ficou entre 6% e 9% mais chuvoso nas últimas duas décadas quando comparado ao período entre 1979 e 2001, segundo dados do Observatório do Clima e ANA.

Até quando essa bagunça climática vai continuar no país?

As projeções científicas não trazem boas notícias para quem esperava uma melhora espontânea. Análises do Ministério da Ciência divulgadas em 2025 indicam que mesmo se as metas do Acordo de Paris forem atingidas, todas as regiões brasileiras continuarão tendo alterações nos padrões climáticos, com magnitude dos eventos aumentando conforme o aquecimento global avança.

A boa notícia é que ainda há espaço para mitigação. Carlos Eduardo Young destaca que o Brasil está tentando recuperar o tempo perdido ao avançar na legislação climática, embora os resultados concretos dessa mudança só devam aparecer a partir do final desta década. Ações de preservação, reflorestamento e adaptação das cidades são urgentes para evitar que a situação se agrave ainda mais nas próximas décadas.