Um artista colocou peixinhos dourados em liquidificadores e pediu aos visitantes que os ligassem e eles ligaram
O experimento pretendia revelar aspectos perturbadores sobre a natureza humana, categorizando as pessoas em três perfis distintos
Em 2000, uma instalação polêmica no Museu Trapholt, na Dinamarca, chocou o mundo ao permitir que visitantes decidissem o destino de peixes vivos colocados dentro de liquidificadores funcionais. A obra Helena & El Pescador, do artista Marco Evaristti, oferecia aos espectadores um botão amarelo capaz de acionar as lâminas, forçando cada pessoa a confrontar suas próprias escolhas morais.
O experimento pretendia revelar aspectos perturbadores sobre a natureza humana, categorizando as pessoas em três perfis distintos. Ao menos dois peixes foram mortos durante a abertura da exposição, desencadeando debates intensos sobre ética artística e os limites da liberdade de expressão.

Como a instalação classificava os diferentes tipos de comportamento?
Evaristti propôs uma divisão provocativa da sociedade baseada nas reações dos visitantes diante dos liquidificadores. Segundo o artista, cada resposta revelaria tendências fundamentais no caráter das pessoas que interagiam com a obra.
A teoria apresentada pelo criador da instalação identificava três categorias principais de comportamento humano diante da situação:
- O sádico: pessoa que pressiona o botão simplesmente porque pode fazê-lo, exercendo poder destrutivo sem necessidade aparente
- O voyeur: indivíduo que observa atentamente para ver se outros acionarão o mecanismo, satisfazendo-se com o espetáculo da crueldade alheia
- O moralista: alguém que se indigna com a mera existência da opção de matar os peixes, protestando contra a situação criada
Qual foi a resposta das autoridades e da justiça dinamarquesa?
Após a morte dos primeiros peixes, denúncias chegaram rapidamente à polícia local. As autoridades exigiram que o diretor do museu, Peter Meyer, desconectasse imediatamente os aparelhos da eletricidade para impedir mais mortes.
Meyer recusou-se a obedecer, defendendo a liberdade artística como justificativa. A polícia aplicou uma multa de 2.000 coroas dinamarquesas, mas o diretor não pagou e foi levado a julgamento por crueldade animal. Surpreendentemente, o tribunal o absolveu após veterinários testemunharem que os peixes morreram instantaneamente, sem sofrimento prolongado, tornando a morte mais humanitária que métodos convencionais.
Por que especialistas comparam esta obra a experimentos psicológicos famosos?
A instalação de Evaristti guarda semelhanças profundas com estudos clássicos de psicologia social que investigaram os limites do comportamento humano. Pesquisas como o experimento de obediência de Stanley Milgram e a simulação de prisão de Stanford revelaram aspectos perturbadores sobre como situações específicas podem levar pessoas comuns a atos cruéis.
Assim como esses estudos demonstraram que contextos sociais influenciam fortemente as ações individuais, a obra Helena & El Pescador expôs tendências similares. A diferença crítica estava na ausência de autoridade ou pressão direta, revelando elementos relacionados ao seguinte conjunto de fatores:
- Poder sem consequências: a facilidade com que alguns exercem crueldade quando acreditam não haver punição ou responsabilização
- Desindividualização: fenômeno em que pessoas em grupos perdem senso de responsabilidade pessoal por suas ações
- Influência da situação: ambientes específicos podem despertar comportamentos que contradizem valores declarados dos indivíduos
- Desumanização da vítima: facilidade de causar dano quando a vítima é considerada inferior ou menos importante
Abaixo você pode ver um shorts do canal Arthur-Frederick apresentando o experimento:
Qual impacto a obra teve no debate sobre arte e ética?
A instalação dividiu opiniões drasticamente no mundo artístico e acadêmico. Uma pesquisa da CNN revelou que 72% de mais de 30 mil pessoas consultadas não consideravam aquilo arte legítima, enquanto defensores argumentavam que o artista apenas expôs possibilidades sem forçar ninguém a agir.
Organizações de proteção animal destacaram que o mesmo efeito provocativo poderia ter sido alcançado com liquidificadores desconectados, preservando as vidas dos animais. A controvérsia permanece relevante porque levanta questões sobre até onde a arte pode ir na busca por despertar reflexões, e se o fim justifica meios que envolvem sofrimento real de seres vivos, mesmo quando esse sofrimento é minimizado.