Um artista colocou peixinhos dourados em liquidificadores e pediu aos visitantes que os ligassem e eles ligaram

O experimento pretendia revelar aspectos perturbadores sobre a natureza humana, categorizando as pessoas em três perfis distintos

02/12/2025 09:36

Em 2000, uma instalação polêmica no Museu Trapholt, na Dinamarca, chocou o mundo ao permitir que visitantes decidissem o destino de peixes vivos colocados dentro de liquidificadores funcionais. A obra Helena & El Pescador, do artista Marco Evaristti, oferecia aos espectadores um botão amarelo capaz de acionar as lâminas, forçando cada pessoa a confrontar suas próprias escolhas morais.

O experimento pretendia revelar aspectos perturbadores sobre a natureza humana, categorizando as pessoas em três perfis distintos. Ao menos dois peixes foram mortos durante a abertura da exposição, desencadeando debates intensos sobre ética artística e os limites da liberdade de expressão.

Evaristti propôs uma divisão provocativa da sociedade baseada nas reações dos visitantes diante dos liquidificadores
Evaristti propôs uma divisão provocativa da sociedade baseada nas reações dos visitantes diante dos liquidificadores

Como a instalação classificava os diferentes tipos de comportamento?

Evaristti propôs uma divisão provocativa da sociedade baseada nas reações dos visitantes diante dos liquidificadores. Segundo o artista, cada resposta revelaria tendências fundamentais no caráter das pessoas que interagiam com a obra.

A teoria apresentada pelo criador da instalação identificava três categorias principais de comportamento humano diante da situação:

  • O sádico: pessoa que pressiona o botão simplesmente porque pode fazê-lo, exercendo poder destrutivo sem necessidade aparente
  • O voyeur: indivíduo que observa atentamente para ver se outros acionarão o mecanismo, satisfazendo-se com o espetáculo da crueldade alheia
  • O moralista: alguém que se indigna com a mera existência da opção de matar os peixes, protestando contra a situação criada

Qual foi a resposta das autoridades e da justiça dinamarquesa?

Após a morte dos primeiros peixes, denúncias chegaram rapidamente à polícia local. As autoridades exigiram que o diretor do museu, Peter Meyer, desconectasse imediatamente os aparelhos da eletricidade para impedir mais mortes.

Meyer recusou-se a obedecer, defendendo a liberdade artística como justificativa. A polícia aplicou uma multa de 2.000 coroas dinamarquesas, mas o diretor não pagou e foi levado a julgamento por crueldade animal. Surpreendentemente, o tribunal o absolveu após veterinários testemunharem que os peixes morreram instantaneamente, sem sofrimento prolongado, tornando a morte mais humanitária que métodos convencionais.

 

Por que especialistas comparam esta obra a experimentos psicológicos famosos?

A instalação de Evaristti guarda semelhanças profundas com estudos clássicos de psicologia social que investigaram os limites do comportamento humano. Pesquisas como o experimento de obediência de Stanley Milgram e a simulação de prisão de Stanford revelaram aspectos perturbadores sobre como situações específicas podem levar pessoas comuns a atos cruéis.

Assim como esses estudos demonstraram que contextos sociais influenciam fortemente as ações individuais, a obra Helena & El Pescador expôs tendências similares. A diferença crítica estava na ausência de autoridade ou pressão direta, revelando elementos relacionados ao seguinte conjunto de fatores:

  • Poder sem consequências: a facilidade com que alguns exercem crueldade quando acreditam não haver punição ou responsabilização
  • Desindividualização: fenômeno em que pessoas em grupos perdem senso de responsabilidade pessoal por suas ações
  • Influência da situação: ambientes específicos podem despertar comportamentos que contradizem valores declarados dos indivíduos
  • Desumanização da vítima: facilidade de causar dano quando a vítima é considerada inferior ou menos importante

Abaixo você pode ver um shorts do canal Arthur-Frederick apresentando o experimento:

Qual impacto a obra teve no debate sobre arte e ética?

A instalação dividiu opiniões drasticamente no mundo artístico e acadêmico. Uma pesquisa da CNN revelou que 72% de mais de 30 mil pessoas consultadas não consideravam aquilo arte legítima, enquanto defensores argumentavam que o artista apenas expôs possibilidades sem forçar ninguém a agir.

Organizações de proteção animal destacaram que o mesmo efeito provocativo poderia ter sido alcançado com liquidificadores desconectados, preservando as vidas dos animais. A controvérsia permanece relevante porque levanta questões sobre até onde a arte pode ir na busca por despertar reflexões, e se o fim justifica meios que envolvem sofrimento real de seres vivos, mesmo quando esse sofrimento é minimizado.