Mulheres negras no cinema: 16 filmes que você precisa assistir
O blog Cultura em Casa convidou as cineastas Joyce Prado e Renata Martins para indicar títulos importantes na discussão da igualdade racial e de gênero no cinema. Elas são as criadoras do projeto “Empoderadas”, uma websérie que propõe a desconstrução de estereótipos contando histórias de mulheres negras bem-sucedidas em diferentes carreiras.
A lista traz dez longas-metragens indicados por Joyce, lançados a partir de 1995. Entre os destaques está o recente “Selma”, que entrou para a história como o primeiro filme dirigido por uma mulher negra, Ava DuVernay (foto acima), a ser indicado ao Oscar.
Já Renata ressalta na lista seis curtas-metragens brasileiros. A opção por curtas não foi natural, uma vez que não existem longas-metragens dirigidos e roteirizados por mulheres negras no país. Um fator que, segundo a cineasta, “expõe o racismo institucionalizado na cinematografia brasileira”.
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Para Renata, no entanto, esse cenário tem sido alterado por geração de realizadoras negras que recentemente têm pautado a sociedade com trabalhos disponíveis na internet ou em circuitos de festivais. “Talvez o empoderamente esteja na ação de tocar um projeto como diretora”, aponta. A seguir, veja a lista completa com comentários das cineastas.
1. “Selma” (2014)
O filme retrata a campanha de Martin Luther King para a garantir o direito da população negra estadunidense ao sufrágio. Dirigido por Ava DuVernay, o longa concorreu ao Oscar 2015 de Melhor Filme, mas não ao de Melhor Direção. Pessoalmente, não consigo compreender como se realiza um bom filme sem uma boa direção e, como eu, muitos outros veículos criticaram a Academia por conta da falta de indicações às realizadoras que muitas vezes assinavam o roteiro e / ou direção, como demais categorias da premiação, mas não foram indicadas como seus co-criadores homens. Ava DuVernay tem outros dois longas de ficção lançados: “I Will Follow” e “Midlle of Nowhere”, cujas protagonistas são mulheres negras e levantam a discussão do papel da mulher, principalmente dentro de seus núcleos familiares. Ava já se tornou uma referência para as realizadoras negras de cinema pela qualidade de suas produções e por ser a primeira mulher negra diretora a ter um filme indicado ao Oscar.
2. “Night Catches Us” (2011)
O primeiro longa da diretora negra Tanya Hamilton narra os rumos que tomaram dois Panteras Negras após o fim do núcleo no qual estavam envolvidos. O recorte da diretora é inusitado, pois trata sobre os conflitos do passado e como eles continuam a reverberar na vida do casal de protagonistas, quais os bastidores das ações dos Panteras Negras e como alguns núcleos foram desmantelados. O filme conta com boas atuações e diálogos. Infelizmente, ainda, não há previsão para um novo filme da diretora.
3. “American Violet” (2008)
Pra quem acha que a luta da população negra terminou, está muito enganado. Ainda há muitas práticas institucionais de racismo e este filme que conta a história de Dee Roberts demonstra muito bem isso. Jovem, negra e mãe solteira, Dee foi presa por falsas acusações e enfrentou delegado e promotoria para provar sua inocência. A direção retrata esta heróina com respeito e primor, acompanhando-a a todo instante e lhe dando voz através da bela atuação de Nicole Beharie. Ótimo filme pra vermos como os tempos de luta ainda são necessários.
4. “Mother of George” (2013)
Atualmente, ouvimos muito falar de capulanas e tecidos africanos, admiramos suas texturas e estampas e, pouco, nos é apresentado sobre as culturas produtoras destes materiais. O filme “Mother of George” do diretor nigeriano Andrew Dosunmu narra a história de um casal nigeriano que vive em Nova York. Nos apresenta a cultura, as relações familiares e as pressões enfrentadas pelas mulheres desta etnia. O filme possui uma bela direção de arte com a riqueza de combinações de texturas combinada a uma bela fotografia da pele negra. A atuação dos atores é sensível com a delicadeza do trabalhos dos olhares em contraponto às palavras.
5. “Indomável Sonhadora” (2012)
Sou uma admiradora do realismo fantástico no cinema e na literatura e este filme é um dos melhores do gênero. Vemos o mundo através dos olhos da pequena heroína Hushpuppy (Qunvenzhané Wallis). Vemos a tragédia, a esperança, o amor e o desamor; e ao final sonhamos por um mundo onde todos tenham os mesmos direitos garantidos. O diretor do filme, Benh Zeitlin, decidiu realizar a história após a passagem do furacão Katrina no estado da Lousiana, dando voz às pessoas ali esquecidas. Grande parte da equipe era composta por estudantes de cinema e pessoas da própria região que aprenderam sobre diferentes áreas da produção. Alguns festivais não aceitaram a inscrição do filme por não ter uma equipe de profissionais sindicalizados e, curiosamente, o Oscar aceitou e a pequena Qunvenzhané se tornou a atriz mais jovem a concorrer ao Oscar com nove anos por uma atuação que fez aos seis.
6. “Falando de Amor” (1995)
O tema afetividade e amor estão muito em pauta dentre as mulheres negras. Reivindicamos nosso direito de ser amada, deixar de sermos preteridas e passarmos a ser escolhidas admiradas em nossa força e beleza. Este filme que entrelaça a história de quatro amigas, nos faz refletir sobre nossos relacionamentos, ao que nos submetemos e ignoramos em busca do amor. Bela produção, mas que ainda me faz questionar porque não podíamos ter uma mulher na direção? Adoro o Forest Withaker, mas sinto falta de uma mulher negra retratando nossas histórias.
7. “O Julgamento de Viviane Amsalem” (2014)
Filme muito potente em suas atuações e direção, consegue sintetizar em imagem e som o sentimento de Viviane, uma mulher judia que busca o divórcio perante um fórum composto por rabinos em um estado Israelita onde a mulher só se separa a partir da concessão do homem. Nos sentimos na mesma prisão que a personagem, questionamos estes preceitos seculares que inviabiliza a voz da mulher e a coloca abaixo do homem a todo instante. Belo filme e muito contemporâneo as questões atuais do Brasil sobre o direito das mulheres e a religião.
8. “Teta Assustada” (2009)
Muito dificil falar sobre este filme que coloca em pauta tantos temas: machismo, tradição, cultura, colonização…A diretora Claudia Llosa conseguiu através desta narrativa condensar questões muito delicadas da sociedade peruana e, em muitos pontos, latino americana. Filme para questionar o papel da mulher dentro destas sociedades a falta de voz, o medo. É importante compararmos, também, a direção feminina e a masculina como se dá o espaço das mulheres nesses diferentes gêneros de direção.
9. “Família Alcântara” (2006)
O filme conta história da família Alcântara formada por 78 pessoas de etnia bantu (origem da maioria dos africanos escravizados na América), que acreditam descender de povos que foram levados para Minas Gerais em 1760, e postos a trabalhar em plantações. Lilian Solá Santiago foi homenageada em Brasília por ter sido a primeira cineasta negra a ter um filme de média-metragem documental exibido em circuito comercial.
10.“Preciosa” (2009)
De forma crua a personagem de Gabourey Sidibe, Claireece “Preciosa” Jones nos é apresentada de forma quase documental. O racismo, sexismo e gordofobia são elementos que constitui a construção da personagem. É difícil acreditar na curva da personagem que se vê praticamente sem saída, mas que se refugia em seu imaginário para tentar suprir as várias opressões. Segundo a escritora Sapphire, ela deve parte da construção da personagem Preciosa à brasileira Carolina Maria de Jesus, uma catadora de papel semianalfabeta que se tornou best-seller no Brasil nos anos 60. Outra curiosidade é que Oprah foi produtora de set do filme.
Curtas-metragens
“Cores e Botas”, de Juliana Vicente (assista aqui)
Construção cinematográfica: Juliana se utiliza do desejo para construir a personagem principal. Esse desejo de se tornar paquita é tão real que nós, quanto expectadores acabamos por vivenciar o desejo junto com ela. O Ritmo é bom e não há excesso de planos. No entanto não há aprofundamento das questões raciais, visto que os pais da protagonista são alheios à essas questões a acreditam na meritocracia como meio para realizar seus sonhos sem que haja recortes sociais e étnicos.
“A Boneca e o Silêncio”, Carol Rodrigues (saiba mais aqui)
O filme tem uma fotográfica delicada e enquadramentos potentes capazes de universalizar o drama de Marcela. Além disso, não há a exposição desnecessária do corpo da protagonista.
“Kbela”, Yasmim Tayná (saiba mais aqui)
O filme bebe na fonte do cineasta Zózimo Bulbul em especial em Alma no Olho. Kbela é uma poesia visual, cuja a técnica e estética estão alinhadas à linguagem cinematográfica no sentido de nos aproximar dos dramas das protagonistas. Curiosidade: o curta nasceu de um poema da diretora. O projeto foi concebido por várias mulheres negras e traz como uma das protagonistas, Maria Clara Araújo, uma mulher trans.
“Aquém das Nuvens”, Renata Martins (assista aqui)
Inspirado no realismo fantástico, o filme se utiliza de trucagens mecânicas, como as nuvens construídas com mantas acrílicas e modeladas com mousse para cabelo. O curta traz em sua ficha técnicas mulheres como cabeças de equipe, isto é, da direção à finalização, assim como, atribuiu o protagonismo à atores negros.
“Cinzas”, Larissa Fulana de Tal (saiba mais aqui)
Como todo preto favelado,Toni é um universo em crise, e ele não vive um bom dia: ônibus lotado, salário atrasado, exploração no trabalho, descrença nos estudos, falta de grana, contas vencidas, polícia e solidão. As angústias de Toni, semelhantes com as de tantos outros personagens da vida real, são contadas em Cinzas, segundo filme da diretora baiana Larissa Fulana de Tal. O curta foi realizado através do edital curta afirmativo e exibido no festival “Latinidades”, cujo tema de 2015 foi “Mulheres negras no cinema”.
“O Dia de Jerusa”, de Viviane Ferreira (saiba mais aqui)
Bixiga, coração de São Paulo. Jerusa, moradora de um sobrado envelhecido pelo tempo, em um dia especial, recebe Silvia, uma pesquisadora de opinião que circula pelo bairro convencendo as pessoas à responderem questionários para uma pesquisa de sabão em pó. No momento em que conhece Silvia, Jerusa a proporciona uma tarde inusitada repleta de memórias, convidando-a a compartilhar momentos de felicidade com uma “desconhecida”. O filme foi exibido na mostra “Short Film Corner”, um espaço profissional dedicado aos encontros, aos intercâmbios e à promoção do filme curto, paralela à mostra competitiva.